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| - “O país tem assistido, atónito, à mais desprestigiante e deprimente degradação institucional de que há memória em Portugal. Os episódios de desrespeito por regras básicas de comportamento político e institucional são abundantes e ferem a credibilidade dos poderes públicos. a bem da dignidade e da moralidade da política, o ministro João Galamba deve mesmo ser demitido“, começou por considerar Luís Montenegro, na sede do PSD esta manhã, para uma primeira reação às audições de Frederico Pinheiro, ex-adjunto de Galamba, Eugénia Correia, chefe de gabinete, e do próprio ministro das Infraestruturas.
“Portugal não pode ser esta balbúrdia (…) Temos um ministro que se contradiz a si próprio. Sinceramente, é um caso de irresponsabilidade elevada e, infelizmente, temos um líder do Governo que não é capaz de o perceber”, acusou o líder do PSD numa mensagem que é dirigida também a António Costa. O Primeiro-Ministro ainda não se pronunciou desde a série de audições que teve início na última quarta-feira.
Será que Montenegro tem razão quando diz que João Galamba “se contradiz a si próprio”?
Sim. Desde logo no ainda pouco claro contacto com o Serviço de Informações de Segurança (SIS). Se o ministro das Infraestruturas começou por insinuar que foi a ministra da Justiça que sugeriu contacto com o SIS, agora a iniciativa terá partido do gabinete do Primeiro-Ministro. A história conta-se assim: depois de ser desmentido pela ministra da Justiça, no Parlamento, Galamba reordenou a fita dos acontecimentos e garantiu que foi a chefe de gabinete, Eugénia Correia, a ativar o SIS por iniciativa própria. Afinal, disse ontem o ministro, foi o gabinete do Primeiro-Ministro a incentivar a entrada do SIS na equação. Só que o SIS já lá estava, sem autorização expressa de Galamba.
“Liguei à ministra da Justiça às 22h53, foi um telefonema que durou dois minutos e vinte segundos e não me recordo se falei do SIS ou não à ministra da Justiça, porque, de facto, o objetivo daquele telefonema era análogo ao que tinha ocorrido uma hora e quarenta minutos antes com o senhor ministro da Administração Interna”, informou o ministro, sem esclarecer de quem tinha partido, afinal, a sugestão de contacto com o SIS.
Quando Bernardo Blanco (IL) insistiu na questão, João Galamba disse já ter respondido. Foi incitado a fazê-lo novamente: “Quem é que lhe disse para contactar o SIS?”, questionou o liberal. “O gabinete do Primeiro-Ministro. O secretário de Estado Adjunto Mendonça Mendes“, respondeu Galamba.
Quanto à reunião secreta com a TAP, a 17 de abril, João Galamba entrou ontem em nova contradição: na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à TAP de quarta-feira, Frederico Pinheiro garantiu que foi o próprio ministro das Infraestruturas a convidar a então CEO: “Na reunião de 16 de janeiro, o senhor ministro das Infraestruturas convida a CEO da TAP a participar, no dia seguinte, numa reunião preparatória.”
Ontem, o principal interveniente desta história prestou declarações contraditórias: se Galamba sugeriu, a 16 de janeiro, que Christine Widener poderia estar presente na reunião do dia seguinte, com o GPPS, da qual ele se ausentaria, hoje não considera que se tenha tratado de um incentivo: “Perguntou-me: ‘Posso ir?’ e eu respondi ‘Pode’.”; “A CEO da TAP manifestou a vontade e pediu para vir à reunião. Eu autorizei.”
Por último, João Galamba confessou ontem ter sido José Luís Carneiro a sua primeira chamada na noite dos acontecimentos. Na sua primeiar conferência de imprensa, o ministro tinha-se referido à sequência dos acontecimentos desta forma: “Eu não estava no Ministério quando aconteceu a agressão [quando Frederico Pinheiro foi ao Ministério buscar o portátil]. Liguei ao Primeiro-Ministro, que estava a conduzir e não atendeu, liguei ao secretário de Estado adjunto do Primeiro-Ministro e disse que eu devia falar com o Ministério da Justiça, coisa que fiz, e disseram-me que o meu gabinete devia comunicar esses factos àquelas duas entidades [SIS e PJ].”
Esta quinta-feira, porém, o ministro das Infraestruturas revelou que o seu primeiro contacto, na noite de 26 de abril, foi o ministro da Administração Interna, a quem pediu para falar “com muita urgência com a PSP” sobre as “agressões e roubo de um computador” no ministério.
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Avaliação do Polígrafo:
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