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| - Os prédios degradados de tijolo laranja e o chão enlameado denunciam o lugar, mas publicação de 13 de março no Facebook faz questão de garantir que aquele registo fotográfico não foi feito em Kharkiv, cidade na Ucrânia onde há já um rasto de destruição deixado pela ofensiva russa nestas últimas semanas, mas sim no Seixal. Mais propriamente no conhecido Bairro da Jamaica, onde as questões referentes ao urbanismo são colocadas há anos e as aparentes soluções (de demolição e realojamento) se têm vindo a arrastar.
No entanto, esta não é apenas uma publicação que denuncia as fracas condições em que se encontram os moradores daquele bairro: Segundo o post, a degradação dos edifícios é resultado dos “48 anos de ‘socialismo'”, uma referência ao 25 de Abril e ao início de um regime político democrático em Portugal, que comemora este ano, precisamente, 48 anos.
Os factos são facilmente apuráveis. Desde logo, a fotografia é autêntica e diz de facto respeito ao Bairro da Jamaica, na Quinta de Vale de Chícharos. Foi tirada a 25 de janeiro de 2019, pelo fotojornalista Orlando Almeida, e mostra a Torre 10 do bairro, que à data ainda não tinha sido demolida. Cerca de três meses depois, a 12 de abril, este edifício começou a ser demolido, mas a verdade é que as cerca de 60 famílias que lá viviam já tinha saído em dezembro de 2018, tendo sido realojadas pelo município do Seixal.
No Google Maps, cujas imagens mais recentes reportam a fevereiro deste ano, a verdade é que esta torre já não existe, restando apenas três edifícios igualmente deteriorados (mas com os blocos completos, bem como portas e janelas). Um comunicado da Câmara de Seixal, de 20 de janeiro deste ano, informa que foi aprovado o contrato de comparticipação financeira do Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU), ao abrigo do Programa de Realojamento dos Agregados Familiares do Loteamento Quinta de Vale de Chícharos, para a aquisição de habitações com o objetivo de realojar as famílias que ainda ali residem.
“O processo iniciou-se no terreno, em 2018, com o realojamento de 64 agregados, estando atualmente em curso a aquisição das habitações em falta a atribuir em regime de arrendamento apoiado”. Segundo o presidente da Câmara Municipal do Seixal, Joaquim Santos, “a autarquia está empenhada em resolver da melhor forma a situação das famílias residentes em Vale de Chícharos, sendo absolutamente prioritário terminar com todas as situações existentes em que os habitantes vivam em condições indignas”.
Importa ainda notar que, além de não se tratar de uma fotografia recente e fiel às atuais condições do Bairro da Jamaica, este núcleo habitacional de Vale de Chícharos surgiu na década de 1980, após falência da empresa construtora. “Como resultado”, informa a Câmara do Seixal, “a obra ficou por concluir, com edifícios em várias fases de construção, que foram sendo ocupados progressivamente, maioritariamente por famílias oriundas de países africanos de língua oficial portuguesa”.
“Em 1993, a Câmara Municipal do Seixal elaborou um levantamento no âmbito do PER, tendo sido recenseados 47 agregados. Em pouco tempo, os edifícios foram sendo novamente ocupados, o que não impediu a Caixa Geral de Depósitos de vender o terreno ao atual proprietário”, diz a autarquia.
Em suma, a ligação entre o estado dos edifícios e os “48 anos de ‘socialismo'” carece de enquadramento e até de sentido quando percebemos que este bairro surgiu apenas nos anos 80, ou seja, já depois do 25 de Abril, pelo que não há sequer objeto de comparação anterior a essa data. Assim, de facto, a fotografia foi tirada no Seixal, mas está desatualizada e um dos prédios já foi demolido.
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Avaliação do Polígrafo:
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