schema:text
| - Montenegro tem um argumento. Ou vários. Estão na ponta da língua de todos os sociais democratas quando falam sobre o crescimento económico português e a convergência com a União Europeia durante os mandatos de António Costa: os socialistas “penduram-se” no crescimento lento de países como a Alemanha, a França ou a Itália, que puxam para trás a média da UE.
“Nós [Portugal] estamos a ser ultrapassados por todos os países de Leste, países da coesão. Esta conversa do primeiro-ministro de dizer que estamos a convergir com a Europa é uma treta. Não é verdade. Sabe porquê? Evidentemente que nós temos tido um desempenho económico superior à França, à Alemanha, à Itália. E isso é bom. Mas se nós compararmos com o desempenho económico dos países da coesão, estamos a ficar para trás”, desvendou o líder do PSD, em entrevista à SIC e SIC Notícias, esta quinta-feira.
Montenegro repete a premissa já em 2019 utilizada por António Leitão Amaro, deputado social democrata, mas dá-lhe um twist, acusando António Costa de mentir sobre a aproximação do crescimento do PIB à média da União Europeia: não há mentira, mostram os dados do Eurostat, e 2022 foi mais um ano de convergência. No máximo, Costa poderia omitir o crescimento dos seus parceiros: mas é Montenegro quem falha quando faz a acusação.
A 23 de novembro de 2021, por exemplo, o primeiro-ministro lembrava o seguinte: “Convergimos assim com a União Europeia em 2016, 2017, 2018 e 2019 e tudo aponta que retomemos o caminho da convergência já em 2022, senão mesmo neste ano de 2021.”
De fora ficou apenas o ano de 2020, quando Portugal registou a maior queda do PIB desde 1954, um total de -8,4%, provocada essencialmente pela pandemia de Covid-19. Nesse mesmo ano, o PIB encolheu para 200,1 mil milhões de euros, explicado pela quebra das exportações e do consumo privado.
A verdade é que, no que respeita à taxa de crescimento real do PIB, de facto, o período entre 2016 e 2019 (formando o quadriénio do primeiro Governo do PS baseado na geringonça que tomou posse no final de 2015) destaca-se com as variações mais positivas desde 2002, quando Portugal aderiu à moeda única europeia.
A saber: +2,02% em 2016, +3,51% em 2017, +2,85% em 2018 e +2,68% em 2019. A média de crescimento na União Europeia foi, nestes anos, a seguinte: +2% em 2016, +2,8% em 2017, + 2,1% em 2018 e +1,8% em 2019.
No quadriénio 2016-2019, a taxa de crescimento em Portugal foi sempre superior a +2% e atingiu mesmo o ponto máximo de +3,51% em 2017, um nível que já não era atingido desde o ano de 2000 (no final da década de 1990 chegou a superar a fasquia de +4%). Além disso, superou sempre a média dos 27 membros da União Europeia.
Em 2020, a quebra de 8,4% antecedeu uma recuperação expectável: Portugal crescia 5,5% logo em 2021, o que acompanha, mais uma vez, a média de crescimento da União Europeia (5,4%). Em 2022, tal como o Polígrafo já escreveu, os dados quanto ao desenvolvimento económico dos países da União Europeia são confirmados pela Comissão Europeia, que divulgou a 11 de novembro as “Previsões económicas do outono de 2022“, apontando para “um ponto de viragem”.
De acordo com o documento completo, “após uma forte recuperação, a economia portuguesa deve desacelerar substancialmente no curto prazo”. É esperado que o crescimento acelere novamente a partir do próximo Verão e que as finanças públicas melhorem gradualmente ao longo do horizonte de previsão, com o défice do Governo a diminuir para 1,9% do PIB em 2022, 1,1% em 2023 e 0,8% em 2024.
Quanto ao PIB, os últimos indicadores de curto prazo sugerem uma fraca perspetiva de crescimento já para o primeiro trimestre de 2023. No geral, prevê-se um crescimento anual do PIB de 6,6% em 2022, seguido por uma desaceleração substancial para os 0,7% este ano e 1,7% no próximo ano. “Juntamente com a trajetória projetada nos principais parceiros comerciais, o crescimento deve subir para 1,7% em 2024” em Portugal, acrescenta a Comissão Europeia.
Na União Europeia, “o forte dinamismo de 2021 e o sólido crescimento no primeiro semestre de 2022 deverão elevar o crescimento real do PIB no conjunto deste ano para 3,3%” e para 3,2% na Zona Euro, “muito acima dos 2,7 % projetados nas previsões intercalares do Verão“.
___________________________
Avaliação do Polígrafo:
|