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  • A questão foi levantada através de um meme com a seguinte mensagem: “Nos últimos quatro anos, o número de sem-abrigo aumentou 150%“. Na mesma composição gráfica surge uma fotografia de Pedro Passos Coelho ligada a um balão de diálogo, como se fosse o antigo primeiro-ministro a dizer ou a pensar: “Já sei, António Costa, vais dizer que a culpa é minha”. Esta alegação tem sustentação factual? Por um lado, é verdade que, no início deste ano, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) tornou público um relatório indicando que, em apenas quatro anos, o número de pessoas sem-abrigo aumentou 157% em território nacional, conclusão que terá servido de base à construção do meme cuja informação aqui se verifica. No entanto, os dados do relatório da OCDE não se referem aos últimos quatro anos, mas sim a um período de quatro anos compreendido entre 2014 e 2018. Sendo assim, ao contrário do que se alega na publicação, o aumento exponencial do número de pessoas sem-abrigo não aconteceu entre 2016 e 2020. De qualquer modo, contactado pelo Polígrafo, o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social nega a conclusão apresentada pela OCDE: “O relatório continha, na versão original, uma incorreção, por comparar universos que não eram comparáveis. Os dados relativos a 2014 não incluem concelhos como Lisboa, Porto, Braga ou Seixal, que concentram um grande número de pessoas em situação de sem-abrigo, daí que existisse essa variação tão elevada” face a 2018. De facto, numa versão da tabela com a estimativa de pessoas em situação de sem-abrigo nos países da OCDE, atualizada em março deste ano, a organização ressalva que os dados em Portugal não são comparáveis entre 2014 e 2018, uma vez que, nos anos anteriores a 2017, os números não incluíam todo o território nacional. Além disso, também a versão atualizada do relatório em causa deixa de fazer referência à tal percentagem de 157%. Ainda assim, a tendência de crescimento acentuado no número de sem-abrigo em Portugal é verdadeira. Os últimos dados da OCDE, de 2018, revelavam que, em todo o país, existiam 4.414 pessoas sem tecto. Por sua vez, os números publicados pela Estratégia Nacional para a Integração de Pessoas em Situação de Sem-Abrigo (ENIPSSA) dão conta que, no final de 2019, contavam-se no território nacional 7.107 pessoas em situação de sem-abrigo. O Polígrafo contactou José Lopes, da Comunidade Vida e Paz, uma organização que apoia pessoas em situação de pobreza e de exclusão social, que confirma esse aumento, especialmente crítico nos últimos meses, também devido à crise provocada pela Covid-19: “Há não só um crescimento no número de pessoas a estarem na rua, como também uma diversificação da tipologia de pessoas que vêm até nós, nas carrinhas. São pessoas a quem não estávamos habituados, com histórias novas, porque não vêm de um passado com drogas, consumo de álcool ou outro tipo de patologias. O que acontece é que são, cada vez mais, pessoas que perderam os seus trabalhos, os seus negócios… E estão em bloco, ou seja, em família”. Em conclusão, é imprecisa a alegação de que, nos últimos quatro anos, o número de sem-abrigo em Portugal aumentou 150%. De facto, um relatório da OCDE indica que a quantidade de pessoas sem tecto aumentou nesta percentagem, mas num período compreendido entre 2014 e 2018 e não nos últimos quatro anos. Ainda assim, os números de 2014, que serviram de base ao cálculo da percentagem em causa, não englobam todo o território nacional, o que põe em causa a fiabilidade da conclusão apresentada pela OCDE. De qualquer modo, confirma-se a tendência de aumento, nos últimos anos, do número de pessoas sem tecto. __________________________________________ Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social. Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é: Parcialmente falso: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta. Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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