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| - “Porque estão erradas as aulas para a cidadania, especialmente a temática do género? Saber a resposta implica saber o que se está a ensinar. Seficarmos só por, são fascistas quem é contra, são democrata quem é a favor, é apenas alimentar o cretinismo da opinião e falhar o alvo”, começa por argumentar o autor da publicação em causa, apresentando depois uma série de “factos”.
“O guião, por exemplo do secundário, sobre esta temática foi realizado por 17 pessoas. Das 17 pessoas, 17 são mulheres”, alega no segundo “facto”.
Posteriormente, no quinto “facto”, aponta para “o exemplo de uma referência para o 10º ano, a ativista A. Rich”, exibindo duas imagens com citações da mesma: “A re-visão – o ato de olhar para trás, de ver com olhos novos, de entrar num texto velho a partir de uma perspetiva crítica nova – é para as mulheres mais do que um capítulo da história cultural: é um ato de sobrevivência”; “A existência lésbica compreende tanto a quebra de um tabu como a rejeição de um modo de vida obrigatório. É também um ataque direto ou indireto ao direito masculino de acesso às mulheres”.
Ao destacar a segunda citação, o autor sugere uma suposta promoção do lesbianismo no guião da disciplina, suscitando aliás vários comentários nesse sentido.
Confirma-se que o guião ou manual da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento foi concebido por 17 mulheres e promove o lesbianismo?
De acordo com a informação divulgada na página da CIG – Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género, os “Guiões de Educação Género e Cidadania” e “Conhecimento, Género e Cidadania no Ensino Secundário” (produzidos e editados pela CIG) são materiais científico-pedagógicos destinados à integração da igualdade de género nos currículos dos diferentes ciclos dos ensinos básico e secundário. Estes materiais pedagógicos dão cumprimento ao artigo 5º da Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres, da Organização das Nações Unidas.
Consultando o guião relativo ao ensino secundário (acessível por aqui) verificamos que foi concebido por 15 pessoas, entre as quais contamos 14 mulheres e um homem.
Quanto às duas citações da ensaísta, poeta e feminista norte-americana Adrienne Rich, falecida em 2012, confirma-se que a primeira está plasmada na página 182 do manual, mas não encontramos qualquer referência à segunda.
Também não detectamos qualquer conteúdo no manual que possa ser entendido como uma promoção do lesbianismo. Aliás, as relações homossexuais entre mulheres quase não são abordadas ao longo das mais de 500 páginas do manual. E quando o são é no sentido de obviar estereótipos, como no exemplo que passamos a transcrever:
“Na sequência de estudos efetuados por Key Deaux e Melissa Kite (1993) foi observado que é uma crença corrente que as mulheres com uma orientação homossexual apresentam características típicas dos homens e que os homens com uma orientação homossexual tendem a exibir comportamentos ditos femininos, o que não corresponde à realidade nem traduz
a diversidade de características de uma pessoa, independentemente da sua categoria sexual”.
Concluindo, a publicação sob análise difunde uma falsidade concreta (o guião não foi concebido por “17 mulheres”) e extrapola a referência a Adrienne Rich ao destacar uma citação que não consta do manual, sugerindo assim também uma ideia enganadora de promoção do lesbianismo (interpretação patente nos comentários e demais partilhas da publicação).
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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