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| - A história já tem alguns anos, tal como o meme que a ilustra com as imagens de José Manuel Durão Barroso, antigo primeiro-ministro e ex-presidente da Comissão Europeia, e do seu filho, Luís Durão Barroso, com o seguinte título: “Filho de cherne sabe nadar“. Importa começar por contextualizar a referência a Durão Barroso como “cherne”, uma espécie de peixe de água salgada. A origem desse epíteto remonta a 2002, no final da campanha que resultaria na eleição de Durão Barroso como primeiro-ministro de Portugal. No decurso de um comício em Tondela, a mulher do candidato, Margarida Sousa Uva, subiu ao palco e citou um poema de Alexandre O’Neill, intitulado como “Sigamos o cherne”. Eis a transcrição do poema:
“Sigamos o cherne, minha amiga!
Desçamos ao fundo do desejo
Atrás de muito mais que a fantasia
E aceitemos, até, do cherne um beijo,
Senão já com amor, com alegria…
Em cada um de nós circula o cherne,
Quase sempre mentido e olvidado.
Em água silenciosa de passado
Circula o cherne: traído
Peixe recalcado…
Sigamos, pois, o cherne, antes que venha,
Já morto, boiar ao lume de água,
Nos olhos rasos de água,
Quando mentido o cherne a vida inteira,
Não somos mais que solidão e mágoa…”
Desde então que Durão Barroso é comummente apelidado (sobretudo nas redes sociais) como “o cherne”, em referência a esse poema de O’Neill citado por Sousa Uva. Mas retornando à história do meme, difundido pela página “Viriato Lusitano”, embora tenha sido produzido por outra página, “Quem Não Offshora Não Mama”. O meme é antigo, mas voltou a ser partilhado por milhares de pessoas nas últimas semanas, após republicação na página “Viriato Lusitano”, e muitos leitores do Polígrafo questionam se a história é verdadeira.
“Luís Durão Barroso, 31 anos, entra no Banco de Portugal por convite e sem concurso“, denuncia a publicação em causa. É essa a história que, de facto, aconteceu em meados de 2014, tendo sido noticiada nessa altura e gerado controvérsia na opinião pública.
“Banco de Portugal contratou por convite filho de Durão Barroso”, noticiou o “Jornal de Negócios”, a 12 de agosto de 2014. “Luís Durão Barroso foi contratado sem concurso para o Departamento de Supervisão Prudencial. A regra no banco é contratar por concurso salvo situações de ‘comprovada e reconhecida competência profissional'”, destacava-se no artigo.
Segundo explicou o Banco de Portugal ao “Jornal de Negócios”, a realização de um concurso público só é dispensada em situações de “comprovada e reconhecida competência profissional”. O número de admissões por convite é, contudo, “residual”.
Mais tarde, a 18 de agosto, o Banco de Portugal comunicou ao “Jornal de Negócios” que “foram admitidos por convite candidatos em circunstâncias idênticas, nomeadamente com experiência no âmbito de auditoria e direito”, afastando “quaisquer contornos especiais relativamente a outras admissões realizadas por convite”. O banco central, dirigido por Carlos Costa, lembrou ainda que não pode revelar informações sobre a “esfera pessoal do trabalhador“, designadamente o nível salarial (desconhecido publicamente), que decorrerá “do nível de habilitações e de experiência profissional”.
Luís Durão Barroso tem uma licenciatura em Direito na Universidade Nova de Lisboa, assim como mestrado e doutoramento em Direito na London School of Economics and Political Science. Desde 2012 que era docente na Universidade Católica. Anteriormente tinha realizado dois estágios de verão nos escritórios de advocacia Linklaters e Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados.
O filho de Durão Barroso começou a trabalhar no Banco de Portugal em julho de 2014, mantendo-se até hoje nos quadros do banco central. A informação plasmada no meme em análise é antiga mas verdadeira.
Avaliação do Polígrafo:
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