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| - “Há filas até para os bombeiros. Era suposto os bombeiros chegarem a um hospital, procederem ao internamento do doente que socorreram, recuperarem a maca e voltarem à disponibilidade. Era assim antigamente, mas qualquer dia já nem nos lembramos disso”, começa por se salientar numa publicação da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) no Facebook, datada de 22 de dezembro.
“Agora fazem-se filas para tudo e até os bombeiros não escapam a isso. Na imagem, a lista de ingresso das ambulâncias e a ordem pela qual é suposto serem libertadas as macas. É o retrato do que não devia acontecer. E pior que tudo é quando um hospital pede aos bombeiros para transferirem um doente para outra unidade sem antes acordarem essa transferência. Resultado: mais uma espera com o doente dentro da ambulância em terra-de-ninguém. Seria cómico se fosse um script [argumento] de um filme, mas não é”, denuncia a LBP.
O Polígrafo contactou António Nunes, presidente da LBP, o qual indicou que este caso tem origem no Hospital de Setúbal. No entanto, ressalva que é uma situação comum em vários outros hospitais, embora a organização varie entre as diferentes unidades de Saúde.
“Quando se chega ao hospital passa-se na triagem e o doente vai à triagem na maca dos bombeiros que ficam inoperacionais durante o tempo em que as macas dos bombeiros estiverem lá retidas“, explica Nunes.
“Deveria acontecer os bombeiros chegarem e após a triagem o doente ser transferido para uma maca do hospital. Até meia hora é um período aceitável de espera, depois disso já não porque os bombeiros ficam retidos, inoperacionais por não terem uma maca”, sublinha.
Quanto ao doente referido na publicação, este provinha do Hospital do Barreiro para ser internado no Hospital de Setúbal. Contactada pelo Polígrafo, fonte oficial do Hospital de Setúbal explicou o porquê desta espera prolongada.
“O Serviço de Urgência Geral (SUG) do Centro Hospitalar de Setúbal (CHS) é uma urgência médico-cirurgica altamente complexa e são vários os fatores que determinam o seu funcionamento. Neste contexto, informamos que até novembro já efetuámos 77.869 atendimentos, o que se traduz num aumento de 14,1 % de doentes, face ao período homólogo. Destes doentes, 25,15% foram triados como não urgentes de acordo com a ‘Triagem de Manchester’. Ou seja, são doentes com prioridade de atendimento verdes, azuis e brancos que deveriam recorrer a outro nível de cuidados, nomeadamente, aos cuidados de saúde primários”, realça.
“Acresce ainda referir como fator condicionante em termos de atendimentos dos utentes, a circunstância de doentes com alta clínica se manterem por vários dias internados por falta de resposta familiar ou social. Nos últimos 15 dias constatamos uma média diária de nove doentes que permanecem indevidamente nas nossas instalações por razões familiares ou sociais. Os fatores anteriormente descritos contribuem para o aumento do tempo de espera para atendimento e condicionam as condições de permanência no SUG de doentes em maca, o que naturalmente também influencia o tempo espera por parte das corporações de bombeiros que transportam doentes para este serviço”, justifica.
Relativamente à transferência de pacientes, “apesar dos constrangimentos existentes, o CHS nega a transferência de doentes para outras unidades de saúde sem a devida articulação com as unidades de saúde e com as respetivas entidades transportadoras, bombeiros e INEM”.
“Cientes das condições infraestruturais atuais do SUG que limitam a capacidade de resposta aos doentes, o CHS tem previsto iniciar no ano de 2023 a construção de um novo edifício no valor de 27 milhões de euros, estrutura esta onde funcionarão o Serviço de Urgência Geral, Pediátrica e Ginecológica/Obstétrica”, conclui.
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Avaliação do Polígrafo:
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