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| - “O Cláudio é agente da GNR. O Cláudio foi agredido em Vilamoura durante a sua atividade profissional. O Cláudio foi agredido por um grupo de turistas ingleses que foram libertados e regressaram ao seu país. O Cláudio recorreu à urgência, onde se constatou que sofreu vários hematomas e escoriações, bem como duas fraturas na mão. O Cláudio teve de pagar as taxas moderadoras da urgência. O Cláudio não foi protegido pelo Estado português”, destaca-se no Facebook, numa publicação de 13 de outubro que conta com mais de quatro mil partilhas.
Os acontecimentos relatados são verdadeiros?
Contactada pelo Polígrafo, fonte oficial da Guarda Nacional Republicana (GNR) confirmou que, na madrugada do dia 10 de outubro, “durante um serviço realizado por dois militares da GNR, no Casino de Vilamoura, foram detidos dois indivíduos de nacionalidade inglesa por resistência e coação sob funcionário, ameaça, agressão e coação física e furto”.
“A patrulha presenciou quatro cidadãos de nacionalidade inglesa (idades compreendidas 25 a 32 anos) que pretendiam entrar no Casino sem fazer uso de máscara de proteção individual, tendo sido proibida a sua entrada pelo porteiro do Casino, ao qual reagiram com agressividade e injúrias”, informa a mesma fonte.
“A patrulha presenciou quatro cidadãos de nacionalidade inglesa (idades compreendidas 25 a 32 anos) que pretendiam entrar no Casino sem fazer uso de máscara de proteção individual, tendo sido proibida a sua entrada pelo porteiro do Casino, ao qual reagiram com agressividade e injúrias”.
Tal como descreve a GNR, quando os militares chegaram ao local, “os suspeitos colocaram-se em fuga para o interior do espaço de um hotel próximo, junto da piscina, onde foram abordados tendo de imediato reagido agressivamente com ameaças de morte e agressões aos militares, agredindo estes e atirando inclusive, um dos militares para o interior da piscina“.
Na sequência dos factos ocorrido, segundo a autoridade policial, “verificou-se que os militares apresentavam ferimentos na cabeça, tronco e membros resultantes das agressões que careceram de tratamento hospitalar, onde foi diagnosticado, para além de hematomas e diversas escoriações, duas fraturas na mão de um dos militares“.
Foi aberto “um processo de averiguações por acidente em serviço e respetivo processo administrativo por forma a ser acautelado o pagamento de todas as despesas médicas decorrentes da situação”.
“Os militares conseguiram concretizar a detenção de dois suspeitos, de 29 e 32 anos de idade, os quais permaneceram nas instalações desta Guarda até serem presentes ao Tribunal Judicial de Loulé no dia 11 de outubro, tendo sido libertados mediante termo de identidade e residência”, esclarece a GNR, que garante ainda que foi aberto “um processo de averiguações por acidente em serviço e respetivo processo administrativo por forma a ser acautelado o pagamento de todas as despesas médicas decorrentes da situação“.
Em suma, conclui-se que a publicação apresenta, na maioria, informação verdadeira. No entanto, é falso que o militar da GNR teve de pagar as despesas médicas relativas às agressões, o pagamento foi garantido através da abertura de um processo administrativo pela autoridade policial.
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Nota editorial 1: Na sequência deste fact-check, o Polígrafo foi contactado pela Associação dos Profissionais da Guarda (APG), que pretendeu exprimir discordância sobre o seu teor. Segundo a APG, o profissional em causa pagou mesmo do seu bolso as despesas médicas. E para o provar anexa, no e-mail que nos remeteu, várias imagens:
Segundo a organização representativa dos profissionais da GNR, estas faturas relativas ao pagamento de serviços de saúde (num montante global de 62,65 euros) são a prova de que, efetivamente, as despesas ficaram por conta do agente em causa – “Cláudio”, nome fictício que o Polígrafo respeitou para manter o seu desejado anonimato.
O Polígrafo considera respeitável a posição da APG, que é legítima, mas analisou os factos de forma diferente.
O motivo é simples: a publicação em causa tinha como objetivo claro expor não apenas o caso de “Cláudio”, mas uma situação que aparentemente afecta outros profissionais. O post sofre, porém, de uma limitação que considerámos fundamental e que condicionou de forma definitiva a nossa abordagem: em nenhuma passagem refere que os profissionais são ressarcidos do pagamento – ou seja, no fim da linha as despesas não são verdadeiramente custeadas pelos agentes. E esse é, no nosso entendimento, o capítulo nuclear do que está em causa. Afinal, no final das contas, os agentes pagam ou não as despesas de saúde decorrentes de incidentes em trabalho? A resposta é negativa.
Fizemos o nosso trabalho habitual de confirmação e contactámos uma instituição com legitimidade inquestionável para comentar o caso: a própria Guarda Nacional Republicana, que através de uma fonte oficial confirmou ao Polígrafo o ocorrido com o agente. E que também garantiu que, depois de se determinar que efetivamente o relato do funcionário é fidedigno (e tudo indica que é), ele será ressarcido de todas as despesas – ou seja, à pergunta fundamental “Os agentes pagam ou não as despesas?”, a resposta não pode deixar de ser um “falso”.
Na sua análise, a APG valoriza, compreensivelmente, o facto de o pagamento imediato das despesas ter sido feito pelo agente. No Polígrafo optámos por avaliar o caso numa perspetiva mais estrutural, por considerarmos que, se concluíssemos que a ideia contida na publicação que verificámos – segundo a qual os agentes pagam do seu bolso as taxas moderadoras da urgência – era verdadeira, estaríamos a contribuir para validar uma informação que era redutora, tendo em conta o que entretanto tínhamos apurado.
Por julgarmos respeitável e de boa-fé a posição da APG, publicamos este esclarecimento. Mas por acreditarmos que o nosso ângulo de análise do problema é mais estrutural, optámos por não modificar a avaliação.
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Nota editorial 2: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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