schema:text
| - Com menos de um ano para as eleições presidenciais, partidos já experimentam vender em propaganda na TV suas principais vitrines para 2018. No final de agosto, foi ao ar o programa da Rede Sustentabilidade — que Aos Fatos checou. Nas últimas semanas, foi a vez do PSDB e do PT veicularem programas e inserções televisivas.
Enquanto o PSDB fez inserções regionais promovendo suas ações com Geraldo Alckmin, João Doria e outros integrantes do partido, o PT usou os dez minutos de seu programa partidário com Lula como personagem principal.
Aos Fatos checou algumas declarações feitas nas propagandas dos dois partidos e verificou que, independentemente do posicionamento no espectro político, ambos os partidos tentam pintar a realidade conforme sua conveniência. PT e PSDB distorceram números de patrimônio, segurança pública, desmatamento e representatividade feminina. Veja abaixo o resultado.
Nos governos do PT, o Brasil mais que dobrou o número de vagas nas universidades e quadruplicou o número de escolas técnicas. — Programa do PT
Quando o partido fala em “número de vagas”, refere-se ao número de matrículas realizadas em universidades públicas e particulares. De acordo com o Censo da Educação Superior de 2014 do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), o número de matrículas em cursos de graduação saltou de 4 milhões em 2003 para 7,8 milhões em 2016. Trata-se de um aumento de 96,5%— quase o dobro, mas certamente não mais que o dobro.
Já em relação às escolas técnicas, segundo o Ministério da Educação, o número aumentou 360%: em 2002, um ano antes de Lula assumir, o Brasil tinha 140 unidades; depois de seus dois mandatos, em 2010, o número aumentou para 356, e, após o governo Dilma Rousseff, em 2016, para 644 instituições federais. Ou seja, o número mais que quadruplicou.
Diferente de outros políticos, Lula não enriqueceu. — Programa do PT
Durante as eleições de 2002, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva declarou à Justiça Eleitoral que tinha aproximadamente R$ 422 mil em bens. Já na eleição seguinte, em 2006, o montante quase dobrou de tamanho: chegou a R$ 839 mil reais. Entre as diferenças, constam aplicações e uma troca de carro: Lula, ao longo dos quatro anos, vendeu seu Blazer DLX 1998 e comprou uma S10 1998/1999.
Além disso, de acordo com o jornal Folha de S.Paulo, quando Lula deixou a Presidência, no final de 2010, e apresentou seus bens ao fisco, seu patrimônio era de R$ 1,9 milhão (um aumento de 116% em relação a 2006). Sendo assim, desde o começo do primeiro mandato e o final do segundo, Lula aumentou seu patrimônio em 360%.
Já em 2017, o ex-presidente também foi condenado em primeira instância em desdobramentos da Operação Lava Jato. Ele é acusado de receber R$ 3,7 milhões de forma ilegal da empreiteira OAS correspondentes ao valor de um apartamento tríplex no litoral paulista. Lula recorre da decisão em segunda instância.
O ex-presidente também é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por meio do recebimento de propinas no caso do sítio de Atibaia. O ex-presidente nega as acusações e diz que não há provas de que a propriedade dos dois imóveis sejam dele.
Procurada por Aos Fatos, a assessoria de imprensa do ex-presidente argumenta que a afirmação feita pelo programa do PT se referia a enriquecimento ilícito: “todas as contas do ex-presidente antes, durante e depois da presidência da República foram extensamente analisadas e não foi encontrado nenhum valor ilícito nelas”, afirmou por e-mail. Em curso, as investigações, no entanto, não comprovam isso.
Nos governos do PT, o Brasil reduziu o desmatamento da Amazônia em 79%. — Programa do PT
O desmatamento da Floresta Amazônica é medido, desde 1988, pelo Projeto de Monitoramento da Floresta Amazônica por Satélites, o Prodes. De acordo com suas tabelas de taxas anuais, foram desmatados 21.651 km² em 2001 e 7.893 km² em 2016. Trata-se de uma diminuição de 64%.
Além de ter exagerado na porcentagem, a declaração da propaganda também desconsidera todo o histórico de desmatamento durante os anos analisados. No acumulado de 1988 a 2016, foram desmatados 421.775 km².
