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  • “E muito dinheiro a ganhar a muitas pessoas”, acrescentou Sofia Afonso Ferreira, no post datado de 8 de junho, para depois concluir: “Nas próximas eleições, não seja animal“. Confirma-se que o partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) aprovou uma moção no sentido de implementar uma alimentação 100% vegetariana para cães e gatos que “prejudica gravemente os animais“? Sob o mote “Semear o Futuro”, no VIII Congresso do PAN, realizado entre os dias 5 e 6 de junho na cidade de Tomar, a maior parte das moções apresentadas visava promover o bem-estar animal. Uma dessas moções, aprovada pelos congressistas, pugnava pela “garantia de uma alimentação equilibrada e de qualidade de base 100% vegetal nas rações para animais de companhia“. O Polígrafo analisou a moção setorial em causa, na qual se começa por salientar que “em Portugal, cerca de metade dos lares têm, pelo menos, um animal de companhia. A tendência indica que esse valor tem vindo a aumentar, de acordo com o estudo realizado em 2015 pela GFK. Ou seja, estima-se que cerca de 2,151 milhões dos lares portugueses – 56% – possuem pelo menos um animal de estimação. O estudo aponta para que existam também em Portugal cerca de 6,7 milhões de animais de estimação“. “É inevitável que o contínuo aumento do número de animais de companhia provoque impactos negativos, derivados das suas fontes de alimentação. Os nossos melhores amigos de quatro patas são alimentados no geral por produtos/rações de origem animal. Desta forma, contribuem inevitavelmente para a indústria da carne que o PAN, logicamente, muito questiona: tanto pelas incontornáveis questões ambientais, como de saúde e obviamente éticas, relacionadas com a exploração e sofrimento animal“, sustenta-se no documento. “Embora existam menos gatos e cães domesticados do que pessoas no mundo, os animais de estimação consomem cerca de um quinto da carne e peixe do mundo, segundo o estudo ‘Environmental impacts of food consumption by dogs and cats’ de 2017. Ou seja, tal como os humanos, também os hábitos alimentares dos nossos animais de companhia contribuem para uma maior pegada carbónica, um uso excessivo do uso da terra e da água, a queima de combustíveis fósseis e o uso de pesticidas altamente tóxicos que podem afetar o ambiente natural”, realça-se. Nesse sentido, a moção questiona sobre se será “coerente promover o aumento do número de animais de companhia, que por sua vez se alimentam de outros animais, quando disto resulta o favorecimento da indústria da carne e de todos os malefícios que consensualmente reconhecemos: ambientais, éticos e de saúde?“. Questionado pelo Polígrafo sobre esta matéria, o bastonário da Ordem dos Veterinários, Jorge Cid, indica que “do ponto de vista das possibilidades, há a possibilidade de se fazer uma refeição vegetariana. Nos gatos mais dificilmente do que nos cães. Agora, poderá eventualmente não fazer muito sentido. Mas no plano das possibilidades ela existe, desde que haja muito cuidado de se aportar todos os nutrientes necessários a cada espécie, neste caso no cão e no gato”. A medida pode “não fazer muito sentido”, adverte Jorge Cid, porque “essa alimentação até ficará bastante mais cara, à partida”. Ainda assim, “há investigação nutricional e já existem empresas a tentar fazer alimentações, sobretudo para os cães, vegetarianas“. Significa isto que “é possível” fazer uma alimentação vegetariana, desde que seja “extremamente equilibrada e que aporte as necessidades alimentares desses animais”. Esta é precisamente uma das preocupações expressas na moção do PAN, apontando para “o elevado preço tem sido um obstáculo a que cada vez mais pessoas possam adquirir estas rações”. Por isso mesmo é que os subscritores da moção solicitaram ao PAN um posicionamento no sentido de “contribuir para a redução do preço de venda ao público das rações vegan existentes no mercado, através da reavaliação e redução de impostos relacionados com a aquisição das mesmas, tanto no IVA como em sede de IRS”. Por outro lado, o bastonário da Ordem dos Veterinários alerta para o perigo de uma alimentação vegetariana assegurada por um particular, defendendo a necessidade de estudos e de produção de rações por nutricionistas. “É difícil um particular, ora pega ali em couves, alfaces e outras coisas, alimentar um animal. Não, tem que ser uma alimentação adequada, que junte muitos elementos nutricionais para equilibrar”, conclui Jorge Cid. Igualmente questionada pelo Polígrafo, a médica veterinária Mariana Novo explica que “se se quiser fazer uma alimentação verdadeiramente vegetariana para o cão e para o gato”, então a sua resposta é “não, não pode. Sobretudo o gato, porque entre o cão e o gato, o cão é menos carnívoro do que o gato. Portanto, o gato é verdadeiramente carnívoro e no cão pode ali haver um balanço e até a possibilidade de ele poder ingerir outras coisas além da carne, isto em natureza”. No entanto, a veterinária entende que “se estivermos a falar de rações que são formuladas com ingredientes vegetais e que depois na composição têm teores proteicos e de outros nutrientes de que o carnívoro necessita, então aí estamos a falar de uma comida que é manipulada para se vender como vegetariana mas que, na verdade, é uma comida que é feita para um carnívoro“. Este é também um fator tido em conta na moção em causa do PAN, ao referir que é “unânime” considerar que a “comida saudável para um animal de companhia deve ser aquela que é completa, adaptada e adequada às suas necessidades e que, em última análise, o fundamental é garantir que através da alimentação os nossos animais de companhia mantenham, em qualquer fase das suas vidas, um óptimo estado de saúde e que recebam todos os nutrientes, aminoácidos, proteínas e vitaminas de que necessitam”. “Contextualizando, será bom lembrar que os cães são carnívoros facultativos. Isto quer dizer que vivem bem sendo omnívoros, comendo de tudo um pouco. Os gatos, por sua vez, são considerados carnívoros obrigatórios, ou seja, precisam de ingredientes que normalmente estão apenas disponíveis na carne”, ressalva-se na moção, questionando contudo se “será mesmo assim”. “A taurina, que é fundamental para cães e ainda mais para os gatos, já é sintetizada em laboratório e, na verdade, uma boa parte da taurina presente na composição das rações convencionais é sintetizada, já que este processo tende a ser mais barato. Quanto aos restantes macronutrientes, aminoácidos e minerais, todos eles podem ser encontrados nas rações vegan, embora nem sempre nas quantidades adequadas, como revelam alguns estudos, o que não inviabiliza esta opção alimentar, apenas revela a necessidade de os produtores das rações cumprirem com as diretrizes internacionais em termos de quantidades necessárias e adequadas por doses de alimentação”, sublinha-se. “Uma dieta vegetal não é anti-natural. (…) Alimentar um gato de forma vegetariana não é impor as nossas crenças, é tomar uma decisão, assim como decidimos tirá-los do canil ou da rua, para morar no nosso apartamento ou nos preocupamos em colocar mosquiteiros nas janelas para evitar um acidente”, defende-se na moção do PAN. Em suma, a moção existe e foi aprovada no Congresso do PAN, mas não se trata de propor uma alimentação 100% vegetariana para cães e gatos que “prejudica gravemente os animais”. Na realidade, a moção pugna pela “garantia de uma alimentação equilibrada e de qualidade de base 100% vegetal nas rações para animais de companhia“. Em vários pontos do texto, aliás, defende-se uma alimentação saudável, completa e adequada aos animais de companhia. Pelo que a alegação sob análise não tem fundamento, deturpando o objetivo expresso na moção. ________________________________________ Avaliação do Polígrafo:
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