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| - Os números são alarmantes: “23 milhões de quarentena, 2,8 milhões infetados, 112.000 mortos”. Em artigo publicado no dia 24 de janeiro acusa-se a República Popular da China de estar a esconder milhões de infetados com o novo coronavírus, revelando que a epidemia “está completamente fora de controlo e está a matar milhares todos os dias”.
“Às 18h do fuso horário Este dos EUA a 23 de janeiro, fontes da Covert Intelligence que são meus antigos colegas dos meus 15 anos nos FBI, os últimos cinco anos a tratar da Segurança Nacional, Terrorismo e Inteligência Secreta Estrangeira na Missão contra o Terrorismo e que estão presentemente na China, confirmam mais de 2,8 milhões de pessoas infetadas com cento-e-dose-mil (112.000) mortos até agora. Principal causa de morte: falência múltiplas de órgãos”, salienta-se no texto publicado na página “Hal Turner Radio Show”, dos EUA.
A tão grande diferença entre os números apresentados por Hal Turner e os números oficiais da Organização Mundial de Saúde (OMS) – na altura, segundo o artigo, tinham sido reportados “830 infetados e 25 mortes”, um valor igual ao registado no relatório de 24 de janeiro da OMS – é justificada no texto com a alegação de que “os hospitais ficaram sem kits de teste do vírus”. A fonte para esta informação é identificada como um “médico da linha da frente em Wuhan” e é ainda referido no texto que “milhares de mortos são levados diretamente para as incineradoras”.
Mas será verdade que a China tem escondido os verdadeiros números de infetados com o novo coronavírus?
Não encontramos dados fidedignos que sustentem factualmente tal alegação. O artigo contém algumas informações corretas – desde logo o número de cidades que foram bloqueadas na China como medida de contenção do vírus, ou o número de cidadãos afetados por esse bloqueio e a consequente corrida aos mantimentos -, mas a acusação principal é falsa. Ou pelo menos infundada. A China não tem 2,8 milhões de infetados nem está a incinerar os corpos dos mortos por Covid-19.
As fontes apresentadas no texto são pouco credíveis. A “Lead Stories” (plataforma de fact-checking norte-americana) sublinha que Hal Turner nunca foi funcionário do FBI, mas apenas um informador pago e que, de acordo com o Southern Poverty Law Center (SPLC), “fornecia informações sobre grupos de supremacia branca para o mesmo Governo que ele frequentemente criticava”.
Esta parceria entre Turner e o FBI terá durado cinco anos, entre 2003 e 2007. O agente especial do FBI, Steve Moore, explicou à “Lead Stories” que “os informadores do FBI pagos ou não pagos não estão autorizados, sob nenhuma circunstância, a apresentarem-se como funcionários ou representantes do FBI”.
Acresce que as autoridades chinesas partilharam as sequências do genoma de cinco cadeias do novo coronavírus com os demais países, o que tem tornado mais fácil a identificação dos pacientes infetados do nível mundial. O imunologista Anthony Fauci, diretor do Instituto de Alergias e Doenças Infecto-Contagiosas dos EUA, chegou mesmo a considerar que a China está a ser mais transparente agora do que foi em 2003, aquando da epidemia do coronavírus SARS. “Desta vez, do meu ponto de vista, eles parecem estar bem mais transparentes”, declarou em conferência de imprensa, no dia 24 de janeiro.
Mais de dois meses após a publicação feita por Hal Turner, os números de infetados e mortos com a Covid-19 fica muito aquém dos que são indicados no artigo. De acordo com os dados oficiais mais recentes, a China regista um total de 81.708 infetados e 3.331 mortos.
Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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