schema:text
| - Na fotografia podem ver-se crianças, alguns veículos capotados e prédios cujas janelas estão intactas. Por se assemelhar a um jogo do “intruso”, utilizadores das redes sociais partilharam esta imagem milhares de vezes nas últimas semanas, escrevendo ironicamente que queriam “comprar janelas ucranianas”, devido à sua aparente resistência. Mas a fotografia, que foi tirada na cidade ucraniana de Bucha, não mostra que houve manipulação por parte dos ucranianos de forma a fingir qualquer devastação provocada pela guerra.
“O ‘míssil russo’ vira carros e destrói a rua, mas as janelas dos edifícios não partiram e não se sujaram com a poeira. Mais uma peça de ‘fake news’ da propaganda do neonazi Zelensky”, lê-se em tweet de 2 de maio.
Uma pesquisa reversa da imagem revela que esta foi tirada por Rodrigo Abd para a agência de notícias americana “Associated Press”, que divulgou, de resto, um vídeo gravado no mesmo local. A legenda da foto é a seguinte: “Um soldado ucraniano caminha com crianças, passando por carros destruídos devido à guerra contra a Rússia, em Bucha, nos arredores de Kiev, Ucrânia. Segunda-feira, 4 de abril de 2022.”
A mesma imagem foi compartilhada nas redes sociais, a 6 de abril, pelo Ministério da Defesa ucraniano. No entanto, não é feita qualquer ligação entre o cenário e uma suposta bomba russa, utilizando a imagem para ilustrar apenas uma mensagem de Volodymyr Zelensky, em que o presidente ucraniano pedia a restituição das fronteiras ucranianas. Desta forma, pode desde já concluir-se que a Ucrânia não utilizou a referida imagem com automóveis capotados para inferir um qualquer bombardeamento russo na zona.
De acordo com a “Agence France Presse“, que analisou este registo, o edifício em causa (que contém as janelas intactas), está localizado numa praça cercada pelas ruas Tsentralna, Sadova, Vodoprovidna e Yablunska. Segundo Olena Trusz, gerente de uma empresa médica localizada nesse mesmo edifício, o quarto andar “foi ocupado por soldados russos” durante um mês, bem como muitos dos apartamentos:
“A maioria dos apartamentos está completamente destruída. Os soldados dormiam aqui, bebiam álcool e usavam as minhas coisas… Mas não há sinais de explosões em redor do prédio.”
Na verdade, e como mostram vídeos feitos por drones entre 28 e 30 de março, os carros observados na fotografia já estavam completamente capotados nessa altura. Essas imagens foram publicadas, à data, pelo diretor da “Bellingcat“, Eliot Higgins, e, de acordo com o órgão independente de origem russa “Meduza“, as imagens do drone pertencem a um combatente bielorrusso ligado a grupos neonazis, Serhii Korotkykh.
|