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  • Circula nas redes sociais uma publicação em que se alega que a Miss Colômbia fez, no palco do concurso, um discurso de indignação contra a possibilidade de mulheres trans entrarem na competição. “Miss Colômbia faz escândalo apoiada por outras concorrentes a Miss Universo contra ‘homens’ poderem concorrer contra verdadeiras mulheres. Onde andam as televisões Portuguesas?”, lê-se na publicação, que circula em língua portuguesa. A publicação é acompanhada de um vídeo onde é possível ver, durante cerca de um minuto, uma mulher no palco de um concurso de beleza a discursar com bastante indignação, com gritos de ordem como “não é justo!” e queixando-se de “falta de respeito para todas as mulheres que se esforçaram para estar aqui”. Trata-se, contudo, de uma publicação falsa: não só o vídeo não é recente como a indignação da Miss Colômbia não tem nada a ver com a possibilidade de mulheres trans entrarem no concurso. O vídeo data de 2020 e mostra o momento em que a concorrente colombiana denunciou um alegado favorecimento da candidata do México. A publicação começou a circular em Portugal num contexto muito concreto: no início de outubro, Marina Machete tornou-se a primeira mulher trans a vencer o concurso Miss Portugal. A jovem de 28 anos irá representar Portugal no concurso Miss Universo, cuja final está marcada para o dia 18 de novembro em San Salvador, El Salvador. Na sequência da vitória, Marina Machete foi alvo de insultos no espaço mediático português. A situação mais polémica envolveu o comentador televisivo Miguel Sousa Tavares, que num espaço de comentário na TVI considerou que não tinha sido uma “mulher bonita” a vencer o concurso, mas “uma operação”. Mulher transgénero é coroada pela primeira vez Miss Portugal e é candidata a Miss Universo “O que o júri apreciou foi o resultado sucessivo de operações plásticas que correram bem e tratamentos moleculares ou celulares”, disse Sousa Tavares. Depois da polémica com as suas declarações, o comentador recusou pedir desculpa. Neste contexto, multiplicaram-se as publicações controversas sobre o assunto nas redes sociais em Portugal — incluindo esta publicação em torno da suposta indignação da Miss Colômbia relativamente à participação de mulheres trans no concurso. Olhemos, então, com atenção para o vídeo. Nas imagens, é possível ver uma mulher de vestido vermelho, envergando uma faixa típica deste concurso, a discursar indignada em palco. Embora grande parte das palavras sejam impercetíveis, é possível compreender algumas das suas frases. “O senhor pagou! Há uma corrupção imensa no México, e não é justo, não é correto o que estão fazendo aqui! É uma falta de respeito para todas as mulheres que se esforçaram para estar aqui. É uma falta de respeito”, diz a mulher, apelando: “Têm de ser justos!” “É inaceitável a corrupção, é inaceitável a falta de respeito e a falta de dignidade”, atira ainda. “É a primeira vez que estou no México. Parecem-me pessoas lindas, gente bonita. Fazem-nos ficar mal como latinos.” Em nenhum momento do vídeo é possível ouvir qualquer referência à participação de mulheres trans no concurso Miss Global. Por outro lado, basta recorrer às referências na imprensa colombiana àquele incidente para perceber o que está em causa. O vídeo foi captado no dia 18 de janeiro de 2020, quando se realizou no México o concurso Miss Global 2020. A representante colombiana, Jesenia Orozco, tomou a palavra visivelmente indignada para denunciar uma suposta fraude por parte da organização para favorecer a vitória da concorrente mexicana. Orozco recorreria mais tarde à sua página de Instagram para voltar a criticar a organização, falando em “corrupção” no certame. A organização do concurso Miss Global viria também a reconhecer o problema. Num comunicado, o CEO da competição, Van Pham, admitiu que um patrocinador mexicano do concurso tinha feito pressão sobre a organização para favorecer a Miss México no concurso mundial — o que violava as “regras, integridade e ética” do concurso. A organização do Miss Global garante que não cedeu a essas pressões, o que acabou por levar à interrupção do concurso e à atribuição da vitória à Miss República Checa, que era quem tinha mais pontos naquela fase. O comunicado agradece ainda a chamada pública de atenção feita pela Miss Colômbia em relação ao assunto. Recentemente, já depois de este excerto do vídeo ter começado a circular com a alegação de que a Miss Colômbia estaria a opor-se à participação de mulheres trans no concurso, Jesenia Orozco garantiu em declarações à Agência Reuters que a publicação é falsa e que o vídeo foi retirado do seu contexto original. Conclusão Ao contrário do que alega a publicação, o vídeo em questão não mostra a Miss Colômbia indignada com a possibilidade de mulheres trans entrarem no concurso Miss Global: trata-se de um protesto levado a cabo por Jesenia Orozco, Miss Colômbia de 2019, em 2020 contra suspeitas de favorecimento da candidata mexicana na edição daquele ano do Miss Global, que aconteceu no México. A própria organização da competição reconheceu as suspeitas de pressão e agradeceu a Orozco a sua denúncia pública do caso. Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é: ERRADO No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é: FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos. NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
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