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| - A imagem aparece ligeiramente desenquadrada, mas fica claro que se trata de um frame onde o líder da comunidade do Bangladesh em Lisboa está a falar na SIC Notícias. Salta à vista um oráculo com uma frase atribuída a Rana Taslim Uddin: “O Partido Socialista prometeu-nos apoio em troca de votos.” O tipo de fonte da citação chama, desde logo, a atenção por não ser igual ao que é utilizado por aquele canal noticioso e — após consultar as imagens da SIC Notícias daquele dia — o Observador confirma que a frase é falsa. Trata-se de uma montagem.
A imagem circulou por várias páginas de Facebook, Instagram e Tik Tok logo nos últimos dias de dezembro de 2024 e primeiros dias de janeiro de 2025 e continua a ser recuperada por várias páginas. Foi isso que aconteceu num reels numa página do Instagram que o Observador aqui verifica e que não só publicou o falso frame como acrescentou a frase: “Por isso é que os querem cá, não interessa o bem estar do povo, mas sim do seu umbigo”. Ou seja: a página não se limita a amplificar o conteúdo falso, como ainda acusa o PS de ser a favor dos imigrantes em troca de promessas de votos. Para ornamentar o conteúdo, ainda é colocado o excerto de uma música do compositor brasileiro Bezerra da Silva com letra e título sugestivo: “Malandro é Malandro.”
A conta em causa tem mais de 37,6 mil seguidores e promete, na apresentação de página, disponibilizar “Os melhores vídeos de Política Nacional” e “Vídeos todos os dias”. Só nesta publicação tinha, no momento de publicação deste fact check, 42 gostos, 36 comentários e 63 partilhas. A mesma imagem falsa foi partilhada por utilizadores do Facebook.
Avancemos, então, para o conteúdo. A entrevista foi realizada no dia 27 de dezembro de 2024, no Jornal do Dia, da SIC Notícias, na sequência da operação no Martim Moniz. A jornalista Teresa Dimas faz várias perguntas a Rana Taslim Uddin, começando precisamente por perguntar se alguma vez tinha visto uma operação policial com aquelas características, ao que o entrevistado respondeu que foi “a primeira vez” que assistiu a algo do género, embora destaque que não sabe se antes de chegar a Portugal (em 1991) já tinha ou não acontecido.
A entrevista decorre entre as 18h51 e as 19h02 desse mesmo dia, e em momento algum Rana Taslim Uddin fala sequer do PS. No momento captado pela publicação adulterada, o que estava em oráculo por baixo era a informação de que “PSP não vai abrir inquérito interno”. Mesmo os restantes oráculos durante os cerca de 11 minutos de entrevista nada têm a ver com ligações ao PS, nem tampouco são citações de Uddin: “Inspeção-Geral abriu processo administrativo”; “Primeiro-ministro reafirma que foi preventiva”; “MAI nega qualquer interferência do Governo”; e, por último, “Críticos vão fazer queixa à provedoria de Justiça”.
O mesmo se pode verificar com mais clareza num frame desse mesmo momento:
O próprio Rana Taslim Uddin fez uma publicação no Facebook a partilhar a entrevista na íntegra, alertando que o conteúdo foi adulterado e difundido pelo que chamou de “partido terrorista”. O líder da comunidade do Bangladesh destacava ainda que “não foi uma entrevista sobre política”, mas uma “expressão emocional em nome da comunidade”.
Isto não significa que Rana Taslim Uddin não tenha ligações ao PS. Aliás, como se pode comprovar nesta ata, o líder da comunidade do Bangladesh foi mesmo eleito do PS e chegou a representar o partido na Assembleia de Freguesia de Santa Maria Maior. Isto significa que integrou a mesma lista do atual presidente da junta de freguesia, o socialista Miguel Coelho — que tem sido dos mais críticos da ação da PSP. Circularam igualmente imagens, nesse caso verdadeiras, de Rana a almoçar com o líder do PS, Pedro Nuno Santos. A proximidade ao PS não torna, no entanto, as declarações que constam da publicação verdadeiras.
Conclusão
Rana Taslim Uddin foi, de facto, à SIC Notícias no dia 27 de dezembro dar uma entrevista de cerca de 11 minutos sobre a operação policial no Martim Moniz. O momento é real, mas o oráculo que acompanha o frame (com a expressão “O Partido Socialista prometeu-nos apoio em troca de votos”) é falso e foi colocado por cima da imagem original. O líder da comunidade do Bangladesh tem ligações próximas ao PS e até já foi eleito pelo Partido Socialista na junta de freguesia, mas não há registo que alguma vez tenha dito que o partido prometeu apoio em troca de votos. Mais certo do que isso: nunca o disse ao longo daquela entrevista, e mesmo o oráculo — que foi mudando ao longo dos 11 minutos — nunca teve essa citação.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
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