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| - Em entrevista à RTP, Fernando Medina justificou, esta quinta-feira, o seu “sim” ao convite para integrar a lista de membros da comissão de honra de Luís Filipe Vieira (LFV), na última recandidatura à presidência do Benfica, com o “desconhecimento” de factos que pudessem fragilizar o dirigente benfiquista no exercício das suas funções. O presidente da Câmara Municipal de Lisboa procurou sustentar que apoiou Vieira “num pressuposto de reconhecimento por um trabalho feito no âmbito desportivo e também no desconhecimento de qualquer ilegalidade que comprometesse o desempenho de funções”.
A declaração sugere que, no momento em que Fernando Medina aceitou integrar a comissão de honra de Luís Filipe Vieira (e esse dado foi conhecido a 11 de setembro, revelado pelo semanário Expresso), não havia informação pública sobre “qualquer ilegalidade” praticada pelo dirigente benfiquista que pusesse em causa as funções que desempenhava no clube. Para analisar essa declaração, é importante comparar o que se sabe hoje — e o que está em causa na operação Cartão Vermelho — com o que se sabia há pouco menos de um ano.
Luís Filipe Vieira foi detido esta quarta-feira, 7 de julho, por suspeitas de, enquanto presidente do clube da Luz, ter desviado cerca de 2,5 milhões de euros das contas do Benfica para pagar créditos pessoais antigos e para comprar terrenos de empresas do seu grupo empresarial, entre as quais a Inland.
Os detalhes da investigação: Vieira suspeito de ter desviado 2,5 milhões do Benfica para pagar créditos e terrenos das suas empresas
Como o Observador já explicou, a extensa lista de crimes de que é suspeito — e que vão do abuso de confiança à burla qualificada, falsificação, fraude fiscal e branqueamento — está relacionada com compra de imóveis e com a venda de três jogadores sul-americanos: Derlis González e Cláudio Caniz (ambos paraguaios) e César Martins (brasileiro). O Ministério Público suspeita de que 1) parte das mais-valias geradas por essas transferências e 2) a compra de imóveis ao grupo de Vieira por parte da International Sports Fund, Ltd e da Astro Sports Management (sociedades do empresário Bruno Macedo, também detido no âmbito desta investigação) resultaram num prejuízo para o Estado e para o próprio clube.
Depois de circular por entidades offshore, as comissões da venda dos jogadores acabaram por ser canalizadas para a amortização de dívidas do grupo empresarial do Luís Filipe Vieira. Por outro lado, as empresas de Macedo compraram uma série de imóveis ao grupo do presidente benfiquista. Sendo que esse esquema teria por base um acordo entre Vieira e Macedo, na ótica da investigação. Tudo isto faz parte da chamada Operação Cartão Vermelho, que teve as primeiras repercussões públicas esta semana.
Ora, Fernando Medina alega que, a 11 de setembro, não havia conhecimento de “qualquer ilegalidade que comprometesse o desempenho de funções”. Mas, se recuarmos apenas um par de meses em relação a essa data, encontramos na comunicação social referências diretas a Luís Filipe Vieira e a investigações da Justiça ao presidente do Benfica, nomeadamente no que diz respeito à Operação Lex. Essa notícia foi avançada pela TVI no início de julho.
Mas, mais do que isso: no âmbito dessas investigações, Vieira já não era apenas um suspeito — condição em que foi detido esta semana: era acusado da prática do crime de recebimento indevido de vantagem. Depois da TVI, era a vez do DN (a 5 e, novamente, a 18 de setembro). Uma semana antes de ser tornado público que o nome do autarca (e do de António Costa) integraria a comissão de honra de Vieira, o diário voltava a colocar o nome do dirigente benfiquista no rol de acusados da Operação Lex que a procuradora Maria José Morgado se preparava para fechar.
E o que estava em causa nesse processo? LFV foi acusado de, beneficiando da sua condição de presidente do Benfica, ter prometido cargos (no próprio clube ou na universidade do clube, a instalar no Seixal) e de ter oferecido lugares na tribuna VIP do Estádio da Luz para assistir a jogos, além de financiar viagens ao estrangeiro para Rangel acompanhar a equipa. Benefícios que terão servido de contrapartida para uma interferência de Rangel num outro processo, no Tribunal de Sintra, em que estava em causa uma dívida de 1,6 milhões de euros do universo empresarial do dirigente benfiquista, impugnada por Vieira e a aguardar desenvolvimentos da Justiça nessa altura.
No caso da Operação Lex, a acusação — a primeira de que LFV era alvo desde que assumiu a presidência do Benfica — só seria formalmente divulgada a 18 de setembro. E, nesse momento, já Fernando Medina e António Costa tinham visto os nomes excluídos da lista de figuras da comissão de honra de Vieira por decisão do próprio dirigente desportivo. Mas pelo menos desde o início de 2018 que era pública a informação de que Vieira tinha sido constituído arguido no âmbito dessa investigação, depois de ter sido alvo de buscas judiciais.
Nesse mesmo ano, o Benfica foi também alvo de buscas, que voltariam a acontecer em 2020 e no âmbito das quais Luís Filipe Vieira seria constituído arguido, por suspeitas da prática do crime de fraude fiscal. As diligências decorreram no decurso da operação Saco Azul e visaram o clube e empresas de prestação de serviços de consultoria informática. No comunicado divulgado ainda em 2018, a Procuradoria-geral Distrital de Lisboa resumia as buscas desta forma:
Indicia-se suficientemente nos autos que estas sociedades, a coberto de uma suposta prestação de serviços de consultoria informática, realizaram várias transferências bancárias para uma conta titulada por uma outra sociedade, num valor total de 1.896.660,00€, montantes esses que acabavam depois por ser levantados em numerário. Esta última sociedade terá sido utilizada com o único propósito de retirar dinheiro das contas do Benfica.”
Nos últimos anos, houve outras investigações que visaram a instituição e que motivaram a realização de buscas às instalações do clube e ao próprio presidente, ainda que não se tenham traduzido na constituição de Vieira como arguido.
Conclusão
A afirmação de Fernando Medina não corresponde à verdade. O presidente da Câmara Municipal de Lisboa alega que em setembro de 2020, quando foi tornado público que era um dos membros da comissão de honra de Luís Filipe Vieira — que se recandidatava à presidência do Benfica —, não havia informação pública sobre “qualquer ilegalidade que comprometesse o desempenho de funções” do dirigente benfiquista.
Nesse momento, já se sabia que Vieira tinha sido constituído arguido no âmbito do processo Saco Azul; e também já se sabia que estava prestes a ser formalmente acusado na Operação Lex. Em ambos os casos, trata-se de processos que investigam suspeitas sobre atos cometidos por Luís Filipe Vieira enquanto presidente do Benfica.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
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