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| - “Se você tem folhas de louro, não há necessidade de uma farmácia. Estudos científicos recentes mostraram que as folhas de louro têm muitos benefícios. Ajuda-o a livrar-se de muitos problemas e doenças graves de saúde”, indica-se no texto.
Segue-se uma lista dos supostos benefícios do louro: “o louro converte triglicéridos em gorduras mono”; “é útil no tratamento de gripes, constipações e tosse grave”; “protege o coração de convulsões e derrames, pois contém compostos de proteção cardiovascular”; “é rico em ácidos como ácido cafeico, quercetina, eigonol e bartolinídeo (substâncias que impedem a formação de células cancerígenas no corpo)” e “regula o movimento intestinal”.
Confirma-se?
“A primeira afirmação nem sequer faz sentido de um ponto de vista bioquímico. Os triglicéridos são constituídos por ácidos gordos, e esses sim podem ser saturados, monoinsaturados ou polinsaturados”, explica Sérgio Veloso, pós-graduado em Nutrição Clínica e mestre em Biologia Humana pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. De acordo com a Direção-Geral da Saúde, as gorduras monoinsaturadas são “o tipo de ácidos gordos que o nosso organismo melhor tolera”. O consumo deste tipo de gorduras está associado à “diminuição da fracção LDL”, o chamado “mau colesterol”. Tipos de gorduras mono são, por exemplo, o azeite, frutos secos ou o abacate.
Em relação à folha do louro, o especialista destaca que “a grande maioria dos estudos são in vitro, cultura de células ou modelos animais (coelho ou rato)” e que “a extrapolação desses resultados não pode ser feita pelos motivos óbvios da diferença fisiológica, mas também porque a qualidade dos estudos não o permite”.
Além disso, como explica Veloso, “os animais são expostos aos compostos isolados, concentrados, ou a quantidades de louro que não são passíveis de ingestão pelo ser humano”.
“Convém não esquecer que os animais são expostos aos compostos isolados, concentrados, ou a quantidades de louro que não são passíveis de ingestão pelo ser humano”, sublinha.
Sérgio Veloso assume que os “únicos estudos” que conhece realizados em seres humanos foram feitos através da administração do louro “na forma de chá e com efeitos clinicamente insignificantes mesmo que estatisticamente significativos nos níveis de HDL [o chamado ‘colesterol bom’]”. O que o leva a concluir que, “por mais romântico que possa ser, não há evidência clínica” para as teorias sobre os benefícios do louro para a saúde.
Questionada pelo Polígrafo, Helena Real, nutricionista e secretária-geral da Associação Portuguesa de Nutrição, explica que “embora existam alguns estudos afirmando que a folha de louro poderá ter benefícios na redução do colesterol, os resultados não serão suficientes para atestar, com certeza, os efeitos do consumo de louro”.
A especialista esclarece ainda que, uma vez que os estudos são realizados in vitro ou com uma amostra reduzida de participantes, “se torna quase impossível controlar totalmente todos os outros fatores que envolvem o estilo alimentar do indivíduo e aplicar exatamente as mesmas condições a todos os indivíduos que participem nestes estudos”.
As recomendações de doses e a duração de consumo também devem ser tidas em conta. Além disso, a quantidade de louro utilizada na culinária “nunca é muito elevada”.
As recomendações de doses e a duração de consumo também devem ser tidas em conta. Além disso, a quantidade de louro utilizada na culinária “nunca é muito elevada”.
Aliada a uma alimentação saudável, a planta pode ter propriedades e compostos benéficos mas Helena Real ressalva que não deve “ser indicado o uso exclusivo de determinados alimentos para o tratamento de doenças”. Tudo porque, volta a defender, “é necessária mais investigação que consiga comprovar o efeito específico do consumo de folha de louro”.
Uma saúde melhor, de acordo com a nutricionista, passa por ter “uma alimentação equilibrada e variada, rica em hortofrutícolas e evitando o consumo excessivo de alimentos ricos em gordura e açúcar”, além da “prática regular de exercício físico“.
Em suma, nenhuma das alegações patentes na publicação são válidas do ponto de vista científico.
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Nota editorial 1: este texto foi atualizado às 13:00 do dia 03/09/2020 com a substituição da palavra “médica” por “especialista”. Foi ainda substituída a apresentação de Sérgio Veloso: onde se podia ler “nutricionista”, lê-se agora “pós-graduado em Nutrição Clínica” e “mestre em Biologia Humana pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa”. Esta correção não altera a avaliação inicial dada pelo Polígrafo. Pedimos desculpas aos nossos leitores pelo lapso.
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Nota editorial 2: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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