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| - “Tendo eu sido presidente do partido durante 10 anos, tendo eu sido Presidente da República durante 10 anos, entendi que devia ser recatado naquilo que dizia respeito à atuação do meu partido, o Partido Social Democrata, para não ser acusado de interferência num ou noutro sentido naquilo que o líder devia fazer, que eu considerava o correto no exercício das suas funções. E, portanto, eu quando escrevi alguma coisa foi sobre o país e dirigido ao país, não me dirigindo especificamente ao Partido Social Democrata.”
Esta foi uma das declarações mais relevantes da entrevista que na passada sexta-feira, dia 3, Cavaco Silva concedeu à CNN Portugal. Mas será assim?
A resposta é negativa. O antigo líder do PSD (entre maio de 1985 e fevereiro de 1995) já interveio sobre a vida interna do seu partido, tendo-o como objeto da sua mensagem. Fê-lo, pelo menos, uma vez, recente e justamente durante um mandato do presidente do partido que está agora de saída e que Cavaco Silva criticou nesta entrevista.
Aconteceu a 8 de outubro de 2019, dois dias depois das eleições legislativas que Rui Rio/PSD perdeu para António Costa/PS. Numa declaração escrita enviada à Agência Lusa (em resposta a perguntas que aquele órgão lhe colocara), Cavaco Silva emitiu várias opiniões que constituíram uma inquestionável interferência na vida interna do PSD.
Sobre os resultados:
– “Como social-democrata com fortes ligações à história do PSD, o resultado obtido pelo partido não pode deixar de me entristecer (…) [o número de deputados eleitos] ficou muito aquém daquele que as vicissitudes que o país conheceu durante os quatro anos do governo da ‘geringonça’.”
Sobre o futuro:
– “fazer do PSD um partido verdadeiramente nacional, atento aos anseios das populações” para “exercer a nobre tarefa de oposição firme ao governo que vier a ser formado”;
– “a tarefa mais importante e urgente que o PSD tem agora à sua frente é a de reconstruir a unidade do partido e de mobilizar os seus militantes”;
– “[trazer] ao debate das ideias e ao esclarecimento e combate político os militantes que, por razões que agora não interessa discutir, se afastaram ou foram afastados (…). Como é o caso de Maria Luís Albuquerque, uma das mulheres com maior capacidade de intervenção, que conheci durante o meu tempo de Presidente, e muitos outros.”
Recorde-se que Maria Luís Albuquerque tinha sido excluída por Rui Rio das listas de candidatos a deputados nessas legislativas e que o líder do PSD, na noite das eleições, afirmou estar em ponderação sobre a sua continuidade na liderança do partido.
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