schema:text
| - É mais uma acha para a fogueira que vai ardendo com grande intensidade na relação bilateral entre os Estados Unidos da América (EUA) e o Irão. Depois do ataque, ordenado por Donald Trump, que matou o general Qassem Soleimani, e da resposta do país do Médio Oriente com lançamentos de mísseis às bases norte-americanas no Iraque, surge agora uma ofensiva desmaterializada que pode, no entanto, revelar-se como muito poderosa: uma fotografia, na qual o antigo chefe de Estado norte-americano, Barack Obama, aperta a mão ao atual presidente do Irão, Hassan Rouhani.
A imagem não teria problema algum caso as rivalidades entre os dois países fossem recentes. No entanto, o clima de crispação entre as nações já tem décadas, tendo atravessado, também, o mandato de Obama.
A fotografia foi publicada pelo republicano Paul Gosar, na conta pessoal de Twitter, no dia 6 de janeiro, com a seguinte legenda: “O mundo é um lugar melhor sem estes homens no poder“. Além do ataque verbal ao líder iraniano, a publicação tem uma mensagem direcionada aos democratas, apontando-os como traidores e como responsáveis pelo mal no mundo.
Claro está que não foi preciso muito tempo para que o retrato se tornasse viral. Ainda assim, nem sempre uma imagem vale por muitas palavras.
Em primeiro lugar, terá saltado à vista daqueles que têm uma maior acuidade linguística, o facto de Gosar falar no presente, como se o presidente do Irão já não estivesse no poder. É certo que Obama já não está, mas Rouhani sim, de pedra e cal, desde 2013. Em segundo lugar, há que não esquecer que a imagem foi publicada por um opositor de Obama e, sendo verdadeira ou não, nunca deixará de ser um ataque aos democratas. Em terceiro lugar, é importante confirmar as suspeitas: a fotografia é falsa, não passa de uma manipulação informática.
De acordo com o site de verificação de factos Snopes, Barack Obama e o presidente do Irão nunca se encontraram pessoalmente durante o mandato do democrata. A fotografia resulta da alteração de uma outra, de 2011, na qual Obama cumprimenta um líder político, mas não do Irão. Na verdade trata-se do primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, num encontro que tinha como objetivo discutir leis de responsabilidade nuclear.
Depois de a fotografia ser identificada como falsa, Paul Gosar não demorou muito tempo a reagir, também no Twitter: “Para os repórteres estúpidos (…) ninguém disse (que a fotografia) não era resultado de uma manipulação no Photoshop. Ninguém disse que que o presidente do Irão estava morto. Ninguém disse que Obama se encontrou cara a cara com Rouhani”.
Ainda assim, o republicano prossegue o ataque ao ex-presidente dos EUA: “A questão é relevante para todos, menos para os mais estúpidos: Obama mimava, apaziguava, nutria e protegia o principal patrocinador do terrorismo no mundo. O mundo está melhor sem Obama como presidente. O mundo ficará melhor sem Rouhani“.
Importa esclarecer que os “mimos” e a “proteção” a que Gosar se refere dizem respeito ao acordo que Obama assinou com o Irão em 2015, com o objetivo de restringir a capacidade do país do Médio Oriente em desenvolver armas nucleares. Depois da assinatura do pacto, o país desligou dois terços das centrifugadoras nucleares e praticamente dissipou os recursos que lhe permitiriam construir uma bomba que, antes do acordo, demoraria muito poucos meses a ser finalizada.
Na sequência da assinatura do documento, a economia iraniana cresceu 12,5%. Mas em 2018 Donald Trump rasgou o pacto com o Irão, por ter prometido reverter as principais medidas implementadas pela Administração Obama, mesmo com mais de 60% dos norte-americanos (de acordo com sondagens) a quererem a continuidade da vigência do acordo com o Irão.
Avaliação do Polígrafo:
|