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  • A denúncia partiu de um membro da Comissão Política do Alternativa Democrática Nacional (ADN), o partido que acolhe ex-militantes do Chega e que sucedeu ao Partido Democrático Republicano de António Marinho e Pinto. Utilizando argumentos como uma suposta “doutrinação” do Governo que pretende “eliminar a família natural”, numa publicação datada de 17 de setembro denuncia-se que o Plano Nacional de Leitura para 2017-2027 (PNL 2027) recomenda um livro com incentivos ou apologia à zoofilia e ao casamento infantil. “Permitem que os vossos filhos leiam isto na escola? O ADN está vigilante em relação à doutrinação que o Governo, apoiado num lóbi que tem como objetivo eliminar a família natural, tem feito contra o direito das crianças serem apenas crianças e viverem uma infância normal”, começa por se alegar no texto em causa. “O Plano Nacional de Leitura para 2017-2027 (PNL 2027) é a ferramenta do Governo para ajudar a implementar a agenda globalista e transnazi apoiada nesse lóbi que que já promove noutros países a zoofilia e a descriminalização do sexo com menores“, continua a autora, membro da Comissão Política do ADN. As críticas, porém, vão ainda mais longe: “Este PNL refere no site que ‘pensar a educação e a cultura como eixos de governação pressupõe a assunção da leitura como prioridade política, tomando esta competência como básica para o acesso plural ao conhecimento e ao enriquecimento cultural – indispensáveis ao exercício de uma cidadania ativa e ao desenvolvimento económico e social do país’. O ADN pergunta aos pais se sabem o que é dado aos vossos filhos para lerem na escola. E aos portugueses se não temos já casos de pedofilia suficientes em Portugal. Ou se vamos sujeitar mais crianças e menores aos abusos físicos e psicológicos de um Governo que os deveria proteger.” A publicação seleciona três excertos do livro em causa, “O Quase Fim do Mundo“, de Pepetela, supostamente sobre zoofilia e casamento infantil. O Polígrafo passa a transcrevê-los, de uma forma mais abrangente: “Encontraram um livro sobre as práticas de Kamasutra num alfarrabista dos cais do Sena e se divertiam à noite experimentando novas posições. Era sempre uma descoberta e Jude aprendia rápido. Tinha especial prazer em contar as diferentes maneiras como atingira orgasmos antes dele. Havia coisas inventadas, como a experiência que contou com um cão, ela a quatro patas e tentando orientar o sexo do cão para a sua vagina, com sucesso, disse ela, triunfante, o que eu gozei…”; “Os escrúpulos anteriores causados pela pouca idade dela estavam vencidos, nem virgem se revelou afinal. Lhe disse, tinha sido um primo mais velho, no ano passado. E depois também tivera relações com um namorado, desaparecido com a «coisa», mas já tinham rompido o namoro antes. Os jovens despertavam cada vez mais cedo para o sexo, era conhecido. E naquela região, nas áreas rurais, as raparigas casavam por tradição com treze ou catorze anos“; “Os governos, pressionados pelas organizações internacionais, tentavam impedir casamentos tão prematuros, mas os costumes eram mais fortes e resistiam. E mesmo nas áreas urbanas, não era raro acontecer casamentos com crianças. Portanto, que se lixassem os escrúpulos. E não tinha usado nenhuma protecção, pois era preciso fazer filhos e mais filhos, a sobrevivência da humanidade assim o exigia.” O Polígrafo consultou o programa do Plano Nacional de Leitura até 2027, do qual constam pelo menos seis livros do escritor angolano Pepetela: são eles “A Montanha da Água Lilás”, “Sua Excelência de Corpo Presente”, “Parábola do Cágado Velho”, “A Geração da Utopia”, “O Quase Fim do Mundo” e “Crónicas Com Fundo de Guerra”. No caso do livro denunciado nas redes sociais, trata-se de uma recomendação anterior a 2017, enquadrada na categoria “ficção de adultos” e que só é aconselhada a alunos dos 15 aos 18 anos de idade, ou seja, que frequentem o Ensino Secundário. Sobre a obra, o PNL diz o seguinte: “E se a vida animal de repente desaparecesse da Terra, excepto num pequeno recanto do mundo e em doses mínimas? Talvez as causas se conheçam depois, mas o que importa é a existência de alguns seres, aturdidos pelo desaparecimento de tantos, e procurando sobreviver. É sobre estes sobreviventes e as suas reações, desejos, frustrações mas também pequenas/grandes vitórias que trata este romance. Detalhe importante: o recanto do mundo que escapou à hecatombe situa-se numa desgraçada zona da desgraçada África. O que permitirá questionar as relações contemporâneas no velho Mundo.” Quanto às extrapolações feitas no post, não tem fundamento alegar-se que o livro em causa promove práticas como a zoofilia ou o casamento infantil. As referências a essas práticas não significam “apologia”, mesmo no formato descontextualizado em que estão a ser difundidas nas redes sociais. Ao Polígrafo, fonte oficial do PNL explica que esta obra é considerada “relevante dentro da estética e da identidade temática de Pepetela” e que “este título revela uma voz literária própria que não se deixa limitar por ideias superficiais, trazendo ao catálogo PNL um contributo para a diversidade de leitura da literatura e do mundo“. Por esses motivos, considera a mesma fonte, “merece uma leitura atenta e questionadora”, estando “recomendado no catálogo do PNL há mais de uma década“.
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