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| - A falsidade não é nova, mas voltou a ser reciclada, como acontece muitas vezes com a desinformação que circula nas redes sociais. Na última sexta-feira, 6, uma utilizadora do Facebook partilhou uma imagem da líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, no “Grupo de Apoio ao Juiz Carlos Alexandre”, acompanhada da seguinte frase: “A verdade é que considero a cultura islâmica superior à portuguesa e apenas com a aceitação de mais refugiados é que este país pode progredir”. Para dar credibilidade à frase é ainda escrito que foi dita ao jornal Expresso a 15 de fevereiro de 2017. Apesar de a frase ser falsa e da líder bloquista nunca a ter dito, o post foi partilhado mais de 170 vezes em menos de 24 horas.
Já em novembro de 2018 Catarina Martins tinha sido vítima de fake news, exatamente com esta mesma imagem e a mesma frase (erros ortográficos incluídos). Na altura, o conteúdo foi partilhado na página do Partido Nacional Renovador e o caso foi denunciado pelo Polígrafo. Além da confirmação do assessoria do Bloco (do assessor João Curvêlo) de que Catarina Martins nunca tinha proferido tal frase, o Polígrafo constatava na altura que o semanário Expresso nem sequer saiu nesse dia para as bancas (15 de fevereiro de 2017 foi uma quarta-feira sem feriados por perto). Ainda assim, a frase poderia ter sido dita ao Expresso diário ou ao site do Expresso, o que o jornal confirmou que nunca aconteceu.
O post do PNR, na altura, vinha acompanhado de uma lição de liberdade religiosa e respeito pela diversidade cultural: “A ser verdade, cumpre-nos informar (…) Não há culturas superiores e inferiores, pelo simples facto de que não há ‘métrica’ para as medir. As cultura são só diferentes umas das outras”. E continuava com acusações de xenofobia e de ignorância a Catarina Martins: “Estas declaração é profundamente xenófoba porque discrimina as culturas. Só podia vir de uma esquerdista ‘pseudo-encartada’ e ignorante.”
Um dia depois de o caso ser noticiado, o PNR colocou o funcionário responsável pelo conteúdo sob alçada disciplinar. Em declarações ao Polígrafo, o secretário-geral do partido, confirmou que esse membro do partido estava a ser alvo de uma ação disciplinar e admitia que o post foi “um excesso”. Apesar deste pedido de desculpas, Catarina Martins já tinha sido alvo de várias ofensas a partir desse post. O próprio líder do PNR, José Pinto-Coelho, foi depois vítima de “memes” satíricos com uma frase atribuída a si que — embora dita num registo humorístico — também não correspondia à realidade.
Voltando ao caso de Catarina Martins, apesar de todo o mediatismo do caso em novembro de 2018, a verdade é que menos de um ano depois a frase voltou a ser apresentada como se fosse verdadeira. Bastou ser partilhada por outra pessoa e logo começaram as partilhas, onde se mostra que os utilizadores acreditam que a frase é verdadeira. O novo post fez com que nas últimas horas tenham regressado as críticas e ofensas à líder bloquista.
A forma como os utilizadores reagiram demonstra que a mentira conseguiu sobreviver à verificação de factos de 2018 e reaparecer em força em período de pré-campanha eleitoral.
Quanto ao posicionamento do partido relativamente à diversidade cultural, o manifesto fundador é claro, com os signatários a comprometerem-se a apresentar “propostas que combatam efetivamente todas as formas de discriminação ou exclusão baseadas no sexo, na religião, na pertença étnica, na preferência sexual, no nível de rendimento, no acesso ao emprego, na região onde se vive”. Quanto à questão dos refugiados, também abordada na frase inventada, o Bloco tem uma posição clara de defesa dos refugiados e da integração plena dos mesmos na sociedade portuguesa.
Conclusão
É absolutamente falso que Catarina Martins tenha dito que a cultura islâmica é superior à portuguesa ou que só com mais refugiados o país pode progredir. A frase falsa começou a circular em novembro 2018, foi na altura alvo de verificação de factos, mas voltou a surgir esta sexta-feira em pleno período de campanha eleitoral como se fosse verdadeira. Desta vez não foi um partido político a difundir a falsa mensagem, mas um utilizador num grupo de Facebook onde já foram detetados vários posts de desinformação ao longo dos últimos meses.
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