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| - “Como é que há uma vacina, cuja eficácia designada é de 95%, foi baseada na anulação dos sintomas, tendo para isso sido abolidos todos os doentes com mais de 65 anos, todas as crianças e só se contava o que é que essa vacina fazia aos sintomas? Uma vacina não é um tratamento”, sublinha a anestesiologista, identificada na publicação como Margarida Oliveira (“Médicos pela Verdade – Portugal”), que depois questiona: “Portanto, como é que se está a instituir um tratamento experimental massivo, quando para este vírus existem outros tratamentos prévios, protocolados. Em alguns países são seguidos esses protocolos, nomeadamente na América Latina. Na Europa eles foram banidos e não fazem parte dos protocolos de tratamento. Eu pergunto porquê?”
“Porque falamos de fármacos com provas dadas, seguros e que são usados cronicamente por alguns doentes. Porque é que não se usam em Portugal? Porque é que isso não é discutido? Existem tratamentos que se podem fazer a doentes sintomáticos positivos para Covid-19 que diminuem em grande a morbilidade, ou seja, o estado de doença, mas principalmente a mortalidade”, acrescenta.
Confirma-se que a vacina contra a Covid-19 é um “tratamento experimental” e existem “tratamentos protocolados” mais eficazes?
“Em relação às vacinas, os protocolos são claros e os reguladores avaliaram os dados. Estão licenciadas para uso de emergência. Não há dúvida nenhuma. Cumpriram os perfis de segurança, e até agora, com milhões de vacinas administradas, nada mudou”, assegura Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, em declarações ao Polígrafo.
A garantia é corroborada por João Júlio Cerqueira, médico especialista em Medicina Geral e Familiar. “O que está a acontecer não é um ‘tratamento experimental massivo’. As vacinas são seguras, passaram por todos os estudos que é suposto passarem antes de serem introduzidas no mercado. De qualquer forma, já saíram os primeiros relatórios relativamente à fase 4, que é a fase de monitorização depois de a vacina entrar no mercado e o perfil de efeitos adversos é consistente com o que observamos nos estudos de fase 3″, afirma.
De acordo com os resultados da vacina da Pfizer/BioNTech, publicados na revista médica The New England Journal of Medicine (NEJM) a 10 de dezembro de 2020, os testes envolveram 44.820 voluntários em vários pontos do mundo, dos quais 43.448 receberam injeções. 42% dos participantes tinham mais de 55 anos. A Pfizer/BioNTech anunciou que a vacina tem uma taxa de eficácia de 95%. Esta vacina passou por três fases de testes e só foi aprovada na União Europeia, e consequentemente em Portugal, no dia 21 de dezembro. Começou a ser administrada seis dias mais tarde.
No caso da vacina da Moderna, os resultados também foram publicados na The New England Journal of Medicine, no dia 30 de dezembro de 2020. Os testes envolveram 30.420 voluntários. A taxa de eficácia do fármaco é de 94,1% e foi aprovada para os países da União Europeia no dia 6 de janeiro de 2021.
Já a vacina da Oxford-AstraZeneca para a Covid-19 foi aprovada pela Agência Europeia do Medicamento (EMA) na passada sexta-feira, para utilização nos países da comunidade europeia. Os resultados foram publicados no dia 8 de dezembro de 2020 na revista científica The Lancet, demonstrando uma eficácia de mais de 90% nos testes em que participaram 11.636 pessoas. A maioria dos voluntários tinha idades compreendidas entre 18 e 55 anos.
“Em relação às vacinas, os protocolos são claros e os reguladores avaliaram os dados. Estão licenciadas para uso de emergência. Não há dúvida nenhuma. Cumpriram os perfis de segurança, e até agora, com milhões de vacinas administradas, nada mudou”, assegura Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública.
