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| - “Estou a começar a ver que a Rússia decidiu confrontar os senhores do mundo. Isto pode ser um grande divisor de águas contra esta família e as demais 12 existentes que realmente sempre nos dominaram nas sombras. Que coragem deste homem em ser o primeiro a encarar diretamente, perdão, o segundo, porque Abraham Lincoln levou um tiro na cabeça por ter ido contra esta mesma família que queria dominar o Banco Central norte-americano e dominou. Que o Putin não tenha o mesmo destino e que agora a luz prevaleça sobre as sombras”, destaca-se num post de 8 de março no Facebook.
Remete para uma outra publicação no Telegram em que se alega que “Putin proibiu Rothschild e a sua nova família de cartéis bancários da Ordem Mundial de entrar no território russo”.
Também encontramos versões em língua inglesa, com milhares de partilhas, salientando que Putin “acabou com o controlo dos Rothschild sobre a Rússia ao nacionalizar o Banco Central“.
A verdade é que a Rússia tem um Banco Central há, pelo menos, 160 anos. O primeiro de todos foi fundado em 1860 e era denominado como “Banco do Estado”. Este organismo foi reorganizado por várias vezes ao longo do último século e meio até se ter tornado, em 1992, naquilo que hoje conhecemos como Banco Central da Federação Russa, ou simplesmente Banco da Rússia. Daqui podemos desde logo concluir que o Banco do Estado mudou para o seu nome atual oito anos antes de Putin ter sido eleito presidente da Rússia pela primeira vez.
Esta fake news sobre os Rothschild e o Banco Central da Rússia deriva de mitos antissemitas e das teorias da conspiração “QAnon“, mais especificamente a ideia de que todos os bancos são controlados e propriedade de um grupo restrito de famílias ricas. O apelido Rothschil geralmente encabeça as listas dessas famílias.
A Liga Anti-Difamação já publicou, inclusive, um relatório sobre as teorias da conspiração antissemitas acerca das famílias judias mais endinheiradas que, alegadamente, possuem todos os bancos ao nível mundial:
“Durante séculos, a propaganda antissemita demonizou o judeu como um forasteiro conspirador e manipulador, muitas vezes com poderes e projetos de dominação mundial. Desde a Idade Média até ao Holocausto, acusações fabricadas contra judeus como envenenadores e corruptores causaram um sofrimento horrendo no povo judeu. Mais recentemente, a noção antissemita de que ‘os judeus’ dominam e comandam o Sistema da Reserva Federal dos EUA e de que, de facto, controlam o dinheiro do mundo, surgiu em todo o espectro extremista. As ansiedades económicas contemporâneas e a desconfiança em relação ao Governo deram uma nova vida a esse mito desgastado.”
Uma seção do relatório designada “The Rothschild Connection” destaca que, “na literatura de fanáticos, o nome Rothschild é um gatilho para o mais explosivo dos tremores antissemitas, e geralmente desencadeia uma litania de outros nomes judeus”.
“Em 1983, a acusação de que os bancos Rothschild e outras empresas bancárias internacionais, principalmente com nomes judeus, controlavam a Reserva Federal foi publicada (provavelmente através de fontes anteriores) no boletim de um capítulo local da Associação Nacional de Funcionários Federais Aposentados (NARFE) da Pensilvânia. O artigo afirmava que o Sistema de Reserva Federal “não é uma entidade federal, mas antes uma corporação privada detida em parte pelos seguintes: bancos Rothschild de Londres e Berlim, banco Lazard Brothers de Paris, bancos Israel Moses Seif da Itália, banco Warburg de Hamburgo e Amesterdão, banco Lehman Brothers de Nova Iorque, banco Chase Manhattan de Nova Iorque, banco Loeb de Nova Iorque, banco Goldman Sachs de Nova Iorque”.
Na verdade, corrige o relatório, “com exceção do Chase Manhattan Bank, as instituições citadas pelo boletim da NARFE como supostamente possuindo e controlando o sistema de Reserva Federal (Rothschild; Lazard Brothers; Israel Moses Seif; Warburg; Lehman Brothers; Kuhn, Loeb; Goldman, Sachs) não eram membros do Banco da Reserva Federal de Nova Iorque.
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Avaliação do Polígrafo:
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