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| - “Asilo na Alemanha converte-se em abrigo para idosos que fogem da Holanda com medo de serem vítimas de eutanásia a pedido da família. São quatro mil casos de eutanásia por ano, sendo um quarto sem aprovação do paciente”, escreve-se na publicação em causa.
E prossegue: “O novo asilo na cidade alemã de Bocholt, perto da fronteira com a Holanda, foi ao encontro do desejo de muitos holandeses temerosos de que a própria família autorize a antecipação de sua morte. Eles se sentem seguros na Alemanha, onde a eutanásia tornou-se tabu depois que os nazistas a praticaram em larga escala, na Segunda Guerra Mundial, contra deficientes físicos e mentais e outras pessoas que consideravam indignas de viver”.
Mas será verdade? Verificação de factos.
O Polígrafo não encontrou qualquer referência a um “asilo” localizado na Alemanha nem quaisquer provas de que existam de facto idosos a fugir dos Países Baixos. Contudo, não é a primeira vez que esta informação é propagada. O próprio PCP em 2018, num texto de perguntas e respostas relativo ao debate da eutanásia, refere que “relatos vindos da Holanda, onde a morte antecipada está instituída na lei, dão conta de idosos com maiores rendimentos que emigram para as zonas de fronteira com a Alemanha para evitarem a possibilidade de serem eutanasiados“.
Francisco Louçã, fundador do Bloco de Esquerda, nesse mesmo ano publicava o seguinte no seu perfil de Facebook: “Não é Opus Dei, é o PCP a escrever esta fábula: os ricos holandeses fogem do país com medo de serem eutanasiados. Cria vergonha alheia e não imaginei nunca que um partido como o PCP chegasse a este ponto.”
O Polígrafo contactou o PCP para perceber onde foram obtidas as informações e foi-nos enviada uma reportagem alemã de 2015. A reportagem fala das diferenças em lidar com a morte na Alemanha e nos Países Baixos (uma vez que na Alemanha não é permitida a eutanásia e nos Países Baixos é), num lar de terceira idade situado na fronteira entre os dois países. O texto conta que foi agregada uma parte alemã ao lar holandês e explica como os utentes encaram a morte. Em nenhum momento da reportagem é dito que os holandeses fogem “para evitarem a possibilidade de serem eutanasiados”. Pelo contrário, é referido que o lar é alvo de um “boato estranho”.
“(…) Persiste um boato estranho: os alemães cansados da vida são atraídos para a parte holandesa, os holandeses que não estão dispostos a morrer se refugiam em quartos do lado alemão. Claro que isso não é verdade – especialmente porque os alemães não podem ser atendidos apenas pelo lado holandês, apenas por razões de seguro. Mas esse boato mostra melhor do que qualquer outra coisa o quão carregado o debate sobre a eutanásia é.”
A reportagem, para além de ser antiga, nada mais faz que traçar uma imagem de como é a vida num lar na fronteira entre a Alemanha e os Países Baixos, debatendo, simultaneamente, a questão da eutanásia com base em alguns testemunhos dos utentes. Em suma, o meme sob análise e o texto do PCP estão a difundir falsidades.
Quatro mil casos de eutanásia por ano?
No meme escreve-se também que “são quatro mil casos de eutanásia por ano, sendo um quarto sem aprovação do paciente”. De acordo com o “Regional Euthanasia Review Comittees“, a solicitação da eutanásia só pode ser feita pelo paciente em questão sendo que este tem de estar em plena posse das suas capacidades. Ou seja, e segundo a legislação em vigor, seria impossível que um médico eutanasiasse um paciente sem o seu consentimento.
Anualmente, no mesmo site, são publicados relatórios com o número de pessoas que solicitaram a morte assistida. Em 2016 foram contabilizados 6,091 pedidos de eutanásia; em 2017 o número foi de 6,585 e, em 2018, fixou-se nos 5,898. Os dados de 2019 ainda não estão disponíveis mas, até agora, têm-se verificado mais de quatro mil casos por ano, o que torna a informação difundida no meme em questão falsa.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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