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| - Os aplausos nas redes sociais à revista “Time” têm-se multiplicado nos últimos dias. Por exemplo: “A capa da Time é antológica”; “A capa da revista Time de maio de 2020 é simplesmente um show de edição, sensibilidade, ousadia e jornalismo. Neste caso, uma capa que vale por muitos livros de história. Nada mais factual do que uma foto de 1968″.
Na origem dos elogios, a última edição daquela que é uma das mais prestigiadas revistas em todo o mundo que, a propósito da violência policial nos Estados Unidos da América (EUA), resolveu colocar na capa uma fotografia de um afro-americano a fugir da polícia, com o seguinte título “América, 2020, o que mudou, o que não mudou“.
A frase incorpora, também, os anos de 1968 e 2015, mas riscados, a prova de que, segundo os editores da revista, os episódios racistas, por mais décadas que passem, continuam a ser uma realidade, e a acontecer praticamente da mesma maneira.
No entanto, ao mesmo tempo que esta capa vai sendo partilhada milhares de vezes no Facebook e no Twitter, uma outra tem saltado de mural em mural, como sendo também a última edição da revista. Nela, está impressa uma caricatura de Adolf Hitler, na qual o respetivo bigode assemelha-se à silhueta de Donald Trump.
Mais uma vez, o título aponta para a crise que se vive nos EUA, a propósito da morte do afro-americano George Floyd às mãos da polícia, no dia 25 de maio, e para a reação do presidente do país: “Racismo, o maior vírus“.
Tendo em conta que não é habitual a “Time” ter capas diferentes em simultâneo (excepto no que respeita às edições internacionais), será que alguma das duas é autêntica?
A resposta é não, até porque a última capa da revista, publicada a 1 de junho, dá destaque ao modo como a crise provocada pela Covid-19 mudou a vida das gerações mais jovens.
Ainda assim, a primeira, mostrando um homem a fugir da polícia, já foi capa da publicação norte-americana, mas não em 2020, nem depois da morte de George Floyd em Minneapolis. A edição em causa foi publicada a 11 de maio de 2015, como dá conta a plataforma espanhola de verificação de factos “Maldita.es” e, aliás, pode conferir no arquivo de capas da “Time”.
Naquela semana, a publicação deu destaque a uma fotografia captada numa manifestação em Baltimore, nos EUA, depois da morte, em abril de 2015, de um outro afro-americano chamado Freddie Gray. E a data de 1968 que surge rasurada diz respeito aos protestos que se seguiram ao assassinato de Martin Luther King Jr. nesse ano.
Além disso, o autor da fotografia original explicou, a 28 de maio, no Twitter, que a capa com referência ao ano de 2020 não foi publicada pela “Time”, mas resulta de uma montagem feita por um utilizador das redes sociais.
Já a capa que apresenta um retrato de Adolf Hitler, com o respetivo bigode a assemelhar-se à silhueta Donald Trump, não é, nem nunca foi, autêntica. A imagem resulta de uma caricatura do artista belga Luc Descheemaeker, criada já no ano de 2017.
Entretanto, a propósito do morte de George Floyd e da reação de Donald Trump às manifestações, alguém resolveu converter a obra de arte em capa (fictícia) da “Time”. Mesmo não sendo autêntico, o resultado foi de tal maneira popular que o próprio cartoonista partilhou-o na página pessoal de Facebook, com a seguinte legenda: “Quando a pilhagem começa, começa o tiroteio”.
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Avaliação do Polígrafo:
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