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| - “Se o crescimento económico fosse fantástico, se a política portuguesa estivesse fantástica, as pessoas não se iam embora. As pessoas emigraram no tempo da troika com o aperto e agora deixariam de emigrar. Quantas pessoas emigraram de 2016 até 2019? Já com as projeções de 2019… 330 mil pessoas. Não sei se têm noção disso. Emigraram 330 mil pessoas. Não é porque estejam contentes”, afirmou ontem Rui Rio, líder do PSD, no debate em que enfrentou António Costa, líder do PS e atual primeiro-ministro.
Foi uma das declarações mais marcantes do debate de ontem à noite, o último de uma série com os líderes dos principais partidos que se candidatam às eleições legislativas, agendadas para o dia 6 de outubro. Confirma-se que entre 2016 e 2019 emigraram 330 mil pessoas de Portugal? Verificação de factos.
Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE) estão plasmados no relatório de “Estimativas de População Residente em Portugal – 2018“, divulgado no dia 14 de junho de 2019.
“Em 31 de dezembro de 2018, a população residente em Portugal foi estimada em 10.276.617 pessoas, menos 14.410 que em 2017. Este resultado traduziu-se numa taxa de crescimento efetivo negativa de 0,14%. A tendência de decréscimo populacional mantém-se, ainda que atenuada nos dois últimos anos. A desaceleração do decréscimo populacional em 2018 resultou da melhoria do saldo migratório (de 4.886 pessoas em 2017 para 11.570 pessoas em 2018), já que o saldo natural negativo se agravou (de -23.432 em 2017 para -25.980 em 2018)”, destaca-se no resumo do relatório.
“O envelhecimento demográfico em Portugal continua a acentuar-se: quando comparada com 2017, a população com menos de 15 anos diminuiu para 1.407 566 (menos 16.330 pessoas) e a população com idade igual ou superior a 65 anos aumentou para 2.244.225 pessoas (mais 30.951), representando, respetivamente, 13,7% e 21,8% da população total. A população mais idosa (idade igual ou superior a 85 anos) aumentou para 310.274 pessoas (mais 12.736). Em 2018, uma em cada duas pessoas residentes em Portugal tinha acima de 45,2 anos, o que representa um acréscimo de 4,4 anos em relação a 2008″, acrescenta-se.
“No futuro, mantêm-se as tendências de redução da população e de envelhecimento demográfico. Portugal poderá perder população até 2080, passando dos atuais 10,3 milhões para 7,9 milhões de residentes, ficando abaixo dos 10 milhões em 2033. A população jovem poderá ficar abaixo do limiar de 1,4 milhões já em 2019 (1 393 513) e do limiar de 1 milhão em 2074 (995.647). O número de idosos passará de 2,2 em 2018 para 2,8 milhões em 2080″, conclui-se.
Ora, para conferir o número indicado por Rui Rio é necessário consultar os dados em bruto, compilados no “Quadro 1: População e indicadores demográficos, Portugal 2008-2018” (pode aceder aqui à versão em Excel) do relatório.
Nesse quadro verifica-se que, em 2016, o número total de emigrantes registados foi de 97.151 (38.273 emigrantes permanentes e 58.878 emigrantes temporários), seguindo-se 81.051 em 2017 (31.753 permanentes e 49.298 temporários) e 81.754 em 2018 (31.600 permanentes e 50.154 temporários).
Ainda não há dados relativos ao ano em curso de 2019, pelo que o número total de emigrantes registados durante a presente legislatura é de cerca de 260 mil (ou 259.956, mais rigorosamente).
Rui Rio ressalvou que o número evocado – 330 mil – incluiria as “projeções de 2019“. O problema é que não encontramos tais projeções nos dados do INE, nem nas estimativas do Observatório da Emigração que o líder do PSD indicou como fonte.
Para alcançar o número de 330 mil no final de 2019, basta que o número de emigrantes durante este ano seja de cerca de 70 mil, inferior à média dos últimos anos. Ou seja, é muito provável que o número evocado por Rui Rio seja confirmado no final do ano, ou mesmo superado.
No entanto, o facto é que, neste momento, não tem base de sustentação factual. Até porque não há “projeções de 2019”. Sendo rigoroso, o líder do PSD só poderia ter indicado os números conhecidos até 2018. Optando por acrescentar uma componente virtual, ou de estimativa com base na média dos últimos anos, proferiu assim uma declaração imprecisa.
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Avaliação do Polígrafo:
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