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| - Parece mentira, mas é verdade: pela primeira vez na história, um robot escreveu uma peça de teatro. Tem a duração de 60 minutos e intitula-se “Inteligência Artificial: quando um robot escreve uma peça de teatro”. O enredo trata, precisamente, a aventura de uma máquina que entra no mundo humano para aprender sobre a sociedade, as emoções e até a morte.
«É uma espécie de ‘O Principezinho’ futurista», conta David Kostak, que supervisionou a criação na Universidade Charles em Praga, à revista “Science”.
A peça foi escrita por um sistema de inteligência artificial chamado GPT-2, um computador desenhado para gerar texto a partir de informação existente na Internet. A tecnologia tem sido usada para criar pequenas histórias, poemas e até notícias falsas.
No caso da peça de teatro, os investigadores introduziram um primeiro estímulo no sistema – duas frases de um diálogo – em que duas personagens conversam sobre experiências e sentimentos humanos. Depois, o robot gerou mil palavras de texto.
O resultado final está ainda longe de uma obra de William Shakespeare pois, depois de algumas frases, o programa começa a escrever trechos que nem sempre seguem uma narrativa lógica, ou apresenta frases que contradizem outras passagens do texto. A explicação reside no facto de a máquina esquecer que a personagem principal é também uma máquina: “Às vezes, o robot muda de masculino para feminino a meio do diálogo”, detalha Rudolf Rosa, linguista computacional da Universidade Charles, que começou a trabalhar no projeto há dois anos.
Além disso, a explicação para a falta de coerência do texto também está relacionada com a circunstância de o programa não reconhecer o significado das frases. “Apenas agrega palavras que costumam ser usadas juntas, umas a seguir às outras”, explica Chad DeChant, especialista em inteligência artificial na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos.
Para garantir que a obra teria a maior fiabilidade possível, a equipa de investigadores que dirigiu o projeto não deixou a máquina escrever de uma forma absolutamente livre. Dividiu a peça em oito cenas, cada uma com menos de cinco minutos e apenas com um diálogo entre duas personagens. No final, 90% da obra foi criada pelo robot, 10% resultou da intervenção humana.
Tendo em conta todas as condicionantes, a peça resulta num enorme desafio para atores e público. A inteligência artificial não é perita a encenar as ações e as emoções necessárias para uma peça de teatro e o texto brinca com a morte e inclui sexo e violência.
David Kostak garante, no entanto, que a responsabilidade do teor da obra não é do computador: “A inteligência artificial reflete apenas o que as pessoas escrevem na Internet, sem filtro ou vergonha. É como uma criança que ouve os pais em casa a falar sobre algo que não discutiriam em público, e depois vai para a escola contar o que ouviu em casa”.
No final, 90% da obra foi criada pelo robot, 10% resultou da intervenção humana
Os investigadores estimam, assim, que ainda são precisos cerca de 15 anos para que a tecnologia seja apurada o suficiente para gerar um texto complexo e coerente como uma peça de teatro, do início ao fim. De qualquer forma, a conquista tecnológica é notável: “Há dez anos, só era possível gerar uma frase que parecesse uma frase, com muita sorte”, conclui Rudolf Rosa.
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Avaliação do Polígrafo:
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