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| - “Conforme dá jeito“, comenta-se num post de 28 de dezembro no Facebook que mostra o aparente contraste entre duas citações atribuídas ao primeiro-ministro António Costa. “Os portugueses guardam más memórias das maiorias absolutas”, terá dito no dia 28 de agosto de 2019. “Quero a maioria absoluta”, terá assumido mais recentemente, no dia 27 de dezembro de 2021.
“Costa, o troca-tintas“, conclui-se no rodapé da imagem. Mas será que tais citações são autênticas e estamos mesmo perante uma contradição?
A primeira citação foi recolhida a partir de uma entrevista de Costa à TVI, no dia 28 de agosto de 2019, a pouco mais de um mês das eleições legislativas que resultariam na sua reeleição como primeiro-ministro.
Questionado então sobre porque é que não pedia uma maioria absoluta aos eleitores, o líder do PS respondeu da seguinte forma: “Eu não dúvidas nenhumas de que os portugueses não gostam de maiorias absolutas. E têm más memórias das maiorias absolutas, seja do PSD, seja do PS. Não vou dizer se é justo ou injusto, é assim. Os portugueses não gostam de maiorias absolutas e têm muitos receios”.
Na mesma intervenção, Costa prosseguiu: “Eu estive oito anos como presidente de Câmara [Municipal]. Fui a três eleições. Numa estava em ultra-minoria. Noutra tinha maioria absoluta na Câmara e estava em minoria na Assembleia Municipal. E na terceira estava em maioria na Câmara e na Assembleia Municipal. E, ao longo daqueles oito anos, o meu relacionamento seja com os outros partidos, seja com a cidade, seja com os cidadãos, seja com os funcionários da Câmara, não se alterou nada, fosse qual fosse a forma de maioria”.
“Não foi pelo facto de termos uma maioria parlamentar que assegurava a aprovação dos Orçamentos [do Estado], na base das posições conjuntas que tínhamos tomado, que nós deixámos de negociar com o PAN, por exemplo, que não era aritmeticamente necessário para fazer maioria. Mas era relevante para que houvesse maioria”, acrescentou.
Quanto à segunda citação, data de 27 de dezembro de 2021, tendo sido recolhida a partir de uma entrevista de Costa à CNN Portugal, a pouco mais de um mês das eleições legislativas agendadas para 30 de janeiro do próximo ano.
O recandidato a primeiro-ministro defendeu que “é fundamental para o futuro do país que haja estabalidade para um Governo para quatro anos“. Questionado sobre se essa estabilidade implica uma “maioria absoluta“, respondeu assim: “É preciso que o PS tenha uma maioria que lhe permita governar quatro anos”.
A jornalista Anabela Neves insistiu várias vezes na palavra “absoluta“, ao que Costa foi respondendo que “sim“, mas evitando verbalizá-la e optando sempre por tergiversar, visivelmente desconfortável. Questionado então sobre se tal palavra “queima”, Costa acabou por ir um pouco mais além: “Não é uma questão de queimar. A maioria é maioria. O que é maioria? É metade mais um“.
Confirma-se assim a autenticidade das duas citações (importa apenas ressalvar que, na mais recente, Costa recusou dizer explicitamente “absoluta”), apresentadas com as datas corretas. E sim, trata-se de uma contradição, ainda que em distintas circunstâncias políticas.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Verdadeiro: as principais alegações do conteúdo são factualmente precisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Verdadeiro” ou “Maioritariamente Verdadeiro” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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