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| - A publicação surge com um tom irónico: “Parabéns! Você vive no segundo país europeu com pior resposta do Serviço Nacional de Saúde a todas as doenças. Pior que vocês só os letónios.” Nos comentários, a autora da publicação cita um relatório da Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho, publicado pela Eurofound.
Mas será que se confirma esta afirmação?
Não. O relatório em questão não analisa a qualidade da resposta do Serviço Nacional de Saúde (SNS), mas sim o impacto que a pandemia teve na economia dos países europeus – abordando temas como o trabalho, a escolaridade e os serviços de saúde. Os dados que supostamente sustentam a afirmação da publicação dizem respeito à percentagem de “necessidades não atendidas nos cuidados de saúde durante a pandemia”, o que não corresponde a uma avaliação à qualidade do SNS ou à forma como os médicos portugueses atuam perante as doenças.
“Mais de um quinto (21%) das respostas [ao inquérito online] falharam exames médicos ou tratamentos durante a pandemia”, avança o relatório. Segundo o gráfico apresentado, Portugal surgia como o terceiro país com maior percentagem de necessidades não atendidas durante primavera de 2020, tendo passado para segundo pior na primavera de 2021. Esta mudança é justificada pela substancial melhoria no atendimento registado na Lituânia – que desceu de perto de 40% para pouco mais de 25%, abandonando assim o primeiro lugar.
Este gráfico mostra ainda outro erro na publicação: como é referido num artigo do jornal “Médico” – que foi citado pela autora nos comentários – “os países com maiores taxas de atos médicos prejudicados na União Europeia foram a Hungria (36%), Portugal (34%) e a Letónia (29%)”. Segundo estes dados, a Hungria foi o país que apresentou um resultado pior que Portugal e não a Letónia.
É verdade que houve uma descida significativa do número de consultas médicas presenciais realizadas durante a pandemia, uma situação para a qual a Ordem dos Médicos e outras entidades ligadas à saúde – entre as quais o IPO – têm vindo a alertar. Segundo os dados disponibilizados pelo Portal da Transferência, em fevereiro de 2020 (antes de ser identificado o primeiro caso positivo em Portugal) foram realizadas 1.704.185 consultas, enquanto em setembro de 2021 (dados mais recentes) foram contabilizadas 1.292.988 consultas. Abril de 2020 foi o mês com menos consultas de sempre, tendo registado 461.685 –quatro vezes menos consultas do que as realizadas dois meses antes. Os períodos de confinamento coincidem com os valores mais baixos do gráfico.
Portugal não tem dos piores serviços de saúde da Europa
Na publicação de Facebook pode ler-se que o SNS é “o segundo pior da Europa”, no entanto essa afirmação é também falsa. Segundo o relatório mais recente do Index Europeu para a Saúde do Consumidor, que se refere a 2018, Portugal ocupa o 13.º lugar de uma lista composta por 35 países. Esta classificação é, segundo o próprio SNS, “a melhor de Portugal desde o início deste índice, em 2006”.
No entanto, a avaliação feita pelos portugueses ao SNS coloca-o abaixo da média da União Europeia. Segundo o relatório da OCDE e da Comissão Europeia “Resumo da Saúde: Europa 2020 – O estado da saúde no ciclo da UE”, com dados referentes a 2016, os portugueses atribuem uma nota média de 6,8 (numa escala de 0 a 10) ao atendimento por médicos de família e em centros de saúde e de 6,4 aos serviços especializados nos hospitais. A média da UE é 7,3 e 6,9 respetivamente.
Este documento, publicado em dezembro de 2020, analisa diversos fatores relacionados com a saúde na União Europeia. Portugal surge entre os 10 países europeus com maior esperança de média de vida (84,5 nas mulheres e 78,3 nos homens), ocupando a sétima posição entre os 27 estados-membros.
Na taxa de mortalidade em doenças evitáveis, Portugal ocupava, em 2017, o 10.º lugar na prevenção das causas de mortalidade e o 14.º no tratamento das causas de mortalidade. Em ambos os parâmetros, Portugal surgia acima da média da UE.
A mesma conclusão é referida no “Perfil de Saúde do país 2019”: “A mortalidade em Portugal, tanto por causas evitáveis como por causa tratáveis, está agora abaixo das médias europeias. Taxas de hospitalizações evitáveis muito baixas são indicativas da eficácia geral dos serviços de cuidados primários.”
Este relatório, realizado pela OCDE e pelo Observatório Europeu para os Sistema e Políticas de Saúde, identifica ainda a existência de uma discrepância acentuada entre a forma como os ricos e pobres encaram a saúde: “Cerca de 61 % dos portugueses no quintil de rendimentos mais alto consideram estar de boa saúde, comparativamente a cerca de apenas 39 % no quintil de rendimentos mais baixo, bastante abaixo das médias da UE (80,4 % e 61,2 % respetivamente).”
É importante focar que as análises presentes nestes relatórios – apesar de serem os mais recentes à data – têm como base dados anteriores à pandemia da Covid-19. O impacto do coronavírus nos serviços de saúde a nível nacional e europeu só poderão ser analisados em novos relatórios que deverão ser divulgados brevemente.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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