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| - “Abaixo na foto está um campo de lítio no Chile”, descreve-se na publicação de 12 de agosto no Facebook (originalmente em esloveno). “Se um pássaro pousa numa dessas ‘piscinas’ morre por contacto, uma vez que o lítio é uma neurotoxina. O Chile, que é o segundo maior produtor de lítio do mundo, está a lutar com problemas de abastecimento de água (ou seja, não tem água potável), porque a água é utilizada para produzir baterias de lítio para carros elétricos e dispositivos móveis“, informa-se.
Mais precisamente, “duas mil toneladas de água são utilizadas para obter uma tonelada de lítio. Além do lítio, as baterias para carros elétricos também contêm cádmio, mercúrio e chumbo (e muitas outras substâncias)”, acrescenta-se. Daqui surge a principal dúvida: avançar para a substituição total de automóveis com motor de combustão interna por veículos elétricos vai “reduzir ou piorar a poluição”?
Mais, “onde vamos descartar as baterias usadas de carros e telefones? Em que aterro, em que país, em que continente, em que oceano, em que planeta? Têm noção de como uma bateria de carro velha vai poluir todos os seres vivos? E para sempre?”.
A ideia de que os veículos elétricos poluem mais do que os automóveis a gasolina ou gasóleo tem sido recorrentemente difundida nas redes sociais. Aliás, já por várias vezes o Polígrafo esclareceu algumas dúvidas, nomeadamente sobre a duração das baterias ou a emissão de CO₂. No caso concreto do Chile, porém, a situação é diferente. O Polígrafo explica porquê.
Situado na costa ocidental da América do Sul, o Chile é o segundo maior produtor de lítio do mundo, de acordo com dados de 2021. É ultrapassado somente pela Austrália. Na tabela, depois do Chile destacam-se a China, Argentina, Brasil, Zimbabué e Portugal.
O Chile faz ainda parte daquele que é conhecido como o “Triângulo do Lítio”, em conjunto com a Argentina e a Bolívia, três países que detêm mais de metade das reservas mundiais de lítio. O interesse em extrair este metal atraiu várias empresas de mineração a estas zonas, com particular enfoque num lago situado no nordeste do Chile, “Salar de Atacama”, onde se estima que esteja quase 30% de todo o lítio existente ao nível mundial.
Mas e se as operações de mineração em torno deste lago pudessem ameaçar a vida de duas espécies de flamingos? É isso que sugere um estudo recente, da “The Royal Society”, com o seguinte título: “Mudanças climáticas e mineração de lítio influenciam a abundância de flamingos no Triângulo do Lítio”. De acordo com os investigadores responsáveis pelo estudo, as populações de flamingos no “Salar de Atacama” diminuíram 10% a 12% apenas entre 2002 e 2013.
É altura de passar à segunda fase da investigação. Afinal, a imagem divulgada retrata mesmo um campo de extração de lítio? O Polígrafo recorreu à ferramenta de pesquisa inversa “TinEye” e chegou à conclusão de que esta fotografia é autêntica e pertence a Tom Hegen, que fez uso da mesma para ilustrar a primeira parte de um estudo sobre o lítio.
Na página do do fotógrafo (de nacionalidade alemã) salienta-se que “a produção de lítio através de lagoas de extração utiliza muita água. Cerca de 21 milhões de litros por dia. São necessários aproximadamente 2,2 milhões de litros de água (ou seja, cerca de duas mil toneladas) para produzir uma tonelada de lítio”.
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