schema:text
| - “Portugal tem praticamente a menor/melhor taxa de letalidade do mundo por Covid-19!! Portugal continua a fazer milagres no que toca às consequências epidemiológicas a nível global! […] Superando mesmo todas as potências mundiais que possuem recursos e infraestruturas hospitalares muito superiores! Melhor que países como a Alemanha, Estados Unidos, França, Reino Unido, Austrália, China, etc.”, pode ler-se no texto em análise.
De seguida, apresentam-se as supostas taxas de letalidade por Covid-19 de alguns países: “China: 5,3%; Itália: 4,2%; Reino Unido: 4%; Suécia: 3,5%; Austrália: 3,2%; Espanha: 2,7%; Bélgica: 2,6%; Estados Unidos: 2,3%; França: 2,3%; Países Baixos: 2%; Alemanha: 1,7%; Portugal: 1,6% [um milagre]”.
Confirma-se que o país tem mesmo “praticamente a menor/melhor taxa de letalidade do mundo” por Covid-19?
Em primeiro lugar, importa definir taxa de letalidade. De acordo com a Direção-Geral da Saúde (DGS), a taxa de letalidade representa o “indicador que mede a gravidade de uma doença, correspondente à proporção de óbitos num grupo de doentes com determinada patologia e num período de tempo bem definido”. O seu valor calcula-se através da divisão do número de mortes pelo total de casos diagnosticados.
As taxas de letalidade por Covid-19 referidas na publicação analisada estão corretas – em alguns casos, existem variações de uma décima para cima ou para baixo que podem estar relacionadas com uma atualização dos dados entre a data em que o texto foi partilhado no Facebook e a análise do Polígrafo – e é verdade que Portugal possui neste momento uma letalidade de 1,6%, tal como se pode confirmar na página da Universidade John Hopkins que agrega dados de 169 países consoante os casos confirmados, óbitos, taxas de letalidade e mortos por 100 mil habitantes.
Contudo, não se pode dizer que Portugal tem das menores taxas de letalidade do mundo relativamente à infeção provocada pelo SARS-CoV-2. Há 71 países com um valor igual ou inferior ao de Portugal, 13 dos quais pertencem à União Europeia: Chipre (0,5%), Lituânia (0,8%), Luxemburgo (0,8%), Letónia (1,1%), Estónia (1,1%), Malta (1,2%), Croácia (1,2%), Dinamarca (1,3%), Eslovénia (1,3%), República Checa (1,3%), Grécia (1,4%), Polónia (1,4%) e Alemanha (1,6%). Este último país aparece na publicação em análise como tendo um pior resultado (1,7%) que Portugal, mas esse valor está incorrecto.
Numa altura em que o número de casos positivos tem subido de forma constante em Portugal, Ricardo Mexia, epidemiologista e presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANMSP), explica ao Polígrafo que, “na teoria, o maior ou o menor número de casos não influencia a letalidade, ou seja, o número de óbitos entre os casos. Podemos ter uma taxa de letalidade regular tendo 100 ou 10 mil casos”.
Mexia destaca que a forma como se gere a pandemia é um fator importante para a redução da letalidade e que “a tendência é esta baixar à medida que se forem gerindo melhor os casos”. Ainda que não haja nenhuma cura, ressalva, “hoje a doença é mais bem gerida do que em março” e “são oferecidos melhores cuidados aos doentes em virtude de se conhecer melhor a Covid-19″.
O facto de se estar a testar mais hoje do que no início da pandemia também desempenha um papel importante para o valor baixe, de acordo com o epidemiologista. “O número de casos desconhecidos da doença é mais baixo hoje do que era em março. Na altura diagnosticávamos maioritariamente os casos mais severos, o universo de diagnóstico era menor, o que se traduzia numa taxa de letalidade maior“, defende.
Ainda assim, alerta Ricardo Mexia, a taxa de letalidade poderá aumentar “se deixarmos de conseguir oferecer melhores cuidados de saúde aos doentes, se houver um racionamento de ventiladores e camas em Unidades de Cuidados Intensivos ou um aumento desproporcional de óbitos”.
__________________________
Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
|