No primeiro mandato de Lula, a floresta perdeu 86.468 km² e no segundo 39.026 km². Durante a gestão Dilma, foram desmatados 21.892 km² no primeiro mandato e 14.100 km² nos dois anos do segundo, interrompido em 2016. Pode-se dizer, então, que a Amazônia perdeu 161.486 km² durante os governos do PT (ou seja, 38% de todo o desmatamento ocorrido entre 1988 e 2016).
A partir disso, é possível afirmar que o desmatamento foi menor durante o governo Dilma e que, em 2004, segundo ano de mandato de Lula, foram desmatados 27.772 km² de floresta, o segundo maior registrado pelo Prodes.
Ainda de acordo com os dados oficiais, é possível perceber que o desmatamento voltou a aumentar nos últimos dois anos: 5.012 km² em 2014, 6.207 km² em 2015 e 7.839 km² em 2016 (a maior taxa desde 2008).
Nós, mulheres do PSDB, estamos organizadas em todo o país, garantindo os nossos espaços. — Programa do PSDB
A afirmação da vereadora de Piracicaba (SP) parece sugerir que as mulheres têm presença no PSDB. Porém, ao observar a composição das instâncias de comando do partido, a reportagem verificou que isso não se sustenta.
Nos 27 diretórios estaduais, apenas duas mulheres ocupam cargos de direção: Myrian Nunes é secretária-geral do partido no Piauí e Fernanda Freitas é secretária-geral em Roraima.
A situação não muda muito nos cargos executivos da central do partido. Dos 17 membros, só dois são mulheres: a deputada estadual por Rondônia Mariana Carvalho, vice-presidente, e a prefeita de Chapada dos Guimarães (MT), Thelma de Olveira, que desempenha a função de tesoureira adjunta.
O Brasil sofre com a violência, mas em São Paulo os índices caem a cada ano. Hoje, temos três vezes menos homicídios que a média do Brasil. — Programa do PSDB
Se o governador de São Paulo Geraldo Alckmin quer dizer que a taxa de homicídios por cem mil habitantes do Estado de São Paulo é três vezes menor do que os números nacionais, é possível verificar a partir dos números oferecidos pelo Atlas da Violência, publicado em 2017 com dados de 1996 a 2015. De acordo com a pesquisa, a taxa nacional de homicídios é de 28,89 a cada cem mil habitantes.
Filtrando por Estado, percebe-se que o governador superestimou os números da segurança pública ao afirmar que a média de São Paulo é três vezes menor do que a nacional: de acordo com o documento, a taxa do Estado é de 12,22 a cada cem mil habitantes, ou seja, pouco menos que a metade dos dados nacionais.
A afirmação de que os índices caem a cada ano também não é completamente verdadeira: apesar de os índices terem caído muito entre 2003 — quando o Estado registrou taxa de 36,2/100 mil — e 2015 — quando o índice foi 12,22 — os números têm oscilado para cima e para baixo nos últimos dez anos. Em 2013, por exemplo, a taxa foi 13,8; em 2014, subiu para 14,06, e, em 2015, caiu para 12,22, número mais baixo dos últimos 21 anos.
Ampliamos rapidamente o número de crianças acolhidas nas creches e, nesse ritmo, vamos zerar essa fila muito em breve. — Programa do PSDB
De acordo com dados divulgados pela Secretaria Municipal de Educação, em março de 2016, eram 88.356 crianças esperando uma vaga nas creches da cidade de São Paulo. O número aumentou nos dois trimestres seguintes: em junho, eram 103.496 e em setembro 133.005. Já em dezembro do ano passado a demanda baixou para 65.040.
Neste ano, a demanda voltou a subir em março para 87.906, em junho para 104.268 e em setembro, últimos dados disponíveis, para 132.365. Já que a demanda só vem aumentando, é difícil de estimar que a gestão Doria, como ele mesmo disse, conseguirá zerar a fila da creche, muito menos “em breve”.
Em relação ao número de matrículas, os números realmente aumentaram: em março do ano passado foram 270.540 crianças matriculadas, em junho o número subiu para 277.899, em setembro para 283.556 e em dezembro, 284.179. Ou seja, foram criadas 13.639 matrículas ao longo de 2016.
Já em 2017, foram 287.122 mil crianças matriculadas em março, 288.294 em junho e 289.962. Ou seja, desde que assumiu a Prefeitura, Doria registrou 5.783 matrículas a mais em creches da prefeitura e credenciadas, conforme os números oficiais.
|