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  • Os arquivos das mais icónicas editoras de jazz são, frequentemente, terreno fértil para descobertas, redescobertas e reinvenções. A dupla Thievery Corporation, de Washington DC, chegou mesmo a editar um disco – “Sounds from the Verve Hi-Fi“, de 2002 – que mais não era que uma seleção pessoal resultante das pesquisas efetuadas no catálogo da lendária editora Verve. Uns anos antes, em 1997, o DJ Alexis Blackmore, que usa o nome de palco Blue Boy, foi escavar o catálogo da Blue Note, outra editora mítica do mundo do jazz. E foi lá que descobriu “Woman of the Ghetto”, de Marlena Shaw. Criou uma linha rítmica cativante, juntou-lhe a voz de Shaw e editou “Remember Me”, single que escalou as tabelas de vendas no Reino Unido, em 1997, tendo atingido o 8º posto. Foi o ponto mais alto a que chegou – começou pela 9ª posição – mas conseguiu manter-se durante 8 semanas no top 20, de acordo com o site udiscovermusic.com, da editora Universal Music Group. Não foi à versão de estúdio que o DJ escocês foi buscar os samples para usar no seu hit, mas, antes, à versão de “Woman Of The Ghetto” gravada durante a atuação de Marlena Shaw no Montreux Jazz Festival, na Suíça, em 1973 e editada em disco pela Blue Note, no mesmo ano. Foi a canção com que Shaw encerrou a sua atuação e é a mais longa faixa do disco, quase com 10 minutos de duração. O site whosampled.com fez a desmontagem perfeita dos recursos usados por Blue Boy e identificou os tempos dos quatro excertos utilizados na versão original e no tema “Remember Me”. Sem desprimor para o trabalho de Alexis Blackmore, grande parte da alma do seu tema está na voz de Shaw, como reconhece o “The Guardian”, num artigo publicado a propósito da diva do soul-jazz de Nova Iorque, em março de 2010: “É bom lembrar que os samples, plenos de alma, mas descontextualizados, que foram tão cruciais para “Remember Me”, de Blue Boy, e “Rose Rouge”, de St. Germain, vêm de “Woman of the Ghetto”, uma canção que ela ainda canta com uma autenticidade apaixonante.” Pois, é verdade, o DJ Alexis Blackmore não foi o único a ir beber a este tema de Marlena Shaw, originalmente gravado para “The Spice of Life”, editado em 1969. Em 2002 Ludovic Navarre, mais conhecido por St. Germain, utilizou a voz de Marlena Shaw – precisamente as primeiras palavras que diz quando inicia a interpretação de “Woman of the Ghetto”, em Montreux – no seu grande hit “Rose Rouge”, como, uma vez mais, o site whosampled.com verificou. Mais tarde, em 2010, foi a vez do rapper Ghostface Killah “roubar” a linha de baixo inicial da mesma canção, mas, desta feita, da versão de estúdio, para o tema “Ghetto”. E porque a criatividade não tem limites, e a boa música é apenas isso mesmo – boa música-, até quando é reinventada,“Remember me” regressou aos discos, mas sem a voz de Marlena Shaw. Voltou com a garra retro e a atitude rock dos australianos, de Perth, Tame Impala, uma banda de jovens que ainda não eram nascidos nos tempos do rock psicadélico, dos anos 60 do século passado, mas que parecem ter no adn toda a sequência genética daquela variante do rock. Numa reedição de luxo, com dois discos, de “Innespeaker”, seu álbum de 2010 – o primeiro oficial da banda -, os Tame Impala incluem, no CD extra, entre outras pérolas, uma versão de “Remember Me”. Ficamos à espera da próxima reencarnação do tema. Avaliação do Polígrafo:
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