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  • “Comentários para quê, só mesmo os imbecilizados pela doutrina partidária e pela ideologia poderiam defender este vigarista, traidor e assassino”, lê-se na descrição de um post de 12 de maio, divulgado no Facebook. A imagem que acompanha esta frase parece assemelhar-se a um recorte de jornal onde a frase “Em caso de emergência, atiraremos sobre os colonos brancos” surge associada a Mário Soares. Supostamente, terá sido proferida durante uma entrevista, em 1974, à revista alemã “Der Spiegel”. O Polígrafo consultou a edição de 18 agosto de 1974 da “Der Spiegel”, onde consta a entrevista do então ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo provisório. Numa altura em que o Governo Provisório estava prestes a conceder a independência às colónias da Guiné-Bissau, Angola e Moçambique, a revista começa por questionar Soares sobre se um Governo de Transição, empossado por um golpe militar, teria a “legitimidade para tomar uma decisão tão histórica”. “Isso foi o que nós nos perguntámos logo a seguir à revolução de 25 de Abril. Ponderámos se a descolonização se deveria empreender só depois das eleições regulares. Mas verificou-se que o problema era candente, que surgiam no processo algumas dificuldades e demoras. E assim convencemo-nos de que precisávamos de nos apressar”, respondeu Soares, que pouco depois fora confrontado com o sentimento de “traição” que muitos brancos nas colónias portuguesas sentiam por em relação a Lisboa. Para o então ministro, se estes “acreditaram nos slogans do antigo regime – que Angola é nossa e sê-lo-á para sempre, e que não são colónias mas simplesmente ‘províncias ultramarinas’ – então terão razão em sentir-se traídos. Mas, na realidade, a traição é do regime de Salazar e Caetano que quiseram fazer esta gente acreditar que seria possível oferecer resistência ao mundo inteiro e à justiça”. É já na reta final da entrevista que a possibilidade de alguns colonos brancos não quererem regressar a Portugal é abordada, já que estes tentavam “formar exércitos de mercenários” para se oporem aos movimentos de libertação. “Em Angola, nos últimos tempos, radicais brancos de direita provocaram confrontos raciais sangrentos. Pode Lisboa impedir que brancos desses, especialmente em Angola, tomem o poder?”, questionou a Spiegel, ao que Mário Soares respondeu: “Penso que sim.” Mas como? “O exército em Moçambique e em Angola é completamente leal para com os que fizeram a Revolução de 25 de Abril. E o exército não permitirá que mercenários brancos ou grupos semelhantes se levantem contra o exército. Tentativas haverá certamente. Em Moçambique já as houve. Em Angola haverá certamente uma série de atos mais ou menos desesperados e perigosas tensões raciais. Apesar disso, julgo que por ora o exército pode e fará manter a ordem – a ordem democrática”, afirmou Soares, antes de serem feitas as questões que a seguir transcrevemos: SPIEGEL – Portanto, se necessário, o exército português fará fogo sobre portugueses brancos? MÁRIO SOARES – Não hesitará nem pode hesitar. O exército já mostrou que tem mão forte e quer manter a ordem a todo o custo. SPIEGEL – Apesar do exército, não se pode excluir a hipótese de os brancos se declararem independentes, como já foi o caso na Rodésia. Pelo menos Angola poderia suportar economicamente uma solução desse tipo. MÁRIO SOARES – De princípio, no primeiro mês da Revolução, tive muito receio de que isso pudesse acontecer. Mas quanto mais o tempo passa, mais difícil se tornará uma tentativa dessas. Em suma, a frase atribuída a Mário Soares na publicação em análise não mais foi do que uma pergunta feita ao então ministro dos Negócios Estrangeiros, com a qual o próprio, no entanto, concordou.
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