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| - A troca de acusações entre João Galamba e o titular de uma conta de Twitter entretanto apagada começou por volta das 17h30 deste domingo, quando o Secretário de Estado Adjunto e da Energia apelidou o utilizador em causa e a sua conta na plataforma de “uma coisa deveras lamentável”. O tweet original refletia sobre o preço dos combustíveis, mas não foi bem recebido na rede social:
“Quando a gasolina chegar perto dos três euros e a inflação perto dos 9%, quantos terão a capacidade de assumir que tudo o que pensavam sobre o conflito na Ucrânia estava errado e que a liderança europeia falhou de forma espetacular em defender os nossos interesses?”
Entre uma troca de respostas entre Galamba e o autor do tweet, só as do Secretário de Estado continuam disponíveis e são essas que vamos destacar: “Portanto, agora és uma vergonha e apoias o Putin. Ouve lá, quando vais dormir não sentes aqueles vergonha?”; “E, já agora, se não sentires vergonha e não te sentires uma coisa deveras lamentável, não me levas a mal, mas não apareces daqui [SIC], por favor”; “Para ser claro: quem hesita na Ucrânia, fica claro onde está. E onde está não é recomendável”; “Não te preocupes. Diria apenas que nada do que dizes faz sentido e que o que dizes é idiota. Só isso, nada mais”; E depois esperaria que o bom senso imperasse e que nada do que dizes seria tido em conta. Eu acredito muito na racionalidade e espero, também, que as insanidades que tens escrito sejam ignoradas. Só isso, nada mais”; “Sai mesmo daqui, por favor. Dás mau nome a esquerda e, muito sinceramente, não tenho disponibilidade para tamanha inanidade”; “És mesmo pro fascista. Já vi que não percebes isso. Mas é mesmo isso que tu és.”
Os excessos linguísticos de João Galamba no espaço público não são inéditos. Em maio de 2021, o secretário de Estado já tinha recorrido ao Twitter para chamar “estrume” e “coisa asquerosa” ao programa da RTP Sexta às Nove: “Lamento, estrume só mesmo essa coisa asquerosa que quer ser considerada ‘um programa de informação’. Mas se gosta desse caso psicanalítico em busca da sua expiação moral, bom proveito.”
Apesar de ter sido apagada logo depois de ter sido noticiada, a publicação foi repudiada pela RTP e quer o CDS quer o PSD pediram a demissão de João Galamba, que se manteve no cargo. Apesar de, à data, não se ter pronunciado sobre o caso, João Galamba foi obrigado, desta feita, a confirmar as acusações feitas posteriormente, com recurso a prints de mensagens privadas enviadas pelo secretário de Estado no pós-discussão:
“Olha, o meu pai foi torturado por fascistas da Pide e, se lesse esta pouca vergonha, só te diria: vai para a puta que te pariu fascista de merda. Desaparece. Tenho nojo de tudo o que escreves. Não me voltes a dirigir a palavra. És mesmo uma vergonha fascista. Vai para o caralho e desaparece. Tenho desprezo por toda esta esquerda pró-Putin. Vai para o caralho e desaparece fascista. Nojo.”
O texto acima transcrito foi tratado pelo Polígrafo, já que as mensagens originais continham erros de tipografia que chegaram a ser utilizados como argumento por alguns utilizadores que acreditavam que a conta de João Galamba tinha sido “hackeada”.
No entanto, o socialista fez questão de confirmar a autenticidade do conteúdo divulgado: “Uma pessoa divulgou uma mensagem privada minha indignada com algumas pessoas de esquerda serem pró-Putin. Para que não restem dúvidas: reafirmo tudo o que disse nessa mensagem e repudio o facto de essa pessoa ter divulgado a mensagem.”
[twitter url=”https://twitter.com/Joaogalamba/status/1533557485583335425″/]
Embora provoquem quase sempre reações de admiração, os limites linguísticos ultrapassados por algumas figuras políticas são recorrentes. A título de exemplo, João Soares chegou mesmo a demitir-se depois de ter prometido, em 2016, a Augusto M. Seabra e a Vasco Pulido Valente, à data colunistas do jornal Público, umas “salutares bofetadas”. “Estou a ver que tenho de o procurar, a ele e já agora ao Vasco Pulido Valente [para umas] salutares bofetadas”, escreveu no Facebook.
Quem pediu desculpas pelas declarações do então ministro da Cultura foi António Costa, que acabou por lembrar que, apesar de o comentário ter sido feito numa página pessoal, este deveria ter sido “mais contido”, garantindo que o mesmo “não traduz a forma como o Governo se quer relacionar” com as pessoas. “Já recordei aos membros do Governo que, enquanto membros do Governo, nem à mesa do café podem deixar de se lembrar que são membros do Governo“, alertou na altura António Costa.
O Polígrafo contactou João Galamba e o ministro da tutela, Duarte Cordeiro, no sentido de obter esclarecimentos adicionais sobre este assunto, mas até ao momento não obteve resposta.
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