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| - Recentes declarações de Joe Biden, presidente dos EUA, relativamente à possibilidade de obrigar à vacinação contra a Covid-19 as forças armadas americanas motivaram uma série de críticas por parte dos oponentes à vacinação obrigatória. Mas, se por um lado, há quem questione a eticidade desta decisão, outros relembram o que determinou George Washington em 1777, aquando dos surtos frequentes de varíola durante a Guerra da Independência dos Estados Unidos.
Publicações identificadas pela plataforma de verificação de factos “Politifact” afirmam que “George Washington exigiu vacinas contra a varíola para o Exército Continental”.
“Conseguem imaginar se os soldados dele [George Washington] agissem como o GOP [“Grand Old Party”, expressão americana utilizada para se referir ao Partido Republicano]?”, questiona-se num tweet de 29 de julho, que divulga uma montagem do ex-presidente americano, montado num cavalo, a par com a alegação supracitada.
De acordo com a Biblioteca Nacional Fred W. Smith para o Estudo de George Washington, em Mount Vernon, citada pelo Politifact, Washington e o Exército Continental “enfrentaram uma ameaça que se mostrou mais mortal do que os britânicos durante os primeiros anos da Guerra Revolucionária – a varíola”.
“Surtos raros e incerteza relativa à inoculação fizeram com que as tropas de Washington se tornassem especialmente suscetíveis à doença. Depois de várias perdas em Boston e em Quebec, Washington implementou a primeira política de imunização em massa da história americana”, ainda segundo a biblioteca.
A ordem foi emitida a 5 de fevereiro de 1777, por George Washington, numa carta escrita a John Hancock, ex-presidente do Segundo Congresso Continental: Washington queria inocular todas as tropas americanas. Numa outra carta, o então comandante-chefe do Exército Continental ordenou ainda que todos os recrutas chegados à Filadélfia fossem também eles inoculados.
“Sabendo que a varíola se tem vindo a espalhar muito e temendo que nenhuma precaução a possa impedir de atingir todo o nosso exército, determinei que as tropas devem ser inoculadas”, lê-se na carta acima mencionada, recuperada pelo Politifact. “Este recurso pode apresentar alguns inconvenientes e algumas desvantagens, mas, ainda assim, acredito que as suas consequências terão os melhores efeitos. A necessidade não apenas autoriza, mas parece exigir que a medida seja tomada, uma vez que se a desordem contagiar o exército de maneira natural, devemos teme-la mais do que a espada do inimigo.”
Desta decisão resultou o facto de, no final do ano de 1777, cerca de 40.000 soldados estarem inoculados contra a doença: mas é importante olhar para o termo. Falamos de inoculação e não de vacinação. Porquê?
George Washington, de forma a não debilitar o exército, tinha inicialmente ordenado que ninguém fosse inoculado, uma vez que isso obrigaria os soldados a serem infetados com uma forma menos mortal de varíola, um método denomidado variolação. Trata-se da inoculação de uma varíola benigna, cujo propósito é evitar que o indivíduo seja infetado posteriormente com uma varíola mais grave.
“Mas inocular recrutas assim que se alistavam significava que eles contraíam a forma mais branda da doença ao mesmo tempo que estavam a ser preparados para a guerra, e que estariam curados quando saíssem para se alistar no exército, de acordo com a biblioteca”, escreve o Politifact, no artigo de 30 de julho.
A variolação não perdurou no tempo e foi eventualmente substituída pelo processo de vacinação, quando em 1796 o inglês Edward Jenner, médico, percebeu que a exposição à varíola bovina poderia ser utilizada como forma de proteger as pessoas contra a varíola, tendo assim desenvolvido uma vacina.
Em suma, é quase correto afirmar que George Washington ordenou a vacinação contra a varíola para o Exército Continental. Na verdade, isto teria acontecido se, à data, existisse uma vacina contra a varíola, o que não é verídico. Enquanto comandante-chefe do Exército Continental, Washington ordenou a inoculação das tropas contra a varíola fazendo uso dos meios então disponíveis: a variolação.
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Avaliação do Polígrafo:
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