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| - No debate radiofónico que juntou ontem seis dos sete candidatos à Presidência da República (faltou apenas André Ventura), um dos temas em discussão foi o recente acordo entre o PSD e o Chega que permitiu viabilizar um novo Governo na Região Autónoma dos Açores, levando Marcelo Rebelo de Sousa a recordar declarações que terá proferido há quase três anos, supostamente alertando para o crescimento do populismo e do extremismo na sociedade portuguesa.
“Em 25 de abril de 2018, num discurso na Assembleia da República, eu chamei a atenção para o que estava a crescer na sociedade portuguesa, fruto da incapacidade de uma parte do sistema político responder à necessidade do equilíbrio em termos de alternativa política em Portugal. E os movimentos sociais que também estavam a surgir e que não eram integrados pelas confederações patronais e sindicais. As pessoas não levaram muito a sério, era já visível desde 2017, ia subindo, subindo como aqui foi dito, fruto de lacunas, fraquezas, soluções insuficientes para resolver problemas dos portugueses. É verdade, é verdade”, afirmou Rebelo de Sousa, recandidato à Presidência da República.
De facto, na cerimónia de comemoração do 44º aniversário da “Revolução dos Cravos”, na Assembleia da República, a 25 de abril de 2018, o Presidente da República defendeu a necessidade de renovação do sistema político, alertando contra o que classificou como “messianismos de um ou de alguns”.
“A capacidade de renovação do sistema político e de resposta dos sistemas sociais, de antecipação de desafios, de prevenção de erros ou omissões, de permanente proximidade dos cidadãos e dos seus problemas, é essencial. Para evitar fenómenos de lassidão, de contestação inorgânica e anti-sistémica e de cepticismo contra os partidos e os parceiros económicos e sociais. Isto sendo certo que, numa democracia viva, os mais decisivos dos políticos são e devem ser os cidadãos. Não minimizemos que os vazios que venham a ser deixados pelos protagonistas institucionais alimentarão tentações perigosas de apelos populistas e até ilusões sebastianistas, messiânicas ou providencialistas“, declarou então Rebelo de Sousa.
“Ora, mesmo que esses apelos e ilusões acreditem que o poder forte sonhado, seja ele de uma pessoa, de um partido, de um grupo económico, de um parceiro social, de uma instituição público-privada, é compatível com a democracia, certo é que a deriva resultante seria sempre não democrática“, sublinhou.
Na mesma intervenção, o Presidente da República salientou que a democracia “supõe um equilíbrio de poderes, feito de pesos e contrapesos”, e que é esse mesmo sistema “que permite, mesmo nas democracias mais antigas, moderar tropismos para lideranças populistas na forma ou no conteúdo“. Na sua perspetiva, “no dia em que se rompesse o equilíbrio de poderes que a Constituição chama separação e interdependência de poderes, estaria-se a entrar em terreno perigosíssimo, propício ao deslumbramento, ao autoconvencimento, à arrogância, ao atropelo da própria Constituição, das leis e dos direitos das pessoas“.
“Não confundimos o patriotismo de que nos orgulhamos com hipernacionalismos claustrofóbicos, xenófobos que nos envergonhariam. Nem confundimos o prestígio ou a popularidade mais ou menos conjuntural de um ou mais titulares do poder com endeusamento ou vocação salvífica“, garantiu.
“Celebrar o 25 de abril em Portugal de 2018 é também aprender a prevenir os trilhos que conduzem a caminhos que todos sabemos indesejáveis. (…) Os messianismos de hoje – são experiências alheias que o demonstram – escondem-se por detrás das aparências democráticas, utilizam mais eficazes poderes mediáticos, têm contornos mais sedutores, mesmo se continuam a prometer caminhos impossíveis, a alimentar ilusões irrealizáveis, a sacrificar liberdades essenciais, a consagrar monopólios da verdade”, concluiu Rebelo de Sousa.
Confirma-se assim a veracidade da alegação em causa.
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Avaliação do Polígrafo:
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