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| - Bill Gates é, frequentemente, protagonista de publicações que se tornam virais nas redes sociais – muitas delas falsas. Desta vez, o fundador da Microsoft surge num vídeo de um minuto e 40 segundos, que aparenta ser uma entrevista conduzida pela jornalista australiana Sarah Ferguson. O clip começou por ser partilhado no TikTok, mas, rapidamente, chegou ao Instagram.
Neste vídeo, ouve-se a jornalista australiana Sarah Fergunson a perguntar sobre o “contributo” de Bill Gates para o mundo, ao qual o filantropo respondeu que criou “o mais popular sistema operativo de computadores do mundo”. Perante esta resposta, Fergunson terá afirmado que não foi Gates quem criou o sistema, mas que este foi “basicamente roubado” a Gary Kildahl “por poucos dólares”.
A suposta conversa entre a jornalista e o fundador da Microsoft segue para o tópico da covid-19: “Você tem sido um dos maiores porta-vozes das vacinas contra a covid-19 durante a pandemia. O que exatamente faz de si, um engenheiro de computadores que nem sequer programou o seu produto inicial, um representante válido da indústria farmacêutica?”
Depois de Gates responder que “leu muitos livros” e que se reuniu “com especialistas” de todo o mundo, a jornalista volta a “atacar”. “Como se sente agora? Agora que começa a ser cada vez mais evidente que a medicação que você promoveu enquanto investia fortemente, fazendo milhares de milhões com isto, causou inúmeros danos, efeitos secundários e mortes”.
O vídeo termina com Bill Gates a pôr um ponto final repentino na entrevista: “Ok, já chega. Esta entrevista acabou. Obrigada”. Será que esta conversa é real?
Bill Gates abandonou entrevista conduzida por Sarah Ferguson?
Na verdade, o vídeo que está a ser partilhado nas redes sociais é uma manipulação. Trata-se de um deepfake – um conteúdo de vídeo que é alterado para que determinada personalidade surja a proferir declarações que, na verdade, nunca disse.
De acordo com a plataforma de fact-checking Lead Stories, Bill Gates foi entrevistado pela jornalista australiana Sarah Ferguson, mas não sobre os assuntos referidos nas publicações virais. Nos 13 minutos de conversa, não aparece qualquer uma das perguntas, respostas e acusações presentes no deepfake. A entrevista verdadeira foi emitida no programa “7.30”, no dia 30 de janeiro de 2023.
A entrevista completa foi partilhada no canal de YouTube oficial do canal ABC News Austrália com o título: “Bill Gates reclamou com empresas de tecnologia sobre teorias de conspiração ‘risíveis’ sobre o Covid-19 | 7h30”.
As vozes ouvidas no vídeo manipulado são muito parecidas com as vozes reais de Sarah Fergunson e Bill Gates. Apesar de não se saber qual o programa utilizado para criar este deepfake, é provável que a faixa de áudio tenha sido utilizada para sincronizar o som com os movimentos labiais.
Além disso, a publicação contém também legendas branca e de tamanho grande, colocadas mesmo no centro do vídeo. Em vários momentos, as palavras chegam mesmo a tapar a boca dos intervenientes, o que ajuda a esconder possíveis falhas da sincronização labial. Por vezes percebe-se que o movimento da boca não coincide exatamente com o que se está a ouvir.
Na entrevista verdadeira, Sarah Fergunson começa por questionar o filantropo sobre as alterações climáticas e o papel da Austrália nesta questão. A conversa segue para a exportação de combustíveis fósseis e as perspetivas de uma energia nuclear da próxima geração.
Aos três minutos de conversa, Bill Gates é questionado sobre qual a próxima ameaça urgente do mundo, se as alterações climáticas ou uma nova pandemia. As teorias da conspiração sobre as vacinas contra a covid-19 foram também um tema abordado pela jornalista Sarah Fergunson, assim como a compra do Twitter por Elon Musk.
Já a meio da conversa, Gates respondeu sobre o seu divorcio com Melinda Gates e o futuro da fundação que, até agora, era gerida pelo casal. O tópico final da entrevista foca-se na inteligência artificial, nos preparativos que o mundo tem de fazer e quais os perigos não previstos.
Concluindo: o vídeo com um suposto excerto da entrevista da jornalista Sarah Ferguson a Bill Gates, que está a ser partilhada no TikTok e Instagram, é uma manipulação. A jornalista australiana entrevistou, de facto, o filantropo norte-americano, mas em momento algum o acusou de roubar Gary Kildahl ou de ter de ter feito “milhares de milhões” a promover a vacinação contar a Covid-19 que “causou inúmeros danos, efeitos secundários e mortes”. Trata-se de um vídeo deepfake.
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Avaliação do Polígrafo:
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