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| - Depois de publicado o tweet, novo comentário: “Para estudo os comentários a este tweet. Para uns, ando a fumar coisas. Para outros, é mesmo por isto que votam PCP. Comprova-se a teoria de que parte dos eleitores não faz ideia do que está a fazer quando votam. Votam em discursos. Compram pela televisão. Têm de ler mais”, escreveu Zé Pedro Silva, criador do blogue satírico Imprensa Falsa.
Depois de ter respondido às alegações iniciais com um irónico “onde é que me inscrevo?”, Miguel Tiago, ex-deputado comunista, acrescentou: “Por acaso, eu estava a gozar. Se conseguires apontar uma única prova de que o PCP defende sair da UE, do euro e da NATO, agradeço. Quanto a nacionalizações, não vejo que alguma vez tenhamos escondido tal coisa. Saneamentos, olha, dos que deram cabo da TAP, estarias contra?”
Saída do Euro
Recuemos à campanha das eleições para o Parlamento Europeu em 2019, ano em que há registo de várias declarações de João Ferreira, o candidato dos comunistas, sobre esta matéria. Na altura, enquanto cabeça-de-lista da CDU, Ferreira disse ao jornal “Público” que “em 20 anos de permanência no euro, Portugal foi um dos países do mundo que menos cresceram; em lugar da prometida convergência, o que tivemos foi divergência; os salários praticamente estagnaram”.
“A necessidade de Portugal se libertar do euro não significa um regresso ao passado, pelo contrário. Significa um salto para o futuro que o euro nega a Portugal: a possibilidade de o país, resolvendo os problemas para os quais não tem encontrado resposta mesmo nestes últimos anos, poder desenvolver-se e romper com uma situação de subordinação económica e política inaceitável“, sublinhou então o candidato comunista.
Numa outra entrevista ao “Sapo 24”, a 15 de maio de 2019, João Ferreira voltou a defender a saída da moeda única europeia: “Não há discussão honesta que se possa fazer sobre o futuro do país, sobretudo sobre o crescimento económico, que deixe de fora a questão da moeda. É para o PCP evidente que, para crescer, o país tem de se libertar da prisão do euro“.
Anos antes de João Ferreira, já Jerónimo de Sousa tinha colocado a possibilidade: o então secretário-geral do PCP disse, em 2016, que Portugal devia preparar-se para a libertação do euro. Mas sem recurso a referendo: “Devemos estar preparados para ter iniciativa própria ou corremos o risco de outros tomarem iniciativa, visando que Portugal seja excluído da moeda única. Devíamos ter condições de decidir soberanamente o que pretendemos para o nosso país.”
Num intervenção em maio do mesmo ano, em sessão sobre “A libertação do país da submissão ao euro, condição para o desenvolvimento e soberania nacional”, o líder comunista dizia que “uma moeda única, contrária aos interesses nacionais, amarra o País à submissão e dependência externa”.
“A moeda única provoca desemprego, que mais do que duplicou, precariedade, empobrecimento, emigração, envelhecimento e desertificação do País. Em traços largos, dentro do Euro o País não cresce, ou cresce muito insuficientemente, não se desenvolve, não recupera o emprego e está à mercê dos especuladores, do BCE e das agências de notação. A adesão foi um desastre e a permanência é um desastre ainda maior”, acrescentou Jerónimo de Sousa. “Seria mais adequado, em concertação com outros povos europeus, a dissolução da União Económica e Monetária e medidas compensatórias para os países com maiores dificuldades no processo, mas ninguém pode ficar dependente dessa possibilidade. Por isso integramos a libertação da submissão ao Euro como componente da política patriótica e de esquerda que propomos ao País”.
Saída da União Europeia
Se em 2012 o PCP defendia um referendo sobre a saída da União Europeia (e também do Euro) – “O povo português nunca foi chamado para se pronunciar sobre instrumentos fundamentais que hoje condicionam a nossa soberania” -, nos últimos anos o partido tem sido mais contido nas declarações. Senão vejamos:
Em dezembro de 2016, em entrevista ao Diário de Notícias, João Oliveira disse: “Essa questão da saída da UE não é questão que esteja colocada no imediato. Naturalmente, a rutura com as imposições da UE, a rutura com a submissão a essas imposições e a essas decisões que são contrárias ao nosso interesse nacional não cria propriamente um quadro de reforço da nossa participação na União. Pelo contrário, aponta para um quadro de rutura que naturalmente tem de ser considerada num quadro mais vasto em que essa afirmação é feita.”
Já em 2019, questionado sobre se Portugal teria que sair da UE, João Ferreira explicou: “Não. Teria de confrontar a UE e alterar algumas das suas políticas. Mas a experiência da UE também nos mostra que tudo é um resultado de uma negociação constante. Para isso pesa muito a força de um país e de um povo empenhados em defender os seus interesses. Nós temos países que abertamente, até com governos com posições políticas diferentes, colocam em causa orientações da UE em relação ao défice e ao Pacto de Estabilidade. Isso mostra que apesar da UE ter regras que podem constringir a capacidade dos Estados, essas regras nunca estão inscritas em pedras sagradas, e que a ação dos povos e dos Estados pode forçar a alterar políticas.”
Num comunicado oficial do Partido em janeiro de 2020, a propósito da saída do Reino Unido da União Europeia, o PCP escreveu: “Este importante acontecimento é inseparável, e simultaneamente uma expressão, das contradições e profunda crise do processo de integração capitalista europeu, que cada vez mais se revela em confronto com os interesses e aspirações dos povos, crescentemente esgotado e incapaz de dar resposta aos problemas económicos, sociais e políticos que afectam vários países do continente europeu.”
Além disso, o Partido considerou que “a saída do Reino Unido da União Europeia representou um sério revés nas teorias da inevitabilidade e da irreversibilidade da União Europeia” e que constituiu “uma derrota para todos quantos tentaram, através de inaceitáveis pressões, chantagens e manobras, quer na União Europeia, quer no Reino Unido, contrariar a decisão soberana do povo britânico”.
Saída da NATO
Tal como já verificámos anteriormente, o PCP não defende explicitamente a saída da NATO, mas sim a dissolução da Aliança Atlântica: ao passo que no programa do Bloco de Esquerda, relativo à legislatura de 2022-2026, pode ler-se que “uma política externa assente nos direitos humanos e na solidariedade implica igualmente a rejeição da participação na NATO e nas suas operações militares”, o PCP, no programa eleitoral apresentado nas legislativas de 2022, defende “uma estratégia soberana de desenvolvimento e uma política externa não subordinada à agenda da União Europeia e da NATO e assente na paz e na cooperação”. No programa de 2019, os comunistas são ainda mais claros e no documento defende-se mesmo “a dissolução da NATO“.
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Avaliação do Polígrafo:
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