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| - Qual é a posição das Nações Unidas sobre a liberdade religiosa? A dúvida é levantada nas redes sociais e seguida de um aviso. Os “cristãos que não aceitarem a ideologia esquerdista serão excluídos da sociedade“. A suposta declaração é atribuída a Victor Madrigal-Borloz e não se fica por aqui. De acordo com publicações que se somam no Facebook, a liberdade religiosa só pode ser tolerada a quem cumprir a “agenda radical da extrema esquerda”, ou seja, uma agenda “globalista”, “radical LGBTQ+” e abraçando a “legalização da pedofilia“, defendem. As alegadas declarações são atribuídas a Victor Madrigal-Borloz.
Mas quem é este responsável das Nações Unidas? Em 2017 foi nomeado pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, como especialista independente da ONU em proteção contra a violência e discriminação com base na orientação sexual e na identidade de género. Ou seja, e de acordo com a ONU, “avalia a implementação da lei internacional de direitos humanos” para ajudar a enfrentar situações de violência e discriminação com base na orientação sexual ou na identidade de género. O cargo foi criado pela ONU para abordar os casos que continuam a existir em todas as regiões do mundo, como são exemplos as últimas declarações públicas de Madrigal-Borloz em 2023.
É neste contexto que, num discurso perante o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, a 21 de junho de 2023, o jurista costa-riquenho defendeu que “prestar atenção às vozes e práticas de comunidades inclusivas pode ajudar a mudar as narrativas que afirmam que o exercício da liberdade de religião é incompatível com o usufruto de direitos humanos por pessoas LGBT”. Ou seja, enquanto reconhecia a “marginalização, estigmatização e exclusão” que as pessoas LGBT sofrem nas comunidades religiosas “por simplesmente serem como são”, Madrigal-Borloz rejeitava um conflito entre a religião e os direitos das pessoas LGBT e pedia mais atenção às “práticas inclusivas” de comunidades religiosas.
"Despite some examples of the contrary, many religious or belief traditions are inclusive and affirming of #LGBT persons."@victor_madrigal in his last presentation as Independent Expert on sexual orientation & gender identity to the @UN Human Rights Council.#HRC53 #SOGI pic.twitter.com/3tYEPUcT3J
— United Nations Human Rights Council (@UN_HRC) June 23, 2023
Nem no discurso, nem no relatório no qual o especialista independente defendeu a coabitação destes dois conceitos: liberdade de religião e direitos humanos das pessoas LGBT, Madrigal-Borloz falou de uma “agenda radical da extrema esquerda” ou defendeu a “legalização da pedofilia”.
Numa resposta enviada ao Observador, Victor Madrigal-Borloz garante “nunca” ter proferido qualquer declaração que “remotamente pudesse ser interpretada como uma exigência às pessoas para que aceitassem a pedofilia”. O especialista independente da ONU explica ainda que este tipo de alegações, “obviamente falsas“, têm como objetivo “representar a inclusão de pessoas LGBT como perigosa para a sociedade“, algo que “não é apoiado por nenhum tipo de evidência” e que “por definição é baseado em preconceito e discriminação“.
Conclusão
Não é verdade que a ONU tenha avisado que “serão excluídos da sociedade” os “cristãos que não aceitem a ideologia esquerdista”. E Victor Madrigal-Borloz, especialista independente da ONU em proteção contra a violência e discriminação com base na orientação sexual e na identidade de género, não deu sequer a entender que a liberdade religiosa só vai ser tolerada a quem cumprir a “agenda radical da extrema esquerda” e a quem abraçar a “legalização da pedofilia“.
As publicações distorcem as palavras do jurista costa-riquenho que rejeitou um conflito entre a religião e os direitos das pessoas LGBT e pediu que fosse dada mais atenção às “práticas inclusivas” de vozes e comunidades religiosas. Ao Observador, Victor Madrigal-Borloz reduziu o conteúdo das publicações a alegações “obviamente falsas“, que têm o objetivo de “representar a inclusão de pessoas LGBT como perigosa para a sociedade”.
Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
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