schema:text
| - Questionada sobre se o Padrão dos Descobrimentos “deve ser destruído”, em entrevista ao jornal “Público” (edição de 4 de março), Beatriz Gomes Dias, ex-deputada à Assembleia da República e atual vereadora do Bloco de Esquerda na Câmara Municipal de Lisboa, respondeu da seguinte forma:
“Considero que é importante que os mitos em torno do Padrão dos Descobrimentos sejam desmontados. O Padrão dos Descobrimentos não é uma peça artística que está colocada na Praça do Império desde sempre. Foi construído em 1940 para a Exposição do Mundo Português.
E o que é que foi a Exposição do Mundo Português? Foi uma feira onde foram mostradas pessoas que foram trazidas dos países do continente africano ocupados por Portugal. Essas pessoas foram mostradas como se de animais se tratasse. E as pessoas foram vê-las como nós vamos ao jardim zoológico ver leões e ver elefantes.
É esta a história do Padrão dos Descobrimentos. Não é um monumento inofensivo que retrata uma gesta inofensiva. Não. É um monumento que está inscrito numa história de violência, de exploração e de subjugação de populações”.
Tem razão no que concerne às “pessoas que foram trazidas dos países do continente africano” e “mostradas como se de animais se tratasse”?
Realizada em 1940, em plena ditadura do “Estado Novo” sob a liderança de António de Oliveira Salazar, a “Exposição do Mundo Português” tinha uma “secção colonial” no denominado “Jardim Colonial” (atual “Jardim Botânico Tropical”), na zona de Belém, em Lisboa.
Em recente artigo no jornal “Público” sobre a origem e evolução da Praça do Império ao longo dos tempos, a par da envolvente zona ribeirinha de Belém, o historiador António Araújo refere-se precisamente ao “‘Jardim Botânico Tropical’, outrora ‘Jardim Colonial’, ou ‘do Ultramar’, criado em 1906 e que em 1940 albergou zoos humanos, bijagós e jacarés, entre outros exotismos“.
Por outro lado, num documentário da RTP (datado de 2012) sobre a “Exposição do Mundo Português”, relata-se que “na secção colonial, instalada no ‘Jardim Colonial’, estavam os pavilhões das colónias portuguesas e recriações da vida nas colónias, com palhotas a representar cada um dos países colonizados por Portugal”.
“Esta secção era bastante original, pois estavam presentes religiosas missionárias, envergando os hábitos, e nativos de todas as colónias portuguesas, executando atividades artesanais. Registou-se ainda a presença do próprio rei do Congo que, acompanhado da família, esteve instalado numa moradia confortável no ‘Jardim Colonial'”, descreve-se.
Num artigo de 2020 do jornal “Diário de Notícias” encontramos mais detalhes que apontam no mesmo sentido, consubstanciando a alegação de Gomes Dias, nomeadamente quando se realça que “nada ultrapassou o sucesso que o modo de vida das populações africanas provocou nos visitantes”.
“Tudo contado e mostrado de um modo que hoje causaria uma polémica nacional que impediria a sua inauguração: era as cubatas onde viviam, como transformavam os cereais, os utensílios para trabalhar e as roupas com que se vestiam… ou despiam, pois o maior impacto – e sucesso da ‘Exposição do Mundo Português’ – esteve no ‘Guia Oficial da Secção Colonial’, onde duas mulheres naturais das colónias faziam parte do cenário idílico com que se imaginavam aqueles povos e só cobriam parte do corpo. Os seios africanos correram o país, quanto mais não fosse nos postais que reproduziam este pormenor de um setor da exposição”, recorda-se, exibindo mesmo uma imagem do referido “Guia Oficial”, com duas mulheres africanas semi-nuas em destaque.
____________________________
Avaliação do Polígrafo:
|