schema:text
| - “Corrupção: Freitas do Amaral explica como são roubados e enganados os contribuintes portugueses”. Este é o título de uma publicação viral que apresenta um vídeo com um excerto de uma suposta entrevista que Diogo Freitas do Amaral, antigo líder e fundador do CDS e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros num Governo do PS, terá concedido à RTP.
“Diogo de Freitas do Amaral explicou, no programa ‘Grande Entrevista’ da RTP Informação, como se roubam e enganam os contribuintes portugueses. Esquemas de corrupção, fraudes, uso e abuso dos dinheiros públicos… e muito mais. O descaramento, falta de ética e parasistismo dos que fazem e são cúmplices destas situações é incrível e, em vez de parar, só tem aumentado. Tudo à custa dos portugueses, tudo pago pelo Zé Povinho. Um vídeo que conta tudo e que vale a pena partilhar“, destaca-se no texto que acompanha a publicação, com origem num página denominada como “Roleta das Anedotas”.
A publicação em causa foi denunciada por vários utilizadores do Facebook e o Polígrafo, no âmbito da parceria que tem com aquela rede social, decidiu verificar a sua veracidade.
Terá Freitas Do Amaral explicado no âmbito de uma entrevista “como são roubados e enganados os contribuintes portugueses”?
Começando pela entrevista, confirma-se a sua veracidade. Foi transmitida em 2014 na RTP e está disponível no respetivo arquivo (pode conferir aqui).
“O Governo apresentou as contas para 2015. António Costa toma as primeiras decisões na liderança do PS. A crise no Grupo Espírito Santo pode chegar ao bolso dos contribuintes. Freitas do Amaral é um dos observadores mais qualificados do cenário político português. Antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e Presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, Freitas do Amaral vai conversar com Vitor Gonçalves”, salienta-se na descrição da entrevista.
Quanto ao excerto da entrevista difundido na publicação em análise, não se detecta qualquer tipo de manipulação, excepto no que respeita às legendas que extrapolam as declarações de Freitas do Amaral, ou acrescentam interpretações subjetivas.
Não obstante, Freitas do Amaral apresentou mesmo uma série de exemplos que podem ser enquadrados na conclusão de que terá explicado “como são roubados e enganados os contribuintes portugueses”. Não utilizou uma linguagem tão direta, mas os exemplos de práticas que descreveu estão próximos desses conceitos.
“Automóveis, é um exagero monstruoso, automóveis no Estado. Quem controla? Ninguém“, afirmou Freitas do Amaral na entrevista, a título de exemplo.
“Uma das maiores câmaras do país, não sei se a de Lisboa ou do Porto, fez um levantamento recentemente e tinha mais de 900 carros ao seu serviço”, prosseguiu. “Imagine o que não terão os ministérios e os institutos públicos e as empresas públicas. Eu acho que são milhares e milhares. E depois em alguns casos, não direi todos, em alguns casos há fraudes. Por exemplo, acredita que um Mercedes de luxo que vem para um ministro, ao fim de seis meses tem que mudar de motor, porque o motor avariou? Os Mercedes duram 20 anos, se for preciso… Está montado um esquema fraudulento que faz com que a maior parte dos carros do Estado vão para a oficina, gastam rios de dinheiro, para às vezes não se lhes fazer nada…”
“Viagens de funcionários públicos ao estrangeiro. Ninguém controla. São milhares e milhares de viagens de avião por mês! Ninguém controla. As próprias viagens dos ministros, secretários de Estado, assessores, chefes de gabinete, etc., ninguém controla. Quando eu passei pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, acabei com uma coisa, que espero que não tenha sido restabelecida, que era o seguinte: quem fosse numa viagem oficial ao estrangeiro, recebia, não só era tudo pago, como podia fazer compras para a família com cartão de crédito do Estado. Sem limite“, denunciou o ex-governante.
“Houve um ministro, meu colega, que se deslocou para uma conferência internacional que se realizava do outro lado do mundo, algures, não sei se era no Japão, se era na Austrália. As pessoas que eram necessárias para a participação na conferência era o ministro e mais três. Sabe quantas foram? 19! Eu recusei-me a assinar o despacho. Pessoas cuja missão era aceitar o convite do ministro para um passeio ao outro lado do mundo, à custa do Estado. Ouça, isto são casos diários, isto não é uma vez por ano, se fosse uma vez por ano não tinha importância nenhuma, mas isto é diário”, acrescentou.
Em suma, a publicação poderia ser classificada simplesmente como verdadeira, na medida em que as afirmações de Freitas do Amaral apontam no sentido da interpretação mais exagerada e subjetiva do título. No entanto, algumas legendas do vídeo extrapolam essas declarações a um tal ponto que suscita dúvidas sobre se não resvalam para a deturpação. Sobretudo na imagem de destaque do vídeo que apresenta a legenda “O Estado é corrupto” como se fosse uma citação de Freitas do Amaral, algo que não se confirma ao ouvir a entrevista.
Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam naquela rede social.
Na escala de avaliação do Facebook este conteúdo é:
Misto: as alegações do conteúdo são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou incompleta.
Na escala de avaliação do Polígrafo este conteúdo é:
|