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| - Tendo por base uma suposta notícia do jornal britânico “The Independent”, uma publicação de 4 de março, divulgada no Facebook, alerta para o facto de um navio-tanque russo que transportava gás natural não ter sido descarregado pelos estivadores britânicos em Kent, no Sudeste da Inglaterra. Por outro lado, critica-se, Portugal terá recebido gás natural russo nesse dia.
Ora, recuando até ao dia 28 de fevereiro, o jornal “Expresso” informou então que Portugal iria voltar a receber gás natural da Rússia no dia 4 de março. “Depois de quatro meses sem receber gás russo, o terminal de Sines voltará, esta semana, a acolher um navio proveniente da Rússia, na primeira descarga de gás desta origem desde que a Ucrânia foi atacada e a Rússia alvo de um conjunto de sanções económicas. O navio chama-se ‘Vladimir Vize’, transporta gás natural liquefeito (GNL), e tem chegada prevista a Sines na próxima sexta-feira, 4 de março. Será a primeira descarga de gás russo em Portugal em mais de três meses”, lê-se no artigo.
Em 2020, e segundo esta infografia do Eurostat, o gás natural importado por Portugal tinha origem maioritária na Nigéria, seguida pelos Estados Unidos da América (EUA) e só depois pela Rússia. O cenário é parecido para países como a Alemanha, a França e a Itália, onde a Rússia estava pelo menos nas três primeiras posições de fornecedores de gás natural em 2020.
Ainda assim, é um facto que em Portugal o gás proveniente da Rússia representava, em 2020, apenas cerca de 9,7% de todas as importações. Na verdade, quase 54% do gás natural importado por Portugal vem da Nigéria, o principal fornecedor do país também em 2019. Com apenas 19% do peso das importações portuguesas estão os EUA, seguindo-se a Rússia e a Argélia.
De acordo com dados da REN, citados pelo jornal “Expresso”, outubro de 2021 foi o último mês em que o sistema nacional de gás natural recebeu gás russo. Nesse mês, 26,5% do gás natural importado por Portugal veio da Rússia, 50,7% da Nigéria e 14,6% dos EUA.
O navio-tanque “Vladimir Vize” atracou no último sábado no Porto de Sines, para descarga de gás natural, numa ação contestada pelo movimento Climáximo que exigia a rejeição do carregamento de gás por parte da autoridade portuária.
E quanto ao Reino Unido, o que aconteceu realmente? De acordo com o jornal “The Independent”, em notícia de 4 de março, os estivadores britânicos não descarregaram um navio-tanque russo com gás natural que chegou ao Porto de Kent, “forçando-o a atracar noutro lugar”. O navio “transportava gás natural liquefeito” e os trabalhadores portuários recusaram descarregá-lo como demonstração de solidariedade para com a Ucrânia.
Atualmente, no Reino Unido, está em vigor uma proibição do Governo relativamente a todos os navios associados à Rússia e que cheguem aos portos britânicos. Ainda assim, informa o mesmo jornal, a proibição “não se aplica à origem da carga“.
Em declarações ao jornal “The Guardian”, a 3 de março, Matt Lay, sindicalista do Unison, defendeu que o Governo britânico tem que corrigir esta falha na lei o mais rapidamente possível: “Embora pareça que a intervenção do sindicato tenha sido bem-sucedida, com os navios a serem rejeitados, há um problema fundamental que permanece. O Governo deve agir imediatamente para impedir que mercadorias russas continuem a chegar ao Reino Unido sob a cobertura de outros países.”
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Avaliação do Polígrafo:
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