Relativamente aos tratamentos protocolados, Celso Cunha, virologista e professor no Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, explica que “de facto, na América Latina e noutros continentes, incluindo a Europa, têm sido testados diversos fármacos normalmente utilizados no tratamento de outras doenças de etiologia diversa e não apenas infecciosa. A Hidroxicloroquina é utilizada no tratamento de alguns casos de malária e a Ivermectina também é eficaz contra outras parasitoses. Foi testado o célebre Remdesivir, um pouco por todo o lado e que justamente tanta polémica deu, o Interferão, nomeadamente em países da América Latina, Cuba e Venezuela incluídas, a Azitromicina, um antibacteriano. E a lista poderia continuar quase ad infinitum, porque existem centenas de fármacos conhecidos em testes registados.”
No entanto, o virologista sublinha que “a eficácia de todos nunca foi comprovada de forma inequívoca, havendo inclusivamente casos em que se demonstrou que o risco de provocar efeitos secundários graves e/ou sequelas futuras para os doentes superava largamente os potenciais benefícios de um eventual tratamento da Covid-19″.
Segundo Celso Cunha, “o único fármaco que demonstrou até agora algum benefício nos doentes graves foi a Dexametasona, um anti-inflamatório utilizado também no tratamento de diversas outras doenças, mas que se mostrou moderadamente eficaz contra a Covid-19″.
“Quanto à afirmação de que os tratamentos foram protocolados, confesso a minha ignorância. Não sei com quem foram protocolados, com base em que evidência científica, etc. Na Europa e um pouco por todo o mundo, de facto, foram efetuados ensaios clínicos com alguns deles, até sob a égide da Organização Mundial da Saúde, mas verificou-se sempre serem ineficazes e o risco para os doentes poder ser elevado“, conclui.
“Quanto à afirmação de que os tratamentos foram protocolados, confesso a minha ignorância. Não sei com quem foram protocolados, com base em que evidência científica, etc. Na Europa e um pouco por todo o mundo, de facto, foram efetuados ensaios clínicos com alguns deles, até sob a égide da Organização Mundial da Saúde, mas verificou-se sempre serem ineficazes e o risco para os doentes poder ser elevado”, afirma o virologista Celso Cunha.
Por sua vez, Cerqueira aponta no mesmo sentido: “Na América Latina, principalmente no Brasil, têm sido instituídos por razões puramente políticas e não científicas, medicamentos sem comprovação científica sólida que ajudem a prevenir ou tratar a Covid-19. Esses tratamentos incluem Hidroxicloroquina, Azitromicina, Ivermectina, Vitamina D e Zinco. Nenhum destes produtos é recomendado na Europa porque nenhum deles demonstrou ser eficaz. Os estudos que existem para a Hidroxicloroquina e Azitromicina são claros. A Ivermectina e a Vitamina D aguardam estudos de qualidade, mas o que temos, para já, demonstra que dificilmente terão algum interesse. Uma avaliação recente demonstrou que em 10 cidades brasileiras que forneceram o ‘Kit Covid’, composto por Hidroxicloroquina, Azitromicina, Ivermectina, Nitazoxanida, Zinco, Vitaminas C e D, nove tiveram uma mortalidade mais alta do que a média da região. Isso demonstra que o ‘Kit Covid’ é inútil, perigoso, ou na melhor das hipóteses tem um efeito residual a ajudar a lidar com o problema”.
De resto, considera ainda que “é estranho utilizarem a América Latina como exemplo, quando a Covid-19 será a primeira ou segunda causa de morte na maioria dos países da região”.
“Agora surge no Brasil a notícia de que a vacina tripla vírica (utilizada habitualmente no plano nacional de vacinação nacional contra sarampo, rubéola, parotidite) reduziu 54% os sintomas e 90% internamentos. Problema: não temos estudos e não podemos confirmar os casos, mas logo à cabeça medir ‘sintomas de Covid-19’ levanta suspeitas, pois a medição desta variável dificilmente é feita de forma rigorosa e está sujeita a grandes vieses. Mas aguardemos a publicação dos dados”, afirma David Rodrigues, médico e responsável de conteúdos médicos da UpHill.
A Organização Mundial da Saúde informa que “não existe nenhum tratamento específico para a doença” causada pelo SARS-CoV-2. “Contudo, muitos dos sintomas podem ser tratados e, portanto, um tratamento baseado na condição clínica do paciente. Além disso, os cuidados de suporte para pessoas infectadas podem ser altamente eficazes”.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
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