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| - “Sou veterinário e uma vez estive na liderança da saúde animal de toda a União Europeia, onde tive a brilhante ideia de pegar nas tripas não utilizadas dos animais do matadouro e triturá-las em alimento para gado, o que conduziu à criação da ‘doença das vacas loucas'”, lê-se no post, como se fosse uma apresentação na primeira pessoa de Albert Bourla, atual presidente da Pfizer.
A alegação é falsa. Em primeiro lugar, a encefalopatia espongiforme bovina (BSE, na sigla inglesa) – mais conhecida como “doença das vacas loucas” – foi identificada pela primeira vez em 1986, no Reino Unido, vários anos antes de Albert Bourla ter começado a trabalhar na Pfizer. Em segundo lugar, a utilização de desperdícios de animais como alimento de gado também não foi uma ideia do atual presidente da empresa farmacêutica norte-americana, uma vez que esta prática remonta ao início do século XX.
Segundo a biografia disponível na página oficial da Pfizer, Albert Bourla iniciou a carreira na farmacêutica em 1993, como diretor técnico da divisão de saúde animal da Grécia. Até 2001 – ano em que foi transferido para a sede da empresa, em Nova Iorque, EUA – Bourla assumiu outros cargos de responsabilidade na área da saúde animal na Europa.
Apesar de a “doença das vacas loucas” ter tido uma maior predominância durante a década de 1990, os primeiros casos foram reportados ainda nos anos 1980. Numa publicação da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a BSE indica-se que “os casos em gado foram pela primeira vez identificados no Reino Unido em 1986”. Sabendo que a BSE tem um período de incubação longo – entre quatro e cinco anos – e que os sintomas são similares aos de outras doenças, a OMS admite que podem também ter ocorrido casos de BSE durante a década de 1970, ou seja, muito antes de Albert Bourla ter começado a trabalhar na Pfizer.
Em Portugal, de acordo com a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), os primeiros casos de BSE terão sido identificados em 1990, “embora o diagnóstico tenha permanecido confidencial até 1993”. A existência da doença no país só foi reconhecida um ano depois. “Até 1994, todos os casos diagnosticados respeitavam a bovinos importados do Reino Unido”, informa a ASAE.
Perante o aumento do número de casos, em 1996 foi lançado um “Plano Nacional de Erradicação da BSE” que, entre outras medidas, “previa o abate de todos os bovinos coabitantes de casos confirmados, com recolha sistemática de amostras e respetiva análise laboratorial”, além de estabelecer a proibição de “utilização de quaisquer produtos de origem bovina provenientes do Reino Unido”.
A variante da BSE que é transmitida aos humanos tem a denominação de “Doença de Creutzfeldt-Jakob” (vCJD). Trata-se de uma doença caracterizada pela deterioração progressiva da função mental. Os primeiros casos foram detectados no Reino Unido, em 1996. Em Portugal, o primeiro caso provável de uma pessoa com vCJD foi identificado em 2005.
O aparecimento da BSE está relacionado com a alimentação de gado através da utilização de farinhas provenientes da trituração de ossos e carnes de animais. No entanto, ao contrário do que se alega no post sob análise, esta não foi uma ideia de Albert Bourla. A utilização de desperdícios como forma de aumentar a composição nutricional dos animais de criação é uma prática que, segundo a OMS, remonta à década de 1920.
A Food and Drug Administration (FDA) dos EUA informa que, ao alimentar-se o animal com a farinha contaminada, este recebe um agente infeccioso, chamado prião, que desenvolve a doença. Este agente constituído exclusivamente por proteína desencadeia a doença nas vacas e, uma vez que o organismo do animal não consegue identificar a sua presença, também não consegue combater a doença.
A utilização de subprodutos animais e produtos derivados para alimentação de animais de criação continua a ser comum na atividade pecuária, como forma mais barata de complementar a nutrição do gado. No entanto, devido aos potenciais riscos para a saúde pública e animal, a sua utilização é regulamentada pelo Parlamento Europeu desde 2009.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
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Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
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