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  • Compartilhado como prova de que "tratamento precoce" funciona (veja aqui), um estudo da Prefeitura de Sorocaba (SP) que apontou que a azitromicina e a ivermectina foram eficazes em 99% de pacientes com Covid-19 que ingeriram as drogas tem problemas metodológicos que invalidam seu resultado. Segundo cientistas ouvidos por Aos Fatos, são exemplos de erros: - O estudo analisou apenas 123 pacientes com sintomas da doença, número baixo demais para atestar a eficácia de um tratamento ou medicamento; - Não houve grupo que ingeriu placebo para que se pudesse comparar os resultados com os de quem tomou os medicamentos; - Não há informações sobre as características dos pacientes analisados, como idade e comorbidades. Até o momento, nenhum estudo sólido nacional ou internacional demonstrou que remédios que compõem o dito "tratamento precoce", como a azitromicina e a ivermectina, sejam eficazes para tratar infecções pelo novo coronavírus. Publicada inicialmente pela própria prefeitura em suas redes sociais, a postagem acabou sendo excluída horas mais tarde. Isso, no entanto, não impediu que diversos sites e usuários nas redes sociais divulgassem a desinformação no Facebook, onde acumula mais de 3.000 compartilhamentos. As peças foram marcadas com o selo FALSO na ferramenta de verificação da plataforma (veja como funciona). Estudo preliminar aponta 99% de eficácia do tratamento precoce - Prefeitura de Sorocaba Um estudo preliminar da prefeitura de Sorocaba (SP) não prova que "tratamento precoce" funciona em 99% dos casos de Covid-19, como alegou o município em postagem publicada nas redes sociais e posteriormente apagada. Cientistas ouvidos por Aos Fatos apontaram falhas metodológicas que impedem que o resultado seja considerado confiável. Segundo a prefeitura, a pesquisa monitorou por telefone 123 pacientes com sintomas de Covid-19 que tomaram azitromicina e ivermectina por dez dias. Desses, apenas um teria morrido no período, o que resultaria em “99% de eficácia”. Entretanto, o cálculo de eficácia de um tratamento exige maior rigor, com estudos clínicos controlados. Conforme já explicado por Aos Fatos, estudos deste tipo devem separar de forma aleatória os voluntários em dois grupos (um em que os participantes vão receber a droga e outro que tomará um placebo). Dessa maneira, no final do estudo, é possível comparar os efeitos do tratamento estudado tendo o grupo que não recebeu o medicamento como parâmetro. “A gente só pode dizer que uma intervenção [uso de remédio] foi eficaz se você tiver dois grupos homogêneos e um deles não fez essa intervenção [tomou a droga]. Então, se tudo for igual entre esses dois grupos, exceto a intervenção, você consegue observar a relação causal entre essa intervenção e o desfecho analisado”, explicou o médico especialista em oncologia clínica pelo Inca (Instituto Nacional de Câncer) Felipe Ades. Sem uma comparação com um grupo placebo sequer é possível dizer que o tratamento trouxe algum benefício. Como a maioria dos casos de Covid-19 não evolui para um quadro grave e a letalidade da doença no Brasil é de 2,7%, não é possível determinar precisamente se o medicamento teve efeito ou se foi a infecção que seguiu o curso natural. Outra característica necessária a estudos que se propõem a calcular a eficácia de um medicamento é o chamado “duplo-cego”, quando nem pesquisadores nem voluntários sabem quem está ou não no grupo placebo. Isso é importante porque evita o enviesamento da análise, como pode ocorrer se médicos selecionarem pacientes com menos comorbidades para o grupo que receberá o medicamento. A prefeitura de Sorocaba foi questionada por Aos Fatos duas vezes nesta quinta-feira a respeito do uso de grupo placebo, mas não respondeu até a publicação desta checagem. Por fim, a prefeitura erra ainda ao comparar a letalidade dentro do grupo de 123 pessoas que tomaram o medicamento (0,81%) com a letalidade geral da doença na cidade (2,7%) e no estado de São Paulo (3,2%). Segundo a epidemiologista Denise Garrett, vice-presidente do Instituto de Vacina Sabin, o número de analisados é pequeno demais para representar as populações municipal e estadual, que contêm idosos e pessoas com comorbidades e que, consequentemente, têm maiores chances de evolução para casos graves da doença. A respeito dos critérios para escolha dos voluntários, a prefeitura de Sorocaba disse apenas que a amostra considerou pacientes "de diferentes características, gêneros e idades". Tratamento. Não existe, até o momento, nenhum medicamento que seja capaz de prevenir ou tratar a Covid-19. Os dois remédios citados pela prefeitura de Sorocaba, azitromicina e ivermectina, não apresentaram resultados em experimentos em humanos e, portanto, não podem ser considerados como “tratamento precoce”. O antibiótico azitromicina, por exemplo, foi objeto de um ensaio clínico no Reino Unido com 16.442 pacientes que receberam o medicamento por 10 dias. Os resultados, publicados na revista científica Lancet em fevereiro de 2021, atestaram que não houve nenhum benefício observado em tempo de hospitalização, mortalidade ou até necessidade de ventilação. Já o efeito do vermífugo ivermectina ainda está sendo pesquisado. Como os estudos publicados ainda são iniciais (estudos com células in vitro, por exemplo), não é possível atestar a eficácia do medicamento. A OMS (Organização Mundial de Saúde) não recomenda seu uso no tratamento da Covid-19. Disseminação. A viralização da informação falsa começou no Instagram, quando o perfil oficial da prefeitura de Sorocaba publicou uma imagem com os dizeres “Estudo preliminar aponta 99% de eficácia do tratamento precoce”. Após a repercussão negativa, o post foi excluído e substituído por outro conteúdo, mais evasivo. Reproduções do post original da prefeitura seguem circulando nas redes sociais. Segundo a prefeitura, a postagem foi apagada porque "gerou dúvidas" se era referente à eficácia dos medicamentos ou apenas à amostragem avaliada no estudo preliminar. O Estadão Verifica também checou esta peça de desinformação.
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