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  • A questão das temperaturas elevadas tem sido cada vez mais discutida, sobretudo nos últimos meses, com a Europa a registar as temperaturas mais elevadas de sempre, com aconteceu em Itália, em julho, com os termómetros a marcar a temperatura máxima de 48 graus. No entanto, a par das sucessivas ondas de calor, surgiram também nas últimas semanas várias informações sobre a forma como a Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) supostamente faz estas medições. Uma das publicações partilhadas refere então que os “recordes de calor foram ultrapassados, porque a ESA passou a usar as temperaturas da superfície da Terra, e não as do ar, 2 metros acima da superfície, o que significa que mudaram os protocolos de medição“. Esta hipótese, de que a ESA passou a considerar a temperatura do solo e não a do ar, subindo automaticamente os valores das temperaturas médias, não tem, no entanto, fundamento. Primeiro, não é a ESA a entidade responsável por fazer a monitorização das temperaturas, apesar de os seus satélites registarem as temperaturas. Como explicou ao Observador Diamantino Henriques, meteorologista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), “quem tem a obrigação de monitorizar o clima e quem tem obrigação de esclarecer normas e procedimentos é a Organização Mundial de Meteorologia [OMM]”. Aliás, julho foi considerado o mês mais quente de sempre e essa informação foi avançada pela Organização Mundial de Meteorologia. “A ESA é uma agência espacial, assim como a NASA. Tem os seus programas dedicados à exploração espacial e, inclusivamente, à observação da Terra, mas não tem nenhuma obrigação de ter este serviço [satélites que medem a temperatura]. A ESA pode obter os valores de temperatura com os seus satélites, mas esta informação não é vinculativa. Quem estabelece as normas e regras para este tipo de informação é a OMM”, explicou Diamantino Henriques. Além de a publicação partilhada nas redes sociais estar errada em relação à entidade responsável pela definição de regras e normas meteorológicas, os métodos de mediação também não foram alterados. Ou seja, não passou a considerar-se a temperatura do solo em vez da temperatura do ar. “Do ponto de vista da OMM, não houve ainda nenhuma alteração nesse sentido”, esclareceu o meteorologista do IPMA. E aqui é a própria ESA, aliás, que esclarece também as diferenças que existem entre recolher informações da temperatura no solo e no ar (a cerca de um metro e meio da superfície). “A temperatura da superfície da terra é o quão quente a superfície da Terra se sente ao toque. A temperatura do ar, que é dada pelas nossas previsões meteorológicas diárias, mede o quão quente o ar está acima do solo”, lê-se num dos comunicados da ESA a 18 de julho deste ano. Existe, portanto, uma diferença entre a medição da temperatura do solo e a medição da temperatura do ar. Ou seja, a ESA consegue fazer as duas medições, mas só as do ar são tidas em conta depois pela OMM para afirmar, por exemplo, que a Europa está a atravessar uma onda de colar, ou que as temperaturas máximas vão atingir novos recordes. “Os cientistas monitorizam a temperatura da superfície terrestre [do solo] para entender e prever melhor os padrões climáticos, assim como monitorizar os incêndios”, explicou a ESA no mesmo comunicado. “Estas medições [da temperatura do solo] são igualmente importantes para os agricultores que otimizam a rega das suas plantações e para os gestores urbanos, que procuram melhorar as estratégias de mitigação de calor”, acrescentou. A ESA mostra no seu site mapas sobre a temperatura do solo, mas avisa sempre que “enquanto as previsões meteorológicas usam as temperaturas previstas do ar, este instrumento de satélite mede a quantidade real de energia que irradia da Terra — e retrata a temperatura da superfície terrestre”. “Portanto, o mapa mostra a temperatura real da superfície da terra, que é significativamente mais quente do que as temperaturas do ar.” Conclusão A informação partilhada no Facebook não é verdadeira. A ESA regista as temperaturas do solo e do ar, mas apenas os dados sobre as temperaturas do ar são considerados para registo de recordes de temperaturas. Além disso, não é a ESA que é responsável por determinar que é alcançado um recorde de temperatura, mas sim a Organização Mundial de Meteorologia. A ESA regista apenas os valores das temperaturas através dos seus satélites, mas é a OMM que tem poder vinculativo e, além disso, não foi determinada qualquer mudança nos critérios para medição das temperaturas. Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é: ERRADO No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é: FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos. NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
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