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| - “Qual é a bitola? Basta ter mais do que os 31,4% de 2014?
A bitola é ganhar as eleições e ganhar de uma forma clara.
Isso dizia António José Seguro há cinco anos…
Percebo a sua curiosidade em querer métricas, mas a minha resposta é ‘ganhar e ganhar de forma clara’.
António Costa assumiu que era preciso um resultado melhor do que em 2014.
Comprometo-me a lutar por ganhar as eleições de forma clara. Claro que não quero ganhar por ‘poucochinho’.
Seguro não ganhou de forma clara?
Parece-me evidente que não”.
Este é um breve excerto da entrevista de Pedro Marques ao jornal “Expresso”, publicada na edição de 19 de abril. O ex-ministro do Planeamento e das Infraestruturas e atual cabeça-de-lista do PS às eleições europeias deste ano assumiu o objetivo de “ganhar de uma forma clara” e não por “poucochinho“. Questionado sobre se António José Seguro “não ganhou de forma clara” as eleições europeias de 2014, Marques não deixou margem para dúvidas: “Parece-me evidente que não“.
É verdade que Seguro “não ganhou de forma clara” as eleições europeias de 2014, quando liderava o PS então remetido à oposição no Parlamento?
Importa começar por recordar que essa foi a tese defendida por António Costa, em 2014, para desafiar a liderança de Seguro. Nessa altura, o então presidente da Câmara Municipal de Lisboa disse que o PS tinha ganho por “poucochinho” (uma expressão que tem sido muito lembrada nos últimos meses, a caminho das eleições europeias agendadas para o dia 26 de maio), justificando assim a sua decisão de avançar contra o líder do partido, a cerca de 16 meses das eleições legislativas de 2015. Marques reitera essa tese agora, mas vai ainda mais longe ao dizer que Seguro “não ganhou de forma clara“.
Ora, nas eleições europeias realizadas em maio de 2014, o PS, então liderado por Seguro, obteve 31,46% dos votos expressos (pode consultar aqui os resultados oficiais), traduzindo-se na conquista de oito mandatos no Parlamento Europeu. Na segunda posição quedou-se a coligação PSD/CDS-PP, com 27,71% dos votos expressos e sete mandatos. Ou seja, o PS derrotou a coligação PSD/CDS-PP por cerca de quatro pontos percentuais (3,75%, mais exatamente), elegendo mais um eurodeputado (oito no total) do que o PSD e o CDS-PP juntos (sete no total).
A partir destes números conclui-se que a vitória do PS foi clara, superando por uma margem considerável os dois partidos que estavam no Governo, apoiados por uma maioria absoluta no Parlamento. Mais, nas anteriores eleições europeias, em 2009, o PS (então liderado por José Sócrates) só tinha conquistado 26,58% dos votos e sete mandatos, ficando a grande distância do vencedor, o PSD (sozinho), com 31,71% dos votos e oito mandatos. Além de ter ganho de forma clara em 2014, o PS de Seguro melhorou substancialmente o resultado obtido nas eleições europeias anteriores.
Aliás, curiosamente, em entrevista ao jornal “Eco” publicada no mesmo dia (19 de abril), Marques afirmou que “o PSD optou por recandidatar um anterior cabeça-de-lista derrotado” nas eleições europeias de 2014. Em contradição com o que disse na entrevista ao jornal “Expresso” sobre a vitória do PS de Seguro.
Além desta falsidade já identificada, há mais uma passagem da entrevista de Marques ao “Expresso” que levanta muitas dúvidas a vários leitores do Polígrafo e a qual passamos a transcrever:
“Como interpreta a tendência registada nas sondagens, que dá o PS em perda consecutiva e o PSD a crescer?
Não há uma tendência de descida. Há um PSD que não existia, que chegou a estar abaixo dos 20% quando andavam aos tiros uns aos outros. Agora, há um PSD que recuperou a normal influência junto do seu eleitorado. Mas não existem propostas do PSD para estas eleições. Só insultos e falsidades. Essa é a minha grande frustração”.
No que respeita à afirmação segundo a qual o PSD “chegou a estar abaixo dos 20%” nas sondagens, já demonstrámos aqui que não é verdade. Na página da Marktest é possível aceder a um arquivo das sondagens realizadas em Portugal (pela Aximage, Eurosondagem, CESOP/Universidade Católica, entre outras) desde meados de 2009. Consultando-o verifica-se que o PSD nunca se aproximou sequer dos 20% de intenções de voto em sondagens desde que o atual Governo do PS tomou posse, em novembro de 2015. Desde dezembro de 2015, as intenções de voto no PSD variaram entre um máximo de 37% em janeiro de 2016 (Aximage) e um mínimo de 23,6% em agosto de 2017 (Aximage).
Quanto à negação da existência de “uma tendência de descida” do PS nas sondagens, trata-se de outra falsidade. Na mais recente sondagem da Aximage (divulgada a 18 de abril) sobre as eleições europeias, o PS lidera com 33,6% das intenções de voto, seguindo-se o PSD com 31,1%. Ao longo de 2017 e 2018, o PS andou quase sempre acima de 40% das intenções de voto nas sondagens (chegou aos 45,1% na sondagem da Aximage de 11 de julho de 2017). No início de 2019, as intenções de voto no PS variavam entre 37,7% e 40%. Chega a abril com 33,6% e Marques considera que “não há uma tendência de descida”.
Mas, de facto, é uma quebra de pelo menos quatro pontos percentuais em cerca de três meses. Consubstanciando uma tendência clara de descida.
Avaliação do Polígrafo:
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