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| - Um vídeo mostra uma palestra em que um cientista apresenta uma vacina contra o fundamentalismo religioso. O cientista fala para uma pequena plateia no Pentágono, nos Estados Unidos, e está a ser partilhado nas redes sociais, em plena pandemia, depois de anos a circular em contextos diferentes.
As partilhas em plena pandemia, algumas feitas pelos chamados negacionistas das vacinas, têm sido tantas que o próprio autor do vídeo já teve necessidade de vir explicar publicamente o que está por detrás desta produção, de forma a afastar a ideia de que esteja relacionado com qualquer vacina, muito menos contra a Covid-19, e que estas sejam ligadas de qualquer forma ao fundamentalismo religioso. Num artigo publicado no San Francisco Chronicle , Ryan Harper assume mesmo ser ele o “criador da teoria da conspiração” em torno da FunVax, o nome da tal vacina que curaria o fundamentalismo religioso.
Segundo conta, em 2011, ele e um empreendedor de Silicon Valley tiveram a ideia de criar um documentário baseado numa descoberta feita em 2004 por um cientista chamado Dean Hamer. Basicamente, Hamer descobriu que há um gene no ser humano — cujo nome científico é VMAT2 — que faz com que umas pessoas possam estar mais predispostas a manifestar crenças religiosas que outras. E, por isso chamou-o de “Gene de Deus”. Na verdade, o VMAT2 é o gene que transporta para o cérebro a dopamina e a serotina, as moléculas responsáveis por nos deixarem felizes.
A partir desta descoberta, Ryan Harper decidiu fazer um pequeno filme à volta do argumento de que o Governo norte-americano se tinha aproveitado desta descoberta para criar uma vacina para “curar o fundamentalismo religioso”, a FunVax. Esse pequeno filme, que publicou no Youtube, seria a tal apresentação no Pentágono que agora circula nas redes sociais.
O filme estava projetado para acabar com a personagem principal a admitir ter inventado a conspiração FunVax. Só que ninguém chegou a ver o final deste filme, porque o projeto nunca foi concluído.
Em 2014, Harper chegou mesmo à conclusão de que fazer este filme não era viável e acabou por dedicar-se a outros projetos. Agora, reconhece que ao libertar aquele vídeo ajudou a criar uma verdadeira teoria da conspiração, que não pára de ser alimentada na internet desde então. Com a pandemia, o vídeo voltou a ser partilhado em força, chegando mesmo a haver quem afirme que a FunVax é a Covid.
O autor ainda pensou que a sua divulgação pudesse servir para os fundamentalistas religiosos usarem mais as máscaras e adotarem mais cuidados na interação com os outros, mas tal não aconteceu. Aliás, chegou mesmo a avançar-se que o palestrante que aparece no vídeo seria o milionário Bill Gates, dadas as semelhança físicas entre ambos. Mas a pessoa no vídeo é, garante o autor da teoria, o empreendedor que o acompanhava neste projeto, esse sim de Silicon Valley.
O autor diz também que, neste momento, perante a responsabilidade da comunicação sobre a vacina, acabou mesmo por falar. “Agora que as vacinas Covid estão amplamente disponíveis, antivaxers e outros teóricos da conspiração estão a usar o FunVax como propaganda contra a vacinação. Os meios de comunicação social estão repletos de informações incorretas da FunVax e, desta vez, as consequências são fatais. Não posso ficar mais calado. Isto é tudo falso!”, acrescentou.
Conclusão
O vídeo que anda a circular não é um vídeo real apresentado no Pentágono, mas sim um projeto para um filme a desenvolver, cujo ator (e também um dos mentores do filme) faz uma apresentação fictícia de uma vacina contra o fundamentalismo religioso.
A ideia de fazer este filme surgiu na sequência da descoberta de um cientista sobre um gene que define a predisposição para alguém seguir, ou não, uma religião. Apesar da ideia do filme, os seus criadores — que chegaram a colocar este excerto do filme num canal do Youtube — acabaram por desistir de concluir o projeto em frente, por falta de viabilidade.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
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