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| - “Agora vem a ‘flurona’. Mais uma variante para vacinas”, lê-se num dos posts em causa, datado de 2 de janeiro, precisamente o dia em que foi noticiada a identificação do primeiro caso de infeção dupla por gripe e Covid-19 em Israel.
O Ministério da Saúde de Israel confirmou que uma mulher grávida, não vacinada, testou positivo à gripe e à Covid-19, em simultâneo. A mulher tinha sintomas ligeiros da dupla infeção e teve alta depois de receber tratamento hospital.
Noutro post de 5 de janeiro no Facebook aponta-se no mesmo sentido de se tratar de uma nova variante do SARS-CoV-2, além da sugestão (através de um cartoon e emojis) de que serão necessárias mais vacinas: “Protejam-se. Variante Ómicron, Alfa, Beta, Gama, Mú, Delta, Variante Indiana, Britânica, do Brasil, de África do Sul, IHU, Flurona… Esqueci alguma?”
Essa ideia tem algum fundamento científico?
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), é normal que os vírus mudem e evoluam à medida que se propagam entre as pessoas, ao longo do tempo. Quando estas alterações se tornam significativamente diferentes do vírus original, são conhecidas como variantes. Para identificar essas variantes, os cientistas estruturam o material genético dos vírus e depois procuram as diferenças entre eles para ver se houve alterações. Desde que a Covid-19 tem vindo a espalhar-se, surgiram e foram identificadas variantes em vários países.
No entanto, neste caso, não se trata do surgimento de uma nova variante. A “flurona” é o termo usado para o contágio duplo com Covid-19 e a gripe (“flu“, em inglês) – causada pelo vírus influenza.
Questionado pelo Polígrafo, Paulo Paixão, presidente da Sociedade Portuguesa de Virologia, confirma que a “flurona” não tem nada que ver com uma nova variante e garante que situações como esta são normais. “Uma pessoa ter gripe e ter outro vírus respiratório sempre aconteceu. Nunca tivemos propriamente a noção de ser muito mais grave, mas temos de garantir que não seja”, afirma.
“Ponto um, se a pessoa for duplamente infetada poderá realmente piorar o quadro, mas neste momento ainda não temos nenhuma evidência disso. Ponto dois, as pessoas mais suscetíveis às complicações estão vacinadas na sua maioria, quer para uma coisa, quer para a outra. E também é pouco provável que haja assim tantos os casos de infeção dupla. É um azar, porque mesmo que haja muitos casos de Covid-19, e pelas últimas estimativas vamos ter realmente imensos, não sabemos se com a gripe vai ser assim”, explica o virologista.
Como é que se sabe se é Covid-19, gripe ou ambos?
Segundo o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos da América (EUA), tanto a Covid-19 como a gripe podem ter vários graus de sinais e sintomas, que vão desde nenhum sintoma (assintomático) a sintomas graves. Ambos têm vários sintomas em comum, como a febre, a falta de ar (ou dificuldade em respirar), dores musculares, dores de cabeça, entre outros.
No entanto, Paulo Paixão chama à atenção para a questão dos sintomas, pois “mesmo isoladamente, nós já não conseguimos distinguir uma da outra. A história da anosmia – o sabor e o cheiro – mesmo agora com a Ómicron já não é muito frequente”.
Assim sendo, é recomendado que continuem a ser feitos os testes à Covid, analisados em laboratório, e existem testes que detetam ao mesmo tempo a Covid-19 e a gripe. Contudo, esta é uma hipótese que, neste momento, não se justifica adotar com frequência, de acordo com o presidente da Sociedade Portuguesa de Virologia.
Paulo Paixão defende que fazer este tipo de testes teria algum interesse apenas em “casos particulares, que se justifiquem ou pela gravidade ou se a pessoa esteve em contacto com uma pessoa com gripe e Covid-19, e outra com apenas Covid-19, por exemplo”.
Em suma, é falso que a “flurona” seja uma nova variante do SARS-CoV-2. As variantes surgem quando há alterações significativas na composição de um determinado vírus, mas neste caso trata-se da infeção dupla por dois vírus distintos.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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