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| - O título é impressivo: “Mais de 900 reformados não recebem pensão há quase um ano”. Segue-se um meme com a imagem de José Vieira da Silva, ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, associado a uma mensagem acusatória: “Eu quero lá saber das reformas dos portugueses, eu quero é tachos para toda a minha família”. E depois surge o texto, com dados completamente distintos do que se infere a partir do título e do meme, em mais uma publicação da página “Direita Política” que analisamos no Polígrafo, a pedido de vários leitores.
“Em 2018, deram entrada na Provedoria de Justiça 920 queixas por atrasos na atribuição das reformas. Esta é a austeridade da esquerda… Aumentam-se pensões e salários a quem ganha bem e deixam-se desgraçados a morrerem à fome, ao frio e sem medicamentos. E votam nestes sujeitos, porque o nosso umbigo é que conta! Assim vai Portugal. De ilusão socialista em ilusão socialista, a próxima bancarrota será uma catástrofe sem par”, lê-se no artigo.
É verdade que “mais de 900 reformados não recebem pensão há quase um ano”, como destaca o título da publicação? Não é verdade.
E conclui-se em forma de pergunta: “O silêncio é denso e profundo lá prós lados da ala da extrema-esquerda comunista-caviar-socialista da ‘geringonça’. Será que os ceguinhos e paralíticos defensores das classes oprimidas e exploradas ainda dormem?”
O que é que está em causa? É verdade que “mais de 900 reformados não recebem pensão há quase um ano”, como destaca o título da publicação? Não é verdade. O que está em causa é que a Provedoria de Justiça recebeu, em 2018, mais de duas queixas por dia relacionadas com atrasos na atribuição das pensões da Segurança Social. Em média, as 920 pessoas que pediram a intervenção da provedora Maria Lúcia Amaral esperavam há 9 ou 10 meses por uma resposta do Centro Nacional de Pensões (CNP). Em alguns casos, não contabilizados, o pedido estava pendente há mais de um ano.
Que se registam atrasos consideráveis na atribuição das pensões, devido à falta de resposta do CNP no prazo legal previsto de 90 dias, é verdade. Concluir a partir daí que “mais de 900 reformados não recebem pensão há quase um ano” é um exercício de manipulação e extrapolação dessa base factual. Desde logo porque ainda não são “reformados”, mas pessoas que requerem a atribuição de pensão. Em muitos casos, essas pessoas continuam no ativo, nos seus empregos, à espera da resposta do CNP. Também há casos de desempregados de longa duração.
Ou seja, uma coisa é requerer a atribuição de pensão e esse processo atrasar-se, outra coisa é concluir que são “reformados” que “não recebem pensão”, como se essa pensão já tivesse sido atribuída e depois tivesse deixado de ser paga durante “quase um ano”. O título da publicação é enganador e provoca desinformação.
Avaliação do Polígrafo:
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