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| - O que estão compartilhando: que a presidente do México, Claudia Sheinbaum, seria a autora de um texto viral endereçado ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O texto seria uma resposta à proposta de Trump para ampliar a construção de um muro na fronteira. A mensagem sugere a substituição do consumo de produtos americanos por aqueles feitos em outros países.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. O texto que agora é atribuído a Claudia Sheinbaum já circula na internet ao menos desde 2016. Naquele ano, ele era assinado por “Cordialmente, o resto do mundo”. Desde então, já viralizou em diversas línguas como espanhol, inglês, francês e português. Não há indícios de que ele tenha sido inicialmente escrito por Sheinbaum.
Saiba mais: O texto diz que a construção de um muro na fronteira com o México causaria prejuízos econômicos aos Estados Unidos. Sugere que a população mundial de mais de 7 bilhões de pessoas, que não mora nos EUA, deixe de consumir marcas americanas.
Texto circula na internet ao menos desde 2016
O Estadão Verifica fez uma busca por trechos do texto em português, inglês e espanhol. O conteúdo circula no Facebook ao menos desde abril de 2016. Naquele ano, Trump prometeu ampliar o muro na fronteira com o México se eleito. A publicação foi feita por um usuário chamado Saul Lara Arrieta, em 8 de abril de 2016. Começava com o seguinte parágrafo:
“Então vocês votaram para construir um muro... Bem, meus queridos americanos, mesmo que vocês não entendam muito de geografia, já que para vocês a América é o seu país e não um continente, é importante que, antes de colocar os primeiros tijolos, vocês descubram o que estão deixando do lado de fora desse muro”.
O texto terminava assinado em inglês por “The rest of the world” (“O resto do mundo”, em tradução livre). E pedia para ser compartilhado com 12 pessoas.
Não houve nenhuma interação com a publicação de 2016. No ano seguinte, o texto foi compartilhado por diversos outros usuários. A situação se repetiu até 2021. Em 2025, o texto voltou a viralizar. Dessa vez, como se fosse assinado por Claudia Sheinbaum, depois de Trump tomar posse em seu segundo mandato e voltar a focar atenção no muro fronteiriço.
Sheinbaum é contra o muro, mas não há registro de que seja autora de texto
O Estadão Verifica não encontrou nenhum registro na imprensa profissional de que o texto seja da autoria de Claudia. Ele também não foi publicado nas redes sociais da presidente (confira aqui).
Desde a posse de Donald Trump, a presidente mexicana se posicionou contra decisões do norte-americano. Ela já declarou oficialmente que a economia dos Estados Unidos não seria a mesma sem o povo mexicano. Em entrevista coletiva no dia 22 de janeiro, disse que conversou com o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, e que trataram do tema da imigração. Segundo Sheinbaum, a dignidade do povo mexicano é prioridade. “O México está vivendo um momento estelar. Sem os mexicanos, a economia dos Estados Unidos não seria o que é.”
Claudia também reagiu à declaração de Trump de que o governo mexicano tem ligação com organizações criminosas. Disse que grupos criminosos mexicanos compram armas de uso exclusivo do Exército norte-americano. Segundo ela, um documento do Departamento de Justiça dos EUA apontou que 74% das armas usadas por organizações criminosas no México provêm ilegalmente da indústria militar dos EUA.
Em entrevista coletiva no dia 10 de fevereiro, a presidente foi questionada se o México pagaria pela construção do muro entre os dois países e riu antes de responder que não. “Claro que não, esta é uma decisão com a qual não concordamos. Recentemente, a ponte de Nuevo Laredo foi inaugurada, mas não pude comparecer. Essa nova ponte em Nuevo Laredo para a ferrovia que transporta mercadorias da região central do México para o Canadá é um bom símbolo de que precisamos construir pontes e não muros”, declarou.
Trump entregou fragmentos de muro no primeiro mandato
A construção de um muro na fronteira dos Estados Unidos com o México não é uma promessa recente. Em 2016, na campanha para o primeiro mandato como presidente, Trump prometeu erguer um muro nos 3.142 quilômetros de extensão da fronteira e promover uma deportação em massa. Depois, disse que faria muros de diferentes tipos em metade da fronteira, e que a natureza se encarregaria do restante.
Em 2019, uma reportagem do Washington Post disse que seriam necessários dez anos e US$ 25 bilhões para construir o muro. Quando Trump deixou o governo, em janeiro de 2021, tinham sido construídos 727 quilômetros, mas a maior parte correspondia a substituições e reparos em estruturas já existentes.
O ex-presidente Joe Biden mandou suspender a obra no primeiro dia de mandato, em 20 de janeiro de 2021. Em março daquele ano, era possível ver diversos fragmentos de muros ao longo de boa parte da fronteira. Em dezembro do ano passado, após ser eleito, Trump disse que vai continuar a construção do muro.
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