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| - O que estão compartilhando: reprodução de manchete jornalística sobre falsificação em relatório enviado ao Congresso pelo ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional de Lula, general Gonçalves Dias. Legenda sobreposta à postagem diz que a tese de que os atos de vandalismo no 8 de janeiro teriam sido parte de uma tentativa de golpe de Estado seria uma “conclusão manipulada” a partir da falsificação do relatório citado na manchete.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. A postagem faz referência a uma notícia publicada pelo blog da jornalista Malu Gaspar, no jornal O Globo, em maio de 2023. A reportagem, de título “Ex-GSI de Lula falsificou relatório do 8/1 enviado à comissão de inteligência do Congresso”, informa que o ex-ministro Gonçalves Dias adulterou um dos documentos para excluir os registros de que ele foi avisado sobre o risco de tumulto e invasão. Como a íntegra da reportagem mostra, a manipulação feita no relatório dizia respeito apenas à possível responsabilidade por omissão de G. Dias.
Procurado, o responsável pela alegação defendeu que a publicação é apenas opinativa. Ele alega que o posicionamento de que o 8 de janeiro não foi uma tentativa de golpe é “amplamente discutido” no meio jurídico e político.
Leitores solicitaram checagem deste conteúdo por meio do WhatsApp do Estadão Verifica, pelo número (11) 97683-7490.
Saiba mais: postagens nas redes sociais resgatam uma notícia publicada no jornal O Globo em 2023 para argumentar que os atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro não teriam feito parte de uma tentativa de golpe. A publicação analisada aqui é ilustrada somente com o título da reportagem: “Ex-GSI de Lula falsificou relatório do 8/1 enviado à comissão de inteligência do Congresso”. O texto sobreposto ao conteúdo alega que essa informação seria o suficiente para “enterrar” a “narrativa de golpe” da invasão às sedes dos Três Poderes.
Em abril de 2023, diferentes veículos de imprensa, como o Estadão, revelaram que informes emitidos pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) advertiram sobre o risco de atos violentos no 8 de janeiro. A informação contradisse o que foi dito por oficiais do GSI à Polícia Federal (PF), uma vez que negaram ter recebido alertas sobre o risco de invasão.
Cabe ressaltar que, no mesmo mês, G. Dias, como é conhecido, pediu demissão do cargo de ministro-chefe do GSI. A decisão foi tomada após a divulgação de imagens do circuito interno do Palácio do Planalto, que colocaram em dúvida a atuação do general durante a invasão golpista.
O conjunto de documentos da Abin sobre o 8 de janeiro foi enviado à Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI) do Congresso Nacional. Em maio, o blog da jornalista Malu Gaspar noticiou que um dos documentos foi adulterado pelo GSI.
Conforme a apuração, o material era composto por dois relatórios da Abin. Uma comparação entre os documentos mostrou que o GSI, à época chefiado por Gonçalves Dias, manipulou o primeiro relatório enviado ao Congresso. A edição foi feita para retirar os registros de que G. Dias teria sido informado por mensagem sobre o risco de invasão e tumultos.
Em junho daquele ano, o Estadão noticiou que G. Dias admitiu ter editado o relatório da Abin enviado ao Congresso. Como justificativa, o general da reserva alegou que a informação de que fora avisado previamente estava errada – por isso, o documento teria sido modificado para correção.
“A CCAI solicitou ao GSI o que a Abin tinha produzido de informação. Esse documento passou para a Abin. A Abin respondeu com um compilado de mensagens de aplicativos”, disse. “Esse documento tinha lá, ‘ministro do GSI’, mas eu não participei de nenhum grupo de WhatsApp. Eu não sou o difusor daquele compilado de mensagens. Então o documento não condizia com a verdade. Esse era um documento. Ele foi acertado e enviado”, acrescentou.
Em agosto de 2023, o Estadão informou que uma sindicância do GSI, que buscava apontar “eventuais responsabilidades” de agentes do Gabinete no 8 de janeiro, defendeu a atuação do ex-ministro G. Dias. A investigação interna foi feita entre 31 de janeiro e 6 de junho daquele ano.
“Quanto à conduta adotada pelo então ministro Gonçalves Dias, de estar presente e atuando no interior do Palácio do Planalto durante as invasões, este sindicante chega à conclusão de que o militar tenha adotado técnicas de negociação e coordenação dos demais agentes do GSI, quanto à retomada das instalações, varredura dos andares e detenção dos manifestantes no segundo andar do Palácio, estando de acordo com o esperado de uma autoridade em sua posição naquela situação”, afirmou o relatório.
Em novembro, a CPI dos Atos Antidemocráticos aprovou o relatório final sobre os atos antidemocráticos. A Comissão sugeriu o indiciamento de 135 pessoas, sem o nome de G. Dias.
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Postagem descontextualiza notícia para minimizar ataques do 8 de Janeiro
A postagem verificada, que expõe apenas o título da reportagem do jornal O Globo, descontextualiza a notícia. A publicação desconsidera informações da própria matéria compartilhada, além de outras notícias sobre as investigações a respeito da tentativa de golpe publicadas posteriormente.
Atualmente, a Procuradoria-Geral da República (PGR) ainda investiga possíveis organizadores e financiadores dos atos antidemocráticos. Em 18 de fevereiro, o procurador-geral da República Paulo Gonet denunciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 33 pessoas no inquérito do golpe.
A denúncia da PGR, que contém 272 páginas, afirma que “as ações progressivas e coordenadas da organização criminosa culminaram no dia 8 de janeiro de 2023”. A data seria o “ato final voltado à deposição do governo eleito e à abolição das estruturas democráticas”. Segundo o documento, os denunciados teriam programado a ação violenta com “o objetivo de forçar a intervenção das Forças Armadas e justificar um Estado de Exceção” (página 28).
O Verifica procurou o responsável pela postagem, que manteve o posicionamento. Ele classificou como “grave” a modificação do relatório e defendeu que a afirmação de que o 8 de janeiro não configura tentativa de golpe é apenas opinião.
Por fim, o autor pediu para não ser “associado” aos envolvidos do 8 de janeiro e enviou postagens pessoais em que criticava os ataques aos Três Poderes.